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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

2019 - o ano que sobrevivemos bravamente

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2019. Ano regido por Ogum, um ano segundo as "previsões astrais" que prometia muitas batalhas, muitas lutas, um ano muito competitivo, onde só chegaria aos seus objetivos finais quem lutasse muito, que realmente quisesse buscar seu caminho e tivesse disposição para isso. A humanidade menos tolerante, ano que pedia calma e cautela. Literalmente um ano para ter força e atitude.
2019 está de partida, e acredito que a força de Ogum se fez presente. Em mim essa "previsão" cabe muito. Eu lutei com unhas e dentes para defender minhas ideias e conquistar meus objetivos sem medo. Tive inúmeros desafios e provações, teve um momento que achei que não aguentaria, que teria um AVC ou algo assim de tanto que meu mental trabalhava com estratégias para literalmente sobreviver. Sobrevivi! Realizei sonhos, trabalhei com inúmeras pessoas, alunos, empresas, viajei muito com meu trabalho, escrevi muito, bebi mais café que os últimos 10 anos juntos. Perdi 30kg conscientemente. Fui eu mesma! Que ano senhoras e senhores, que ano!
Um ano que ri mais e chorei bem menos (graças a deus). 
Cada ciclo traz novidades e aprendizados para nossa vida. Uma nova etapa em nossas vidas irá começar com a virada do ano, e isso faz com que até os padrões energéticos se alterem. Assim algumas coisas podem sair do planejado nos deixando um pouco em dúvida do que faremos se tudo será novo de novo? A questão não é a virada em si, a cor da calcinha, pular ondas ou comer uvas. A questão é, o que queremos com todo nosso coração, com quem queremos estar de verdade, quem estará conosco quando nem nós nos suportamos.
Para 2020 as "previsões" são interessantes: sucesso para quem souber exercer a sua individualidade com nobreza de ação e sentimentos. Isso porque o seu regente, será o Sol .Patrono da criatividade, o nosso astro-rei também inspira a procura por identificação e destaque social, desde que tudo isso tenha objetivos mais abrangentes, indo além da superficialidade, para inspirar a busca por um propósito maior para a realização pessoal.
O ano de 2020 estará sob as energias dos Orixás Iansã, a senhora dos ventos e tempestades, e de Iemanjá, a grande mãe e senhora de todas as águas. A junção destas duas mãe rainhas, influenciará na confiança, autoestima e fará com que todos compreendam que a disposição aliada à ação, poderão tornar o mundo melhor. Iansã domina a lealdade e Iemanjá o consenso, portanto o ano que vem a confiabilidade das pessoas será hipervalorizada.
Eu particularmente adoro e estudo previsões, como o teatro é ritualístico, energias, pessoas, orações, sensações e intuições são levados muito a sério por nós.
Que em 2020 tenhamos menos extremismos e "umbiguismos" e pensemos com amor e afeto no coletivo. Que as redes sociais sejam usadas com sabedoria e não como uma máquina disparadora de ataques. Que nosso país tome prumo, tome jeito, que esse presidente que não consigo mais falar o nome, tenha o bom senso e autoanalise para entender que ele não sabe o que faz, está mal ascessorado e devia pensar seriamente em rever suas prioridades... (estou sendo elegante para não encher meu último texto de palavrões e energia ruim deste ser que estragou o ano de milhões de brasileiros assim como tantos outros políticos do passado e provavelmente e infelizmente do futuro).

Eu tenho sonhos. Realizei muitos e tenho outros tantos para realizar. Viajei e vou viajar mais. Tomei decisões que não gostaria de ter tomado, mas tomei e foi melhor assim. Para não brigar diversas vezes me afastei ou sorri com cara de paisagem e saí de perto. Não gasto mais energia e verbo com quem não quer ouvir, tampouco se ajudar. Me reaproximei de amigos queridos, me afastei de outros amigos queridos que nem eram tão queridos. Fiquei bem comigo. Me amei, me cuidei, me protegi. Tentei ao máximo vigiar pensamentos, mas teve momentos que pensei muita merda sim. Chorei pouco mordendo o travesseiro. Não fiz tanta merda, as poucas que fiz imediatamente tentei consertar, pedi desculpas e revi onde errei.
2019 pra mim foi sensacional, de verdade apesar de tudo. Muito a agradecer e pouco a reclamar. Muita coisa saiu do papel e virou realidade. Muitas surpresas boas no caminho. Muita conversa séria que rendeu liberações de tensões. Me aproximei do meu pai que achei que não seria possível nessa vida por todas as agressões verbais do passado. Amei mais minha mãe, que até foi me assistir no teatro depois de pelo menos 15 anos (eles nunca assistiam nada meu). Tentei ser a melhor mãe que pude, tentando ensinar minhas filhas a serem corajosas, enfrentarem seus medos, a serem verdadeiras. Também fui verdadeira com elas todas as vezes que coisas ruins aconteceram. A minha libriana com espírito sábio está  na Dinamarca, sei  que não está fácil, mas vai ser libertador pra ela, depois de todos os enfrentamentos. Acredito e confio! Minha pequena pisciana está comigo, estravasando emoções sem medo, uma sabedoria milenar e muita luz própria. Dois presentes dessa vida incríveis, e só posso agradecer ser mãe de duas incríveis almas que tanto me auxiliam na minha evolução diária. Trabalhamos em equipe por aqui.

