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terça-feira, 9 de novembro de 2021

Ventos Internos


Novembro de 2021. O ano acabando e nem conseguimos apreciar os dias. Tudo rápido. Tudo descontrolado. Tudo fora do lugar. Dentro e fora.  Um sufoco. Viver tem sido literalmente um sufoco. Estamos ainda juntando os cacos rasos do "pós pandemia". Não nos reconstruímos coisa nenhuma, não nos reinventamos, apenas sobrevivemos como pudemos. Foi cansativo. Tem sido cansativo. Um deserto de possibilidades. Pessoas quebradas geram outras pessoas quebradas. Pessoas transtornadas transtornam outras pessoas e assim sucessivamente. E no meio disso a gente se depara com os nossos aneurismas emocionais. Tudo aquilo que vinhamos jogando embaixo do tapete, sufocando, camuflando. 

Ventos internos sopram. Uivam com força dentro de mim e não adianta mais fechar portas e janelas. As frestas estão enormes. O vento transpassa. Cansa esse exercício de tentar abraçar o vento. Abrir-se para ser levada no centro do furacão é necessário mas dói essa movimentação. Ser o que se é, falar de verdade o que sente pode afugentar as pessoas que não escutam seus próprios sons, suas próprias tempestades. Não adianta fugir da chuva quando você não tem onde se abrigar. Olhar-se. Desvelar-se. Desnudar-se! Concentrar tudo em si, não nos outros como sempre fazemos. Esperar do outro pode ser fatal, porque jamais virá o que você quer. Virá o que você precisa, e geralmente você se decepciona porque alimentou expectativas.

Rasgar-se. Falar o que vai na alma, é bem mais complicado que só abrir a boca e buscar palavras certas que encaixam. Falar o que se sente de verdade, falar o que não gosta, falar os medos, as dores, os anseios e receber silêncios, é frustrante. Mas aí vem a grande revelação: o problema não é o outro, é tudo aquilo que você jogou sobre o outro para não precisar lidar sozinha com seus fracassos. FRACASSADA! FRACASSAMOS! De várias formas: como gente, como pais, como filhos, como empregados, empregadores, como amantes, como amigos, como humanidade. Sim, engula isso, você vai fracassar em algum momento em algum aspecto da sua vida. Alguns fracassam mais, outros menos, mas TODOS fracassam! Lide com isso! A grande lição a ser aprendida é como você lida com seus fracassos, com suas dores. É daí que vem sua maior fortaleza, se ainda tiver tempo para entender isso.

Será que somos apenas uma forma no espelho? Curvas, cabelos, rugas, barriga, uma aparência refletida. Lembrando que o espelho foi criado por nós mesmos, seres humanos. Criamos algo que muitos tem pavor, ou dificuldade de relacionar-se. Quando foi que demos ao espelho todo este poder? Será que ele nos vê com tanta profundidade assim? Reflete mesmo o que somos? Ou o que não somos? Ou como nos veem? E será que nos vemos de verdade? O espelho é um instante. Somos instantes mas estamos mais instantâneos. Queremos tudo com a urgência de ontem. Perdemos tudo pela pressa. Maldita pressa. Apressados comem cru e consequentemente mais (meu caso). Tenho pressa violenta  de tudo e isso tem consumido minha cabeça, minhas ideias, meus dias, meu sono. Estou com saudade de sentir calma, paz interna. Lucidez! Nem lembro mais como é isso. Me sinto sempre no abismo, atrás uma constante pressão e vou colocando o pé na frente para evitar a queda que virá. Inevitavelmente.

Mas eis que dentro de mim também tenho a rosa dos ventos, todos os pontos colaterais. Só preciso seguir uma direção e no fundo sei bem que sou eu o leme da minha própria história. Não adianta querer perder o rumo. Navegar em si é preciso! Há ventos internos esperando novas rotas. Eu, com minhas ideias quase explodo. Tento expressá-las quando confio, mas percebo que é difícil o entendimento. E já não quero mais me fazer entender. Respiro. Organizo os pensamentos. Observo em volta. Saio. Me sufoco com pensamentos maléficos sobre si mesma. Preciso me apropriar de todo o meu poder pessoal. Preciso me apropriar do meu valor. Do valor das minhas ideias, da planície certeira da minha intuição. Tenho sido honesta comigo. E você? Tem sido consigo? De verdade?

Canso. Até escrever esta semana ficou difícil. Geralmente não é. Mas escrever o que para quem? Qual valor da minha escrita? Até onde ela vai, e se vai, porque vai? Entendem? O que estou fazendo? Indo! Ultimamente só vou. Mas vou onde me querem. Onde me aceitam. Onde posso fazer diferente. Até quando? Espero que breve! Que passe todo esse gosto amargo na minha boca. Que passa logo essa sensação de inutilidade absurda das minhas horas. Que passe logo a dor de cabeça que nunca pára junto com os pensamentos atordoados. Que passe logo a palpitação no peito quando penso determinadas coisas. Estou há alguns dias mexendo num lodo interno compreendem? E eu fiz de propósito. Quanto mais dói, mais mexo, mais cutuco a ferida. Que abra e sangre! Que verta o sangue coagulado, que limpe para receber a transfusão necessária do que vem por aí.

E sim, vem muitas coisas boas e grandes por aí. Por isso a limpeza interna. Não sei se sentem como sinto, Não estou em crise, ou pensando em fazer bobagem, estou escrevendo apenas sobre algumas sensações. Escrever me alivia. Me coloca num estado sempre melhor de quando comecei a primeira palavra. Talvez você que me lê, caminhe, ou escute música, ou faça algum esporte e sinta esse alívio. Importante é descobrir em tempo. Estou me abraçando, me redescobrindo e me preparando para o novo ciclo dos 45. A maioria adora fazer aniversário. Eu já gostei mais, hoje trabalho a minha mente para "é só uma data qualquer", um número. Fim. Somos números já pensaram? Número do cpf, da certidão, da placa do carro, do óbito, da casa, da conta bancária, da casa, dos vacinados, do populacional do planeta. Apenas um número entre tantos outros números. Algoritmos na internet.

Cansei! Aqui também somos números de caracteres e creio ter extrapolado os meus. Foi um bom momento com essas ideias e constatações, quero registrar para quem sabe usar numa peça ou texto dramático. A ideia do blog é isso, escrever para se reler, reaproveitar ou apagar. Nada mais. Simples assim. Me despeço caríssimos, espero que vocês tenham tido um bom dia, eles estão raros ultimamente, e geralmente são bons quando despretensiosamente nos acometem. Minha dica: não crie expectativas sobre nada ou ninguém. (quase impossível mas dá para controlar) Vai evitar muitas dores de cabeça.

No mais, tome um café, mande mensagem a alguém importante para você. Verbalize. Não deixe passar. Não espere nada. Dê o seu melhor, e seja sempre, impreterivelmente honesto com você. 

Até loguinho!

Sigo.

Lisi Berti (estou bem gente, só escrevi o que me veio nas estranhas)