Páginas

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Dos choros sofridos de 2020 me despeço




2020. O ano que jamais esqueceremos e que não estávamos prontos para tudo que haveríamos de enfrentar. Ou estávamos! Muitas indagações. Além de todos os desafios cotidianos um inimigo oculto, e não aquele de final de ano que todo mundo foge mas acaba participando. Um inimigo chamado COVID que parou o mundo. Começamos rindo dele, fantasiando a existência, até que ele começou a chegar no nosso Estado, na nossa cidade e nas nossa famílias, levando amigos, conhecidos e nos causando pânico. Difícil lutar contra o que não se vê. Difícil sobreviver em meio ao caos. DIFÍCIL foi uma das palavras deste ano.
Eu tive diversas provações, em todos os setores. Manter-me com pensamentos elevados e não perder a fé foi o mais difícil. Venci batalhas diárias, noites mal dormidas, dores de cabeça, boletos vencidos, falta de trabalho, projetos cancelados, faltas...faltas...faltas... mas também valorizei presenças. Valorizei pequenos gestos, lugares simples que pude visitar apesar de tudo, pessoas que me estenderam a mão. Família. Senti  a minha mais próxima este ano. Me senti da família e não um peixe fora d'agua. Cansei de me defender. Sou inocente, como tantos outros. Estou tranquila, apesar de tudo. Porque tenho feito o que posso, como posso, tenho tirado energia e forças de lugares escondidos que nem eu sabia ser capaz. Ainda sorrio, brinco e procuro ser alegre. Mas também surto, também me irrito, também blasfemo, porque a calma não dura para sempre.
Hoje faz um lindo dia de sol. Não gosto de sol mas honro e valorizo. É necessário, tudo é necessário. Inclusive este vírus que tem nos ensinado tanto sobre tantas coisas que achávamos que éramos letrados. Ironia, não? Dia 21 de dezembro de 2020. Dia astrologicamente importante, estamos entrando em Júpiter e Saturno em Aquário. Era da consciência coletiva, acabou a bolha, o mundinho de só olhar para o próprio umbigo e fingir que o resto não importa. Acabou. Tudo que você fez e faz altera o mundo a sua volta. Fato! O vírus também nos ensinou isto, a duras penas e tem gente que ainda acha que é infalível. Que não toma o mínimo de cuidado, achando que isto não afeta os seus. O que fazer quando sinto tantas coisas que outras pessoas não sentem? Difícil explicar. Teve momentos que não queria contar nem ouvir meus próprios pensamentos, eles são rápidos demais e por vezes me transtornam. Penso muito, o tempo todo. Sinto muito o tempo todo, tenho ímpetos de escrever para as pessoas que amo do nada, ou de falar, ou de mandar mensagem. Percebo que elas ficam transtornadas e nem sempre entendem. É como se algo estivesse sempre pronto a acontecer. Mas não quero falar dos meus doidos pensamentos agora.
Espie a foto. De uma fazenda de Osório. Lugar que conheci em dezembro, não estava previsto, tive o prazer de conhecer e ainda poder voltar, três vezes em dezembro. Uma delas com uma pessoa especial, outra com minha mãe e filha, e a última com família da minha pessoa especial. Cada fim de semana nesse lugar mágico e cheio de natureza, muitos aprendizados. Muitas conversas e muitas constatações. Na minha última ida para lá, literalmente "desabei". Tive incentivo do álcool é verdade, e chorei. Chorei de convulsionar, como criança que acorda de um pesadelo ou que se machuca feio e passa mal de tanto chorar. Houve algo? Não. Alguém me falou algo? Não. Não era nada mas era tudo. É como se tivesse aberto a "gaveta" de 2020 e colocado tudo para fora. Todas as dores guardadas, as raivas, os enfrentamentos, as sobrevivências, os medos. Chorei como se não houvesse amanhã. Preocupei pessoas queridas. Zerei. Limpei. Depois dormi, apaguei. Acordei assustada com o som da própria voz na cama. Senti medo. Achei que estava na minha casa. Um minuto e todos os pensamentos em ordem e entendi o que havia ocorrido. Me olhei no espelho. Toda borrada da maquiagem, olhos inchados. 2020 talvez tenha sido isso: um borrão. Uma mancha! 