Eu desejo a todos, de verdade, que me leem , que me seguem, que assistem minhas peças, que compram minhas ideias, que leem meus livros, que chamam para treinamentos empresarias, ou que simplesmente me mandam coisas ruins e pensam bobagens... desejo  em dobro para vocês tudo que me desejam, porém com olhar amoroso. Sem rancor, sem vingança escorpiana. Sigam seus caminhos, se apropriem de suas histórias, coloquem as mãos "na caixa de gordura emocional", mexam nas emoções contidas. Libertem-se! Sejam a melhor e mais original versão de vocês. Não copiem, se reinventem! Tenham fé na vida e no que são capazes de fazer. Voem longe. Abram asas enquanto ninguém as podem...
Feliz 2020 comunidade. Feliz 2020 meu pais amado com tanta gente linda e diversificada. Feliz 2020 meu Rio Grande do Sul, sejamos bravos professores, não fugiremos a luta apesar de tudo. Feliz 2020 Canela, cidade que escolhi para morar mas que não quero mais trabalhar. Cumpri minha missão por aqui e desejo que você brilhe muito mas não perca sua identidade e memória. Feliz 2020 família Berti, família Silveira, família Vázquez, família Estrella. Não posso não desejar coisas boas ao sangue que também corre em minhas veias e das minhas filhas.
Feliz 2020 palcos do mundo, atores do mundo, dramaturgos do mundo, artistas do mundo. Seguimos firmes, com propósito. Nada nem ninguém nos impedirá de sonhar e realizar com Arte! NADA!
2020! To te esperando com café pronto, bem passado, sentadinha. Vamos começar os trabalhos, meu amigo?


segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O bastidor dos bastidores




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Participar de um set de um longa nunca esteve nos meus planos, mesmo já feito preparação de elenco para curtas e atuado como atriz e sido premiada em curtas do RS (sem ego algum aqui, apenas comentando). Se fosse trabalhar com a sétima arte seria para escrever ou preparar elenco, talvez, bem talvez, atuar. Como disse esse amor à sétima arte nunca me moveu.
Recentemente fui chamada para fazer a preparação de um grande elenco de SP e RJ para o longa Entre Dois Mundos com direção de Wather Netto, que já havia conhecido há muitos anos em Gramado no Natal Luz e havíamos trabalho juntos em alguns eventos e que também, recentemente transformamos a peça Sonhos em filme. A primeira surpresa foi o diretor insistir para que fosse eu, mesmo com tantas opções no eixo RJ e SP. O segundo desafio foi conciliar toda a vida aqui no Sul, com minha filha mais velha indo para a Dinamarca no mesmo período e a mais nova, ajustando-se com a avó. Dois corações! Mas coragem e organização nunca me faltaram e depois de vários ajustes de datas e pedidos de socorro para amigos que dessem aula para mim como Guigo, Jeber, Paty Viale, Vanessa e Rita, lá fui eu "bem louca" como dizemos aqui no Sul.
Em momento algum pedi e sabia qual era o elenco, até eles chegarem para a preparação e comecei a me deparar com gente muito talentosa, outras inspiradoras que me deixaram com friozinho na barriga. A primeira pergunta interna: "O que posso passar a eles que seja realmente útil?" Fugindo do auto boicote decidi que iria realizar meu trabalho da melhor forma possível sem me preocupar em provar nada para ninguém. Segui a minha velha e fiel intuição.
O começo foi difícil, teve olhadas de cima a baixo, teve perguntas do tipo "Onde é Canela?", "Tu já fez cinema?", "Quantos filmes já fez preparação de elenco?". Eu sorria, dizia a verdade e sempre comentava, vão conhecer meu trabalho na prática.
Preparava o ambiente, me concentrava e começava. Já no primeiro dia uma catarse, avisei o elenco como trabalhava e que antes de preparar o personagem trabalharia eles, pessoa física... e que ninguém podia ir embora com mal estar ou dor física. Que me falassem tudo o que sentiam. Foi tão lindo, tão forte...difícil explicar. Consegui lá o mesmo que consegui em Canela, no Peru, com muita gente ou pouca, consegui chegar onde queria com amor e sensibilidade. Virei o jogo! As mesmas pessoas que me trataram com desdém no início logo vieram trocar ideias, me abraçaram disseram que não estão acostumados a preparadores assim, que sobretudo se preocupem com as finalizações. Na minha primeira ida a São Paulo trabalhei com atores de SP , na segunda do RJ e aí veio outro grande desafio, entre eles um grande ator que admiro muito, Jackson Antunes com experiência em teatro, televisão e cinema. Eu já havia assistido ele em Canela. Para minha surpresa ele é a personificação de tudo que acredito na Arte: pessoa íntegra, humilde, talentosa, elegante, educada, sem clichês, comprometido, alma nobre... de tudo aquilo que sempre tentei passar aos meus alunos. Que grata surpresa encontrar pessoas assim no meio, não intoxicadas pelos dissabores e egos do mundo. Catarses, conversas, aprendizados.
