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segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Qual a cor da tua alma?

Foto de Pablo Tomazi com maquiagem de Mariane Makeup e Hellin Santos  
Modelo e foto Pablo Tomazi
Maquiagem de @marianemakeup_oficial e @hellinsantos

O mundo mudou bruscamente. Agora é um instante. Você sente? Eu sinto o ar pesado, dores, cansaço, falta de ar, vontade de entregar os pontos em meio a tantas incertezas e dúvidas.  No meio de um ano que entrará para a história do mundo, como você se vê e se sente? Que cor tem tua alma hoje? Ainda consegue dialogar com ela? Tem sido apenas monólogo e silêncio? Será que já existiu ordem? Ou vivemos fingindo ordenar o tempo?  Tenho improvisado muito ultimamente, fico espantada com o as situações que se apresentam e como improvisei, adaptei e enfrentei. Não sabia que era possível, de verdade. 

Levanto-me. Horários mudaram. Tenho insônia, outros dias durmo bem. Penso muito. Difícil desligar minha cabeça. Meu corpo sentiu a diferença do tempo, das horas, o ar rarefeito. Muitos não tem aguentado a pressão. Vomitam asperezas e sofrem! Se fecham, brigam, adoecem, e até morrem da solidão e confinamento de si mesmos. Já me apavorei, a mesma terra que teve dinossauros, que criou gente que foi à lua, que descongelou geleiras, parou por um vírus invisível e minúsculo, porém fatal. Chega a ser irônico! Caos, pressão, dor, raiva, medo, incerteza, angústia, tudo veio à tona potente. Tivemos que enfrentar, nos olhar, mexer na caixa de gordura, olhar no espelho. Muitos despreparados. Frustrados! 

Nada existe de mais difícil do que entregar-se ao instante e não saber nada do amanhã. Isso é uma grande dor para nós seres humanos. Cada um se entrega ao que pode para não sucumbir a dor. Eu escrevo, leio e faço teatro. Escuto música ao meio dia ao lavar a louça, desligo a internet. Viajo sozinha para dentro de mim. Vejo cenas. Construo imagens e por um momento, tudo flui calmamente. Adoeci. Perdi a voz. Fazia tempo que não acontecia. Me apavorei. Perdi a voz porque não fui fiel a mim. Já sei onde errei. Estou entendendo meu corpo. Ele está poderoso e mais que nunca me envia sinais claros. Já não tenho como enganá-lo como outrora. Já não há mais tempo para mentir a si mesmo. Propósito! Toda vez que fujo dele me desconcerto, adoeço e me estresso profundamente. A escutar. A escutar. 

Hoje é segunda, a primeira de outubro. Plutão, a celebridade do invisível e oculto é o astro celeste da semana. Mal compreendido. A morte. O renascer. Mudança. Movimento direto. Tempos de transformações vitais. Inadiáveis e cruciais. Se resistir, dói. Tenho me dobrado ao meio. Fico com medo mas tenho mais força e coragem. Sempre tive! Meu coração bate acelerado. Só sei que nasci e estou vivendo exatamente o que escolhi. O que me propus. Algumas escolhas erradas lá atrás voltam com fantasmas icônicos. Observo, escuto a conversa e penso como pude errar tão feio? Porque não fui fiel a mim naquela época? Porque escondi quem era e fui quem era mais funcional. Defesa? Não sei.

Eu tenho tentado pintar minha alma como o Pablo aí na foto. Pedi a ele para usar a foto, pois quando vi me inspirou a escrever algo, e sou muito fiel a minha escrita, ela que me move, ela fala por mim. Ela me comanda. Finjo que domino, mas na verdade ela me toma por inteira e traça mundos... um mundo fantástico às vezes. Eis-me aqui, heróica, velha, cansada, mãe, atriz, professora, apaixonada, louca, neurótica, verdadeira, colorida. Tempos novos chegando, limpezas finais nos maturando. Não há como fugir. Não há para onde ir a não ser dentro das nossas arestas, sem frestas. Estamos sós nessa. Pinta a tua cara, pega a tua flor, cria teu ritual e vai. Luta por ti. Vive em ti. Cria teu mundo particular. Ninguém é mais importante que você mesmo. Cure-se! Ame-se! 

Tenho atingido estados interessantes sozinha, aprendido muito com pessoas que jamais imaginei, me afastado de pessoas muito íntimas, e que loucura isso. Vacilo na minha escuridão, mas meu mundo é de coragem e tem cor. Acredito no melhor e sigo pelo melhor sempre. Mesmo que me doa. Minha maior responsabilidade é comigo agora. E toda vez que fujo dela fico mal e adoeço. Trabalho sempre com gente achada e perdida. Vem sempre a palavra certa na hora certa. Encontro casualmente alguém que sempre tem algo a me dizer. Recebo mensagens de alerta que me espantam. Estou muito alinhada com tudo e apesar de ser assustador é libertador. Sou borra de café de grão especial, sei disso!

Acabarei minha inspiração com a foto do Pablo, com um escrito de Michel Seuphor:

"Tinha que existir uma pintura totalmente livre da dependência da figura - o objeto - que, como a música, não ilustra coisa alguma, não conta uma história e não lança um mito. Tal pintura contenta-se em evocar os reinos incomunicáveis do espírito, onde o sonho se torna pensamento, onde o traço se torna existência."