Lembrei da Dona Roma que havia falecido um dia antes, isso mexeu comigo. Ela me ensinou e inspirou tanto, senti a morte dela pelo vírus. Havíamos falado a poucos dias. Ela esperava tudo passar e queria que eu levasse Helena para ela conhecer e tomarmos um café. Já passei tardes com ela tomando café, entrevistando e falando de teatro. A última vez que a vi pessoalmente, foi no portão para levar um livro: "O menino das  nuvens de algodão". Ela leu e me escreveu o que sentiu. Tenho guardado, sobretudo no meu coração. Mania de guardar escritos e palavras. Presto atenção no dito e não dito. Sinto que o "não dito" às vezes, vale mais que palavras soltas sem sentido, ou ditas na raiva do momento. Lúcida, pedi desculpas, lúcida não fiz de conta que nada aconteceu. Lúcida busquei aproveitar o último dia desse lugar mágico e fazer as pessoas próximas sorrir. É como reajo. Com minha verdade. E minha verdade hoje é sempre tentar deixar melhor os lugares por onde passo. Essa semana recebi uma mensagem de um aluno querido que eu não posso esquecer, que faço a diferença na vida das pessoas e que preciso valorizar as que de verdade estão comigo. Tão real isso. 
Ainda tenho medos bobos, coragens absurdas. Nunca tive medo de me reconstruir. Espero que minhas filhas herdem isso. A coragem de ser quem se é. A coragem de perder o controle, a coragem de dizer o que sente e não esperar nada em troca. Nada! Pedi muitas vezes este ano que Deus me ajudasse dando serenidade. Não peço só quando preciso. Sei agradecer! Nas minhas viagens sempre que posso entro em uma igreja qualquer (não sou uma devota cristã), e agradeço. Poucos minutos para achar esse Deus em mim e lembrar que de alguma forma, não fui jogada nesse mundo doido por nada. Não passei tudo que já passei por nada. Sempre tem um propósito, acredito muito nisso. Pessoas que vem nos ensinar, sobretudo as que nos arrancam o coração. Me despedaço, mas não como antes. Um passo de cada vez agora. Digo que amo, mas me amo acima de tudo, exatamente como sou. 
Na saída deste lugar mágico, escuto dois seres falando (o caseiro amoroso e o tio engraçado). "Ela tem um parafuso a menos..." diz o tio. O outro ri e comenta: "ela tem um parafuso a mais."  Rio também. Isso para mim é um elogio. Achei engraçado a forma amorosa e simples de falar de mim. Percebem? O não dito que é dito? (risos de louca) Deixa para lá!
2020 me deu um cansaço absurdo, estive ocupada o tempo todo criando e tentando sobreviver dia após dia. Tomo conta de uma menina de cinco anos e de uma menina mulher de 19. Também tomo conta de uma gata, de uma cachorra, de vários alunos, algumas empresas, da minha casa, do meu carro, da minha grama, de mim, dos meus pensamentos e poderia listar horas de coisas que TENHO que tomar conta. Escolhas. Zero reclamações. Um amigo querido que escuta diariamente meus surtos há anos disse que preciso de férias, sobretudo dos meus neurônios, disse que trabalho com muita gente e absorvo demais tudo. Pode ser... Viver nesse mundo contaminado exige muita paciência que por vezes não tenho. 
Escrevo para mim, sempre. Minha forma de reconectar comigo. Escrevo e respiro. Meu momento de paciência no mundo. Aqui sou eu da forma mais pura e honesta. 
Te desejo e me desejo para o ano vindouro paz. Consciência. Verdade. Amor. E o mais importante: SAÚDE! 
Sem ela não somos nada e não podemos nada, mesmo!
Leve a sério sua vida, seu entorno. Temos responsabilidades nesse mundo. 
Não estamos aqui a passeio, entenda. 
Não brinque com as pessoas a sua volta.
Tá infeliz? Faz um café e converse olhando no olho.
Tá feliz? Faz um café e fale olhando no olho.
Independente de tudo, tome café (sempre) e fale!
Não deixe para depois, pode ser tarde demais.
Obrigado por me ler, ou estar comigo de alguma forma. 
Se você chegou até aqui, no final das minhas linhas, é porque de alguma forma está comigo.
Valorizo isso!