Depois veio a ida ao Pantanal. Duas semanas num sol de 40 graus, queimada, mosquito, cheirando a repelente e protetor solar (não estou reclamando) e gravando nos cenários mais lindos desse Brasil incrível que amo tanto. Novos desafios. Intuição aflorando nas cenas, na equipe (ninguém se preocupa muito em tratar bem a equipe) e eu decidi tratar todos da mesma forma, com as mesmas técnicas.
Chegou o dia da cena do estupro. Uma das cenas mais pesadas do filme. Intuí que devia preparar o ambiente com ervas defumando tudo. Intui entregar a cada um da equipe uma proteção, preparei o elenco, chamei todos para rezar e pedir proteção. No final exigi que todos tomassem chá de camomila e comessem chocolate. Pedi que qualquer sensação de desconforto físico ou energético me fosse falado e ao final, falei com cada um individualmente. Foi lindo! Todos torcendo e emocionados com tudo que aconteceu. Controle de emoção, energia, códigos combinados para coisas que pudesse vir a acontecer. Só conseguia olhar a lua linda do Mato Grosso do Sul e agradecer. Eu entendi! Eu merecia estar ali! Se ainda restava alguma dúvida sobre meu trabalho funcionar ou não, eu recebi a provação final.
Muitas coisas aconteceram no Big Brother dos bastidores, o que pude ajudei, o que não me cabia procurei não me envolver para não desperdiçar energia. Me cuidei. Me controlei. Identifiquei muitas coisas. Lembrei demais de gente talentosa que temos em Canela e que deviam estar no mundo logo, porque são tão bons ou melhores dos que vivem do outro lado da tela. Cresci como gente e artista. Não me deslumbrei, porque não sou dessas. Segui firme! Segui amorosa! Segui profissional.
Para minha surpresa, mal cheguei a Canela e o diretor me pediu para retornar. Ele disse que precisava de mim para as cenas, que gostou muito do meu trabalho. E mais uma vez dois corações: deixar filha pequena, alunos, tudo de novo e voltar. Em menos de um mês quatro idas a SP e duas ao Pantanal. Fora o Peru que tinha sido outra loucura em julho. Mas a vida é isso, você pede o o Universo te retribui! Ele tem sido muito generoso comigo! Voltei. 
Voltei e encontrei uma equipe desmotivada, cansada, longe de casa. Intuí que precisava fazer algo. Escrevi para cada um o que sentia, e presentei cada um com uma arruda da minha casa. Choro. Muitos me falaram que eu era uma bruxa, pois havia passado pouco tempo com eles e sabia tanto de cada um. Respondi: presto atenção nos detalhes. Tantos abraços e carinhos recebidos. Tanto valor e afeto de gente que não me conhece mas foram tão precisos nos comentários. A segunda ida para lá, teve mais tensão, os bastidores estavam literalmente "quentes" do sol e dos ânimos exaltados.
Fiz minha parte. Trabalhei no que pude, e no que não me cabia, silenciei. O que discordava não bati de frente, pois respeitava cada um dali. As fofocas procurei me abster, levando sempre sorriso, boa energia e alegria por onde passei. Era isso que aquelas pessoas precisavam. Por alterações de cronograma, saí de última hora me despedindo da equipe pelo rádio e ouvi um coro de "Lisi! Lisi!"
Uma loucura atrás da outra. Mal cheguei ao Hotel em Campo Grande e as mensagens não paravam de chegar. Foi tão lindo. Tantos elogios, carinho e afeto. Artista precisa de afeto em primeiro lugar, todo o resto vem depois.
Saí feliz e contente. Pisei em Canela estranhamente modificada. Tudo mudou em mim. Minha forma de perceber o mundo, os "meus", meu trabalho. As necessidades de estudo, os lugares que quero ir. Canela sempre estará no meu coração. Tenho muito orgulho de ter começado minha vida artística aqui, mas sinto que é hora de voar. E seguindo o conselho do meu querido Jackson Antunes: "Voa Lisinha, voa longe, voa alto!" Lá vou, sem medo, para longe!
Estou pronta e feliz! Preparada para o mundo que me espera!


Quem não me conhece de verdade pode pensar ao ler "Ih, está se achando agora..." (risos) Meus queridos eu me conheço de verdade, e as opiniões que me importam são da Ísis (filha mais velha que está sempre presente me apoiando com a palavra certa na hora certa) e Helena (filha pequena que me disse que tenho que fazer uma pausa, que está demais essas viagens...kkkkk)
O resto... bom o resto não importa mais! Só eu sei da minha história e de tudo que passei para chegar até aqui, e nem acho que cheguei muito longe, mas onde estou foi um longo caminho de amor a arte, respeito, ética e dor como aliada no processo. Não me julgue, me abrace apenas!
Seguimos firmes e com café de qualidade!


quarta-feira, 17 de julho de 2019

Sobre cair na isca do anzol da vida



Huanchaco! Quarta vez que passo por lá em sete idas ao Peru de 2010 até aqui. Já voltei do Peru encantada, muito apaixonada, muito triste, muito irritada, mas desta vez voltei em plenitude. Nossa viagem de 14 dias foi inscrível. Muitas coisas aconteceram boas e ruins. As ruins tiramos de letra e aprendemos juntos, choramos juntos e rezamos juntos. As boas nos fortaleceram. Algumas não é possível contar, porque palavras não seriam suficiente para descrever, então guarda-se na memória, outras talvez eu consiga descrever um pouco. Acredito que eu tenha conseguido finalmente "morder a isca" da vida. Explico. Vivi muito sobre limitação do que era passível e fazia sentido. Houve tempos que vivi para mim, somente para o trabalho, para outras pessoas que amei achando que me doar a elas era amor. Houve momentos que gritei soluçando que não queria mais ser eu! O que sempre me salvou foi a escrita e o teatro.
Talvez quem estiver lendo pense: "o que me interessa tua viagem para o Peru?" Nada, bem provável. Mas você pode optar parar de ler e fechar a página. Houveram coisas na minha vida que não tive opções, apenas enfrentamentos. O pior deles, foi tentar me enfrentar todos os dias durante muito tempo. Eu fingia que era feliz, eu fingia que gostava, eu fingia que tudo estava bem, eu fingia e cá para nós, com teatro eu realmente fingia muito bem. Houve tempos  que até eu me deixei enganar por mim, até encarnei frases prontas e feitas. Mas precisei me interpretar profundamente. Me formular de novo. Então acordei no meio dos meus próprios gritos, nos meus fracassos. Me vi sozinha. Eu, as tábuas do palco e a vida me rolando de um lado para o outro. Achei que podia improvisar, mas já não havia mais tempo.
O anzol da vida me fisgou primeiro de uma forma dolorosa, e se o peixe morre pela boca, eu já sentia o sangue grosso escorrendo e pingando da minha. Resisti. Não ia sair assim do meu mar de ideias sem luta. Eu sempre luto até o fim. Me desvencilhei desta primeira armada e me deixei levar para o fundo mar. Lá eu podia chorar, ri, pensar. Mergulhar nas minhas dores que também tinham intensas alegrias. Eu estava quase me apagando, quando decidi sair e respirar mais uma vez. Sem cardume. Um peixe solo no mar teatro. Um peixe vivo no mar morto. Só um peixe em espécie. Nem raro era. Nada extinto.
Voltei. Cicatrizei. Mexi as nadadeiras e fui atrás de novos mares. Aquele já era fatal para mim. Mera suposição. Verdade ou verdades? Pressentimentos. Sinto que sei verdades mas é melhor deixá-las escondidas em mim. Huanchaco foi o meu mar de retorno. A volta do recomeço. Um novo olhar sobre o mesmo lugar, as mesmas ondas, as mesmas paisagens, mas eu...eu não sou mais a mesma. Desta vez a isca da vida me fisgou diferente, sem dor. Eu fui de encontro ao anzol para me libertar de velhos padrões. Me desencontrando, me choquei comigo. Me olhei de cima abaixo satisfeita com as marcas do tempo, com as escolhas, as renúncias, a liberdade que sempre tive de reiniciar. Pensamentos me atravessam e nem ousariam descrevê-los agora. Preciso guardar alguns segredos de mim. O meu nada me deu tudo! 
Ganhei presentes, abraços, cartas, carinho, beijos, elogios, carinho, afeto, gentileza. Por onde passei fiz questão de ser gentil e educada. Sei que não posso mudar o mundo, mas se eu estiver bem os mais próximos também e será mais difícil ser afetada por aquilo que não me pertence.  Eu não tenho mais medo de quase nada. Não tenho medo do fracasso! Me sinto bem! Feliz! Indescritivelmente afetada pelo rumo da minha vida. Está comigo quem devia estar, assim como os que não estão, já cumpriram sua missão. Estive só. Só de mim. Agora estou completa. Transbordando de mim! Não entendeu? Não é para entender, é para sentir. 
Não escrevo para agradar ninguém. Escrevo como exercício libertador e sanador. Apenas isso! Nas minhas obras e peças, procuro exacerbar verdades minhas, ou não, que emocione. Que as pessoas vejam um pouco de si naquilo que faço. Eis a poética e mágica da escrita e do teatro. Identidade!
O dia que parar com isso morro. Talvez morrer não seja lá tão interessante, mas deve ter seu valor, afinal todos entram aqui sabendo disso e vivem como se não soubessem. Estúpida humanidade! Atualizados do seu destino imperfeito.
Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar. O anel que tu me destes era vidro e se quebrou. O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou.
A vida é ciclo. É giro rápido. Pouco que acaba. Se der tempo, dá a meia volta, refaz, tenta, investe em ti, no teu tempo, nos teus sonhos. Ciranda! Estende a mão, mas recolhe quando achar que já não é mais útil e amado. Seja o que veio ser. Seja dono e senhor das tuas emoções. Seja grande, mas não atropele os outros. Seja um grão de areia no mar de Huanchaco ou de qualquer mar do teu mundo. Mas seja carinhoso com o teu mundo. O teu mar interno. Não se afogue nas ondas dos teus pensamentos mórbidos. Abra a boca, feche os olhos e respire com emoção. Vais sentir a brisa leve da vida de encontro a ti...
Eu, você, teu vizinho, o guarda do trânsito, o ex, a profe, a velhinha do banco, a pessoa que passou agora no táxi...MERECEMOS SER  FELIZES!
Ame-se e pessoas amadas te encontrarão e abrirão os braços contigo para as belezas simples da vida.
Permita-se!


sábado, 20 de abril de 2019

Fecha a tua boca!!!