Um beijo.

Lisiane Berti 


 

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Qual a cor da tua alma?

Foto de Pablo Tomazi com maquiagem de Mariane Makeup e Hellin Santos  
Modelo e foto Pablo Tomazi
Maquiagem de @marianemakeup_oficial e @hellinsantos

O mundo mudou bruscamente. Agora é um instante. Você sente? Eu sinto o ar pesado, dores, cansaço, falta de ar, vontade de entregar os pontos em meio a tantas incertezas e dúvidas.  No meio de um ano que entrará para a história do mundo, como você se vê e se sente? Que cor tem tua alma hoje? Ainda consegue dialogar com ela? Tem sido apenas monólogo e silêncio? Será que já existiu ordem? Ou vivemos fingindo ordenar o tempo?  Tenho improvisado muito ultimamente, fico espantada com o as situações que se apresentam e como improvisei, adaptei e enfrentei. Não sabia que era possível, de verdade. 

Levanto-me. Horários mudaram. Tenho insônia, outros dias durmo bem. Penso muito. Difícil desligar minha cabeça. Meu corpo sentiu a diferença do tempo, das horas, o ar rarefeito. Muitos não tem aguentado a pressão. Vomitam asperezas e sofrem! Se fecham, brigam, adoecem, e até morrem da solidão e confinamento de si mesmos. Já me apavorei, a mesma terra que teve dinossauros, que criou gente que foi à lua, que descongelou geleiras, parou por um vírus invisível e minúsculo, porém fatal. Chega a ser irônico! Caos, pressão, dor, raiva, medo, incerteza, angústia, tudo veio à tona potente. Tivemos que enfrentar, nos olhar, mexer na caixa de gordura, olhar no espelho. Muitos despreparados. Frustrados! 

Nada existe de mais difícil do que entregar-se ao instante e não saber nada do amanhã. Isso é uma grande dor para nós seres humanos. Cada um se entrega ao que pode para não sucumbir a dor. Eu escrevo, leio e faço teatro. Escuto música ao meio dia ao lavar a louça, desligo a internet. Viajo sozinha para dentro de mim. Vejo cenas. Construo imagens e por um momento, tudo flui calmamente. Adoeci. Perdi a voz. Fazia tempo que não acontecia. Me apavorei. Perdi a voz porque não fui fiel a mim. Já sei onde errei. Estou entendendo meu corpo. Ele está poderoso e mais que nunca me envia sinais claros. Já não tenho como enganá-lo como outrora. Já não há mais tempo para mentir a si mesmo. Propósito! Toda vez que fujo dele me desconcerto, adoeço e me estresso profundamente. A escutar. A escutar. 

Hoje é segunda, a primeira de outubro. Plutão, a celebridade do invisível e oculto é o astro celeste da semana. Mal compreendido. A morte. O renascer. Mudança. Movimento direto. Tempos de transformações vitais. Inadiáveis e cruciais. Se resistir, dói. Tenho me dobrado ao meio. Fico com medo mas tenho mais força e coragem. Sempre tive! Meu coração bate acelerado. Só sei que nasci e estou vivendo exatamente o que escolhi. O que me propus. Algumas escolhas erradas lá atrás voltam com fantasmas icônicos. Observo, escuto a conversa e penso como pude errar tão feio? Porque não fui fiel a mim naquela época? Porque escondi quem era e fui quem era mais funcional. Defesa? Não sei.

Eu tenho tentado pintar minha alma como o Pablo aí na foto. Pedi a ele para usar a foto, pois quando vi me inspirou a escrever algo, e sou muito fiel a minha escrita, ela que me move, ela fala por mim. Ela me comanda. Finjo que domino, mas na verdade ela me toma por inteira e traça mundos... um mundo fantástico às vezes. Eis-me aqui, heróica, velha, cansada, mãe, atriz, professora, apaixonada, louca, neurótica, verdadeira, colorida. Tempos novos chegando, limpezas finais nos maturando. Não há como fugir. Não há para onde ir a não ser dentro das nossas arestas, sem frestas. Estamos sós nessa. Pinta a tua cara, pega a tua flor, cria teu ritual e vai. Luta por ti. Vive em ti. Cria teu mundo particular. Ninguém é mais importante que você mesmo. Cure-se! Ame-se! 

Tenho atingido estados interessantes sozinha, aprendido muito com pessoas que jamais imaginei, me afastado de pessoas muito íntimas, e que loucura isso. Vacilo na minha escuridão, mas meu mundo é de coragem e tem cor. Acredito no melhor e sigo pelo melhor sempre. Mesmo que me doa. Minha maior responsabilidade é comigo agora. E toda vez que fujo dela fico mal e adoeço. Trabalho sempre com gente achada e perdida. Vem sempre a palavra certa na hora certa. Encontro casualmente alguém que sempre tem algo a me dizer. Recebo mensagens de alerta que me espantam. Estou muito alinhada com tudo e apesar de ser assustador é libertador. Sou borra de café de grão especial, sei disso!