Eu nunca fui magra! Sempre comia e engordava. Na adolescência geralmente eu sempre estava um pouco acima do peso que a média das minhas amigas. Mas isso não me estressava. Eu era feliz como era, tinha amigos, me divertia,escrevia e fazia teatro. Ouvia piadas, deboches, mas sabia lidar com isso. Fui crescendo e me abandonado aos poucos. Depois da primeira gravidez foi só piorando, não foi nada por acaso, estava muito feliz com minha filha, tinha planejado tudo e tudo ia bem. Eu achava que ia. Comecei a entender minha compulsão por comida. Quanto mais achava que estava bem, mais engordava. Todas as dietas não funcionavam, eu começava mas logo abandonava. Meu pai sempre me xingava e ria da minha cara quando eu furava a dieta e comia: "tu não vai conseguir". Veio a primeira separação. Todo o sofrimento e a comilança junto. Ainda assim não tinha vergonha de mim. Eu sempre tive bom humor e nunca tive medo de enfrentar a vida. Segui! Lembro exatamente das pessoas que estiveram comigo nesses piores momentos, os homens que me olharam e me amaram quando eu sequer me amava. Eu só me amava em cena. No palco eu sempre me achei e me acho linda. Quase fiz bariátrica em 2010, mas quando fui na psicóloga ela me perguntou: "Por que mesmo quer emagrecer?" E eu emudeci, porque antes estávamos falando sobre minha peça em cartaz em POA, o "Dona Gorda" na época encenada pela saudosa Lucia Bendati. Eu não soube responder, e talvez quisesse emagrecer pelos outros, não por mim. Saí de lá pensativa e me questionando seu eu realmente tinha feito de tudo para emagrecer de forma saudável.
Em 2013 busquei uma nutricionista e em um ano, com uma dieta restritiva perdi 28 kilos. Estava bem, estava feliz, não estava me sentido um extraterrestre, mas lá no meu íntimo ainda não tinha feito as pazes comigo, ainda tinha algo errado. Não erá só fechar a boca (como todos diziam) e emagrecer. Me envolvi com outra pessoa, vivi uma linda história e de repente de uma forma sórdida mil mentiras e situações horrorosas voltavam à tona. Adivinhem? Me abandonei e comi como se não houvesse amanhã! Comi de tristeza, de raiva, de rancor... não tinha fome, tinha raiva. Raiva de mim e do mundo. Raiva de ter sido otária, burra, de ter dado amor a quem tripudiou e brincou comigo (óbvio porque eu deixei). A primeira luta foi manter a cabeça serena, terminar de construir a casa, ter uma gravidez saudável (sim engravidei) e seguir. Ainda tinha o teatro! Ainda tinha o palco, eu sempre tenho na verdade. Minha relação com teatro vai muito além do imediatismo. Chorava escondida, comia e escrevia. Aquela dor ainda serviria de alguma coisa no futuro. Passado um tempo, 2018 comecei a buscar várias pequenas ajudas. Porque sentia que precisava lidar com meus monstros internos. Então comecei com várias pequenas ajudas... A Eliane com sua terapia, regressão, floral... depois fiz coaching de emagrecimento com a amiga Ana Lodéa, tivemos vários momentos interessantes e evolutivos. Busquei de novo a mesma nutricionista de 2013, mas algo mudou e aquela dieta não era mais para mim, meu corpo estava diferente, eu estava diferente! Então comecei a fazer funcional com meu amigo Nicolas, incrível a ajuda dele. O legal é que era só eu e ele, e ele soube entender meu tempo, meu jeito e porque não, meu corpo. Sempre com paciência para explicar tudo! Então ouvi falar do programa 5S, duas vezes me comentaram dele e não dei muita importância, movida pela expectativa e do que ouvi procurei e marquei uma consulta com a Carla. Eu começaria logo depois da minha vigem ao Peru em julho, terra do pai da minha filha onde não colocava os pés desde 2014. E lá fui eu, reencontrar fantasmas, me perdoar, juntar cacos, fazer as pazes comigo e fazer uma das apresentações mais incríveis da minha vida. Voltei e uma das primeiras perguntas que respondi a Carla foi, porque tu queres emagrecer? Agora eu não tinha dúvidas, não era para provar nada a ninguém, era por mim, para fazer as pazes comigo e ter uma vida mais saudável, para poder viver mais e feliz.
De setembro de 2018 até agora foram 27 kilos (acho porque honestamente não foquei em kilos), estou quase perto da minha meta, e estou bem. Tranquila. Sem postar cada kilo perdido na net, por sinal , falei para bem poucos que estava num processo de emagrecimento, quando me perguntavam o que eu havia feito, brincava e dizia que estava doente, doente de amor por mim... A Carla virou uma grande amiga, as consultas semanais são um "up" no processo todo, fora todo o acompanhamento. Estou aprendendo a entender meu corpo, meu ritmo, o que ele precisa, quando precisa. Há deslizes sim, mas sempre com foco na retomada. Não quero mais me perder de mim, me abandonar. Minha cabeça é gorda, sempre gostei de comer, mas agora estou melhorando minha relação com a comida. Entendendo quando e porque exagero. Quando posso e não posso. Fiz as pazes comigo. Voltei para o palco e fui verdadeira, falei das minhas dores transmutando-as... "Sigo acreditando no amor" (Fossa Nova), "Fiz as pazes comigo" (A Encalhada), foco no eu (Ator e sua verdade) e tenho buscado ser coerente entre o que digo e faço. Exercício diário! A minha alma, a minha alegria, a minha verdade, a minha essência, nada tem a ver com estar gorda ou magra, tem a ver com meu estado de espírito, tem a ver com quem eu sou de verdade. Comemorei cada etapa. Não me envergonho de nenhuma, cada uma me ajudou a buscar a minha melhor versão (que é uma luta diária) porque todos os dias nos intoxicam não só de comida, mas se sentimentos ruins, invejas. problemas , frustrações e se abster de tudo isso é um ato quase heróico. Em 2019 continuo no 5S e pelas mãos da Mirele, participei do DL (desenvolvimento e liderança) que há um ano ela me falava mas não tinha sentido "o chamado real". Fiz no início de março e percebi quanta coisa ainda tenho para trabalhar em mim, mas também tive a grata surpresa de perceber que avancei em muita coisa, e de certa forma, já fazia DL sem saber. Trabalhei tristezas, raivas, alegrias e dores e percebi que sucesso vai além de estar magra ganhando bem (nunca pensei isso mas conheço várias pessoas que pensam assim próximas a mim). Sucesso é aquilo que te dá prazer, que te deixa feliz, que te conecta com quem tu és de verdade. E adivinhem? Isso é o teatro na minha vida. A Arte! Ajudar pessoas, trabalhar história, pesquisa, autoconhecimento. Foco em quem sou não no que querem que eu seja.
Tudo mudou! Uma revolução começou no meu peito e comecei a me olhar de verdade no espelho. Olhar no fundo do meu olho e ter orgulho da mulher que tenho me tornado. Quantas voltas por cima, meu Deus! Quantas idas e vindas, quantas dores, guerras, lutas e coragem. Sim, eu sou corajosa demais para fazer o que faço e viver como vivo, naquilo que acredito. Sou o que me tornei. Sou o que escolhi ser e quero ser cada dia, ainda melhor. Eu mereço! Minhas filhas merecem o melhor de mim!
Gratidão aos amigos, amores, colegas de profissão, não aqueles que puxam meu saco (tenho pavor), mas aqueles que me estenderam a mão quando ninguém viu, aqueles que não postaram nada em rede social, mas me mandaram palavras amigas na pior hora. Aqueles que me deram ombro, aconchego ou apenas silêncio quando precisei soluçar. Aquele que representa muito isso é o Guga! Anos, mais de 20 anos juntos/separados/juntos, e a relação de cumplicidade ultrapassa qualquer barreira. Ele foi uma das pessoas que esteve comigo em momentos terríveis, mas também nos melhores videokês, festas e criações. Divergimos de muita coisa, mas nos respeitamos e o resto falo sempre a ele pessoalmente. Não é à toa que é o padrinho da minha filha. Enfim, quando achamos que tudo está perdido, algo lindo ocorre e entendemos que tudo que deu errado, foi necessário, para que tudo desse certo.
"Caráter é a soma de todas as nossas conquistas diárias." Sigo, um dia de cada vez, não tenho pressa, não como antes, agora eu entendo que tenho meu tempo e preciso respeitá-lo. Aprendi a dizer não, me recolher, separar o joio do trigo, respeitar o afastamento das pessoas, entender o meu afastamento.
A vida é uma seleção natural, pessoas vão entrar e sair da tua vida, e está tudo certo. As que precisam voltarão, ou estarão de alguma forma sempre contigo. Não tenha medo da solidão, ela é incrivelmente maravilhosa quando você se ama, se respeita e se curte. Não tente provar nada a ninguém, você não precisa. O que as pessoas esperam e cobram de você é problema delas, se você não prometeu, não tenha medo de dizer o que pensa. Mas se prometeu, cumpra! 
Escute sua playlist no carro, aquela que você logo sai cantando e querendo fazer clips, use sua melhor  roupa quando der na telha, saia e se dê presentes, pode ser coisas bobas ou não, se te faz feliz e cabe no teu bolso, está valendo.
Selecione melhor para quem conta seus dramas e traumas, você nunca sabe quando usarão isso contra você. Selecione melhor o que posta nas redes sociais, não passe uma imagem errada de quem é, pense sempre que um grande negócio, aquele que você mais quer será fechado, mas se uma postagem errada cair na rede, já era. Isso vai te fazer pensar muitas vezes antes de sair bombardeando o mundo e comprando brigas que não te levarão a nada. E mais importante: tome café e seja feliz HOJE bebê, agora, Já!
Não tenha medo de deixar florescer sua melhor versão! Você é incrível, exatamente como és! Ame-se e chegarão a ti, pessoas com a mesma frequência. Tudo é energia! Isso é física e já foi comprovado. Acorde!