Acabarei minha inspiração com a foto do Pablo, com um escrito de Michel Seuphor:

"Tinha que existir uma pintura totalmente livre da dependência da figura - o objeto - que, como a música, não ilustra coisa alguma, não conta uma história e não lança um mito. Tal pintura contenta-se em evocar os reinos incomunicáveis do espírito, onde o sonho se torna pensamento, onde o traço se torna existência."


domingo, 21 de junho de 2020

Quando a vida da gente craquela...



Craquelado é um termo bem conhecido para quem trabalha com pintura, esmalte, gesso, argila ou maquiagem. Geralmente é quando se tem fendas, rachaduras ou trincado na obra. Ontem essa palavra veio forte na minha cabeça, tive um dia incrível, ou melhor, uma semana artisticamente produtiva, diferenciada, cheia de desafios e totalmente online. Encontrei ontem meu "eu particular" quando fui tirar fotos com um aluno e rimos muito porque eu não parava quieta e fazia piadas com caretas (jamais podia ser modelo fotográfica). Meu íntimo particular é divertido, brincalhão, desbocado mesmo, sensível. Eu penso demais, tem um amigo que me diz que não queria ser um neurônio meu porque coitados, estou sempre deixando eles na potência master, e quando não coloco gás com neuras desnecessárias. Meu mundo é mesmo o das ideias! Quanto eu tenho meus surtos criativos, me empolgo e quero dividir com o mundo as alegrias e descobertas. Mas aí entra o "craquelar". O mundo não está interessado nas minhas ideias, ou geralmente se interessa no início, depois percebo a revirada no olhar, o "ãrrrã" e aí vou finalizando e trocando de assunto. Silencio, dom que tenho exercitado ultimamente.
Enquanto o mundo morre ou mata por política e vírus, eu sempre digo "bendita pandemia", tem acontecido cada coisa incrível comigo, sobretudo no meu universo particular. Percebi o quanto sou idiota. Idiota ao cubo! (isso é bom gente, sério!) Me preocupo sofridamente com coisas que não precisava e dou um jeito naquilo que as pessoas acham impossíveis. A rainha das estratégias e do plano B,C,D...
Craquelo. Craquelo e craquelo. Fico com aquela sensação de contraste, de algo que foi aplicado em uma superfície e não foi bem "espalhado". Aí sempre me questiono "mas o que estou fazendo aqui?". "Para que?". Sinto que atropelo as pessoas com a minha arte e jeito de ser, falo demais, penso demais, sinto demais, quero tudo no nível master. Aceleradamente mas... meu amigo me diz "Lisi cada um tem seu tempo, e tu precisa respeitar o tempo das pessoas." Verdade! Eu tento, juro que tento mas e quando as pessoas não respeitam o meu tempo?A minha presença? A minha vontade? Não quero que façam minhas vontades, quero apenas que respeitem ou sejam honestos e me digam a verdade.
Uma das coisas que aprendi desde cedo com teatro é "como sair de cena". Posso ficar em cena e a luz apagar de fininho, posso "congelar" e a cortina fechar, ou posso acabar minha fala e sair de cena mesmo indo para a coxia. Minha filha mais velha diz que tenho alma adolescente, e sim, sinto que tenho, meu espírito é muito jovem num corpo que está envelhecendo (não tenho nenhum problema com isso mesmo). Os "gatilhos"para um trabalho de autoanálise tem vindo aos bombardeios com essa quarentena. Sinto que cada dia preciso aprender algo, sobretudo com quem me irrita (aqui pessoas da família mesmo).  Equilíbrio emocional, haja! Nas redes vejo indiretas idiotas de uns para outros (já fiz muito isso), brigas e argumentações errôneas sobre política,  futilidades, desfiles de vaidades absurdas e muita, mas muita falta de interpretação, da vida eu diria, porque de texto já foi faz tempo. Ando cansada da humanidade, como muitos. 