domingo, 31 de março de 2019

Entre presenças e ausências


Tenho me questionado muito ultimamente sobre o que é estar presente? Física, emocionalmente, estupidamente. Me faço presente, sou presente, quero presença. Dispenso os fingidores da presença, aqueles que estão só por estar. Tem acontecido tanta coisa maravilhosa para o meu crescimento pessoal nos últimos tempos, que até escrever tem ficado de lado. Uma multidão de ideias e surpresas dentro de mim, minha criatividade correndo livre, espontânea, articulada. Sou a mesma, mas presente de outra forma. Presente coerente, sabe! Aquela que não fala, faz! Aquela que quando fala, tem tomado mais cuidado para quem fala e o que fala, até porque não vale a pena gastar energia com quem não quer ouvir. Tenho também celebrado muito a minha presença sozinha, ouvindo minhas músicas de sempre, tomando café, planejando, executando. Saíndo do meu umbigo e ganhando o mundo ao redor da minha casa. Já é uma grande coisa.
A maior reforma foi a casa interior. Sentei com meus fantasmas, tomamos vinho e rimos da época que me assombravam e me paralisavam. Entendemos que o armário ainda está ali, mas agora a porta está aberta e eles não são mais presos pelas minhas chaves de rancor do passado. Não sei nem por onde andam as chaves, troquei o armário de lugar, dei nova roupagem. Existo diferente! Coerente!
Ando com poucos, convivo com muitos. Trabalho com infinitos, me articulo por aí, sem esquecer quem eu sou! Agora o verbo vem em primeira pessoa: EU!
Minha ausência talvez seja comemorada por muitos que ainda insistem em falar mal, invejar, reclamar. Não os culpo, sou bem insuportável quando quero (e não quero). Mas isso já não importa mais. Antes eu queria que sentissem minha ausência, agora eu comemoro se não lembram de mim... sério! É menos cansativo! Explicar isso também é cansativo.
Meu trabalho é minha linha de vida incrivelmente profunda. Ele me representa, eu o represento. Sempre que estou feliz e empolgada o dinheiro nunca é a meta, só consequência. Tenho lidado com pessoas incríveis das mais diferentes idades e níveis econômicos. O respeito é o mesmo com todos. Não me interessa sobrenome, marca de carro ou roupa, se foi a Paris ou a Jaquirana, me interessa a história, o que a pessoa sente, como sente. Isso me atrai. Isso me fascina. Minha relação com a Arte é  a mesma com a vida: presença, ausência.
Me faço presente do meu jeito, que nem sempre é como os outros esperam. Desculpem, não consigo ser como vocês acham que devia. Me culpo também às vezes por não ser tão meiga, amorosa, querida, por não dizer as frases que todos dizem, por não puxar saco, por dizer aquilo que você não gosta. Tenho me ausentado de tudo que me faz mal, do que não gosto,, de quem não quero, de quem não tive, de quem achei que tive. Me ausentei inclusive de mim por um bom tempo e me abandonei por completo. Lá no fundo do poço da minha tristeza e raiva, na luta do meu ego ferido, no meu amor próprio dilacerado, tive que escalar pedra por pedra e quem sempre me deu alívio e oxigênio foi o teatro.
Minha relação com ele é muito, mas muito diferente da maioria dos que fazem teatro: não é somente por profissão, não é por política, nunca tive sonho de ir para TV, não é para sair no jornal, não é para ganhar prêmio, não é para ser convidada para eventos badalados e sair com cara de paisagem na foto, não é por hobby, não é por fuga, não é por status. É por amor profundo de alma, é para usar a dor como aliada no processo de criação, foi a ferramenta que eu encontrei, o meu "estepe" sabe. A peça mágica que tudo resolve.
Não faço cerimônia para dizer nada do que sinto, também não gosto de gente que dá voltas para dizer o que realmente quer. Atitude e respeito. Simples e cada vez mais raro. Fiz as pazes com meu passado, aproveitando o presente e não levando tão a sério o futuro. Ele virá de qualquer forma se eu cultivar o agora.
Meu coração está recuperado. Inteiro, feliz e divertido como sempre foi. Eu sempre fui uma pessoa alegre e havia me esquecido disso. Trabalho feito uma louca, tempo corrido, mas sou feliz assim. Me deixem! To bem, juro! Voltei a respirar, olhar para o lado despretensiosamente e ver que ainda existem pessoas super interessantes. Pessoas que sabem se fazer presentes. Dissolvam-se as presentes que são ausentes. Se é que me entendem...
Se eu morresse hoje, iria feliz, mas negociaria certo para voltar porque ainda tenho muita coisa a fazer aqui, muitos sonhos a realizar, muitos beijos a dar (dale, dale, dale). Ou, se fosse impossível, certo que montaria um teatro no céu (tenho a pretensão de que irei para lá Senhor), montaria um teatro das almas presentes, só iria entrar quem se comprometesse a ficar PRESENTE! Nada de sair por aí assombrando os outros. Ninguém merece alma penada, por favor!
Sem bobagem, caso alguém me leia (sempre escrevo para mim em primeiro lugar) esse é o conselho que daria: SEJA ABSOLUTAMENTE PRESENTE, naquilo que você se comprometeu a ser: com seus filhos, marido, amores e amantes, trabalho, faculdade, grupo de estudos, aulas... não fique entre ausência e presença. Não faça nada pela metade, eu disse NADA! Seja absolutamente inteiro em tudo na sua vida. Porque você só terá de retorno o inteiro, se for inteiramente verdadeiro.
Não perca tempo com bobagens, com gente que não agrega, com abraços mornos, com beijos sem tesão, com cama suada (suor também esfria). Vista sua melhor versão, coloca teu melhor perfume, sorria para você mesmo, escute sua música preferida e saia olhando a vida e pode ter certeza, ela vai retribuir e te dizer: UAU! Finalmente você voltou, senti a tua presença!!!
Bom final de domingo!
Lindo início de segunda!

Estou pronta e presente!





sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Ator e sua Verdade - A Dor como aliada no processo de criação


Sérgio Azevedo Fotos

Janeiro de 2019. Segunda semana. Lá vamos nós em mais um mergulho no Ator e Sua Verdade este ano com o tema "A Dor como aliada no processo criativo" tema também do meu artigo acadêmico da pós graduação em Artes Cênicas. Treze pessoas. D'arte Espaço Multicultural. A noite. Praticamente sozinhos do espaço.
Tudo eu planejo, organizo, me recolho, estudo e sempre na última hora mudo tudo e vou pela intuição, mas claro,sempre tendo um ponto inicial, um norte com referencial teórico. A arte, assim como a vida, é entendida através de experiências, não de explicações. "Como artistas de teatro, não podemos criar uma experiência para uma plateia; nosso trabalho é estabelecer circunstâncias para que uma experiência possa ocorrer." (Anne Bogart)
Acredito que as experiências só ocorrem quando colocamos verdade e mergulhamos nelas a fundo. Uma certa desorientação, um certo desconforto, um certo "não saber o que fazer para não se armar" são sempre imprescindíveis para a criação. A dor é fundamental nesse processo, pois se você souber trabalhar com ela a seu favor, como sua aliada você pode ter resultados incríveis a partir de coisas muito simples. É como quando nos apaixonamos por alguém e não sabemos nada do outro, temos de abandonar nossos hábitos diários porque estamos pisando em um "novo terreno" que muitas vezes nos desorienta. Para sermos tocados, temos de estar dispostos a não saber qual será a sensação do toque. Tudo tem que ser novo e como se fosse a primeira vez.
As treze pessoas especiais que recebi, de lugares diferentes, histórias diferentes, profissões diferentes estavam muito abertas a saírem da sua zona de conforto e se jogarem de corpo alma nessa nova experiencia. Sem racionalizar muito, só sentir. SENTIR sempre foi a palavra chave desse curso, e atualmente dos meus trabalhos como atriz, professora, dramaturga e preparadora de elenco... A única proibição é falsidade e fingimento. Mesmo em cena! Meu personagem precisa ter verdade, não posso "fingir" que ele é isso ou aquilo, ele tem de ser! Se eu não sentir nada, minha dança, minha cena, minha música não fará ninguém sentir.
Experenciamos exercícios diversos que foram do xamanismo até bioenergética. Cada dia uma sensação, uma descoberta, uma leitura, uma roda de chá para avaliarmos o trabalho do dia e nossos atravessamentos, uma mensagem lida, uma carta escrita a alguém que nos tocou/emocionou no dia. Em uma palavra o dia foi...
Você não precisa aba

 A tua dor não pode ser maior que tua vontade de transmutá-la.
Tudo depende de ti...