Mas não vim falar da humanidade, hoje não! Vim falar da minha reconexão num momento tão horrível para muitos. Eu me encontro dentro de mim, com meus neurônios em rave constante, meu coração apaixonado pelo que faço, minha intuição agudíssima e sempre certeira, minha essência. Fiz um tratado comigo, cada vez que pensar algo ruim ou idiota vou fazer uma ação simples positiva (mando msg para alguém que não via), abraço uma filha do nada, faço algo em casa que estava pendente. Tem funcionado melhor. Não sei ser diferente de como sou, eu exagero pra caramba eu sei, em tudo mesmo, mas eu nunca minto, eu nunca finjo ser quem não sou. Aviso de cara e quando piso na bola sou a primeira falar. Craquelar é difícil para mim, é como se pintasse o quadro da vida com muito amor e energia e na hora de compartilhar e mostrar, alguém jogasse um banho de água fria. Seco! 
Acredito que quem esteja lendo não esteja entendendo muito bem ou se questionando o que teria acontecido. Nada! Não briguei com ninguém, ninguém me criticou duramente, na verdade o maior problema sou EU comigo MESMA. To sendo impulsionada a lidar com várias coisas, acertar erros, me liberar do passado, ser mais paciente, entender que nem tudo vai poder ser sempre do meu jeito. Aprender a reaprender! Difícil isso!
Realmente escrevo aqui porque sei que poucos leem blogs porque os textos são longos, eu escrevo porque é onde me encontro e me liberto. Libero emoções... acordei hoje depois de uma noite de insônia pura com essa palavra na cabeça. Aí separei a palavra para brincar. CRAQUE - LAR! Craque do lar...talvez eu seja mesmo neste momento em que tenho que ficar em casa. O lar é sagrado, o meu é refúgio, gosto, só cansa um pouco a maternidade. Exaustivo fazer tudo em épocas de pandemia e ser mãe e dar conta, e escutar, atender, resolver, e aí quando tu consegue fugir disso para dar respiro... craquela, porque quem está próximo ou "quems" não estão interessadas nas tuas histórias e pirações. As pessoas estão cansadas, desmotivadas, estressadas, infelizes, violentas, possuídas, emboletatas (termo que uso para muitos boletos a pagar). E aí não tem tempo para ouvir. De verdade sabe. A louca do teatro com ideias mirabolantes, a adolescente apaixonada, a mãe surtada, a filha cobrada todo o tempo e assim sucessivamente. 
Ah se as pessoas soubessem tudo que rola no meu infinito, porque falo de dor como aliada no processo criativo... não é para ser FODA, TOP, DIFERENTE ou VENDER CURSO. É porque ainda estou liberando minhas dores, me entendendo, revirando tudo, mexendo em feridas profundas para sangrar de vez e limpar... não tenho medo de falar o que sinto e penso, mas agora entendi para QUEM posso falar o que sinto e penso... são coisas distintas.
Quando olho para o céu e vejo um dia frio e lindo como hoje penso "dia lindo para sumir", "dia lindo para estar nos braços de alguém" que não quer estar nos meus, "dia lindo para escrever sozinha",  "dia lindo para tomar café e divagar." 
Não estou deprimida, nem infeliz, nem mandando indireta a ninguém. Estou apenas liberando ideias depois de uma semana de trabalhos intensos e profundos com dores alheias, num curso online que foi incrivelmente desafiador. Muito mexeu em mim e nos outros. E mais uma vez não consigo compartilhar nem metade do que sinto, porque as pessoas não querem mesmo ouvir. Elas escutam um pouco e mudam de assunto ou sacodem a cabeça acenando sim e com a mente longe... A gente sempre sabe quando prestam atenção na gente não é verdade? Quando se preocupam, quando te querem bem de verdade. E pensando nisso, me sinto totalmente idiota. Idiota. Idiota! Mas se ser idiota é tentar ser minha melhor versão, não cometendo os mesmos erros do passado e seguindo, desculpem amigos sensatos, serei idiota eternamente! Porque nunca mais vou ir contra quem sou e o que sinto para agradar gente que que não faz ideia da minha história e de tudo que passei sozinha para chegar onde estou. Podem rir, podem julgar, podem blasfemar... eu até posso craquelar mas na Arte,  o craquelado pode virar obra prima de Arte. Não existe erro, existem tentativas, esboços e sempre há CRIAÇÃO. 
Crio todo dia meu mundo particular, e dentro de mim, tudo dá certo, é lindo, divertido, tem riso alto, tem café quentinho, tem vida. 

Lisiane Berti craquelada das ideias...




segunda-feira, 27 de abril de 2020

Parto Normal do Isolamento

Ator e sua Verdade 2020| Lisi Chaulet
Sérgio Azevedo