O Universo é muito mágico e responde a tudo, é só estar em sincronia. Eu aprendi tanto com essas pessoas maravilhosas que se deixaram tocar e me tocaram, emocionaram, sentiram, fruíram... eu fui eles, eles foram eu! Compartilho pedaços de depoimentos de alguns dos participantes:
"Atravessei portas, deixei gaiolas para trás, sou um ser humano renovado por esta experiência. Ainda tremo, mas descobri que não é um tremor de medo, mas de ebulição interna. Agora preciso aperfeiçoar meu jorro, ao invés de engoli-lo ou cuspir lavas incandescentes, liberar emoções e palavras que me confortem, me ajudem a despressurizar e me façam aprender a envelhecer seguindo o caminho da minha vida." (João Ferraz/ engenheiro)

"Quando decidi fazer o intensivo Ator e sua verdade fiquei com medo, medo de não consegui me expor, de ficar com vergonha de mostrar a verdadeira catina. No decorrer da semana tu vai sentindo tanta coisa e descobrindo tanta coisa que parece que o intensivo foi de meses e não só cinco dias. Quem tem coragem de se entregar de verdade sai diferente de quando entrou. A cada dia tu vai conhecendo pessoas incríveis, abertas, com a mesma entrega e vai aprendendo com as palavras ditas, os conselhos, as observações, os abraços, as risadas, as histórias, os choros, as trocas de energia. Eu saio do Ator e sua verdade mais confiante, tranquila, leve, segura, e feliz. " (Catina Basei/atriz)

"O Que foi esse curso para mim? Foi transcendental, um reencontro com a minha essência, sendo cada colega um canal de conexão comigo mesma. Para mim ficou claro que o que realmente importa é entregar -se para o que é realmente importante. A conexão humana não pode se perder, pois é aí que está a vida, a moral disso tudo. O teatro que eu acredito é esse - a entrega por inteiro, estar no desconforto, estar conectada. 
Os momentos mais marcantes do curso: conexão com os colegas via olhar, abraço e colo e a dinâmica de deixar manifestar o animal de poder. Nesta última todos os conceitos desapareceram e todas as sensações estavam à  flor da pele. Saio do curso confiante e determinada para viver o que eu sinto e acredito." (Natacha Siqueira/ fonoaudióloga)

"Me considero escolado nessas dinâmicas e exercícios que mechem com emoção, com raiva, carinho... estudo sobre o assunto, e tinha medo de deixar os meus filtros atrapalharem o meu aproveitamento, mas fiquei realmente surpreso com a tua condução..., falo, sem "rasgação", que tu tens um talento especial, uma sensibilidade enorme para desnudar a alma das pessoas. Sabe muito bem aonde "cutucar", sabe como deixar as pessoas confortáveis no seu desconforto. Incrível como a história de cada um nos revela grandes aprendizados de nós mesmos, como a dor do outro é nossa também, e não só por empatia ou por nos  compadecermos, mas porque realmente no fundo, nossos medos e demônios são muito parecidos." (Juliano Bolfe/músico e compositor)

"Ator e sua verdade é muito mais do que um curso de teatro, é uma vivência libertadora, onde é proporcionada uma intensa reciclagem energética com ativação do poder pessoal. Isto é possível graças à perfeita condução por Lisi Berti, que, com maestria, provoca um desnudamento de almas. A experiência é transformadora m, positivamente, pois, proporciona o reconhecimento das próprias dificuldades e o conhecimento da própria capacidade em superá-las. Aprende-se a retirar as máscaras que impedem a expressão da verdade pessoal, utilizando a dor como ferramenta para galgar os degraus da evolução." (Aline Collet/ defensora pública)

"Eu já tinha feito o curso o Ator e a sua verdade em outra edição, porém naquele momento eu não estava tão aberta para trabalhar alguns sentimentos. ou talvez, nem os tivesse naquele momento para trabalhar.
Nessa edição do curso a proposta era trabalhar a Dor como aliada, resolvi fazer por dois motivos.
1. eu estava passando por um momento de muita dor, lidando com tristeza, meio perdida e com alguns lutos.
2. eu acredito muito em usar a dor como aliada, acredito que a dor pode nos colocar em uma nova perspectiva e ativar o foco e a criatividade.
o curso vai muito além da questão da atuação, ele na verdade é uma base criadora para uma atuação mais humana e com mais verdade, que vai conseguir chegar no público de forma mais verdadeira e intensa, pois busca no fundo dos nossos sentimentos e alma a nossa essência.
Trabalhar com nossos medos, sonhos, alegrias e tristezas, traz à tona muita verdade e quando trabalhamos isso, saímos não só como atores, diretores, dramaturgos melhores, mas também como pessoas melhores." (Paula Basei/ design e outras coisas mais)

Como disse, não tem foto, depoimento, escritos que possam mensurar o que vivemos nestes cinco dias de entrega. Para completar fui convidada pela psicanalista Sabrina Sironi a participar do encontro Escutarte onde falamos do meu trabalho e da dor como aliada no processo de criação sob uma visão da psicanálise. No dia 14 de janeiro no Aroma Literário, fui privilegiada de ter casa cheia, de pessoas desconhecidas, ex alunos de teatro, alunos de outros intensivos e os que tinham feito o último. Um misto de emoção, entrega, alegria. Eu ali, falando das dores passadas, do processo de criação de "Cartas de Além Mar", da viagem transformadora ao Peru, ao som de Chavela Vargas. Abraços, encontros, trocas de ideias e claro, de emoções e intensidades. Comecei meu ano (que será um dos melhores dos últimos tempos) da melhor forma possível, ressignificando tudo.
Seguimos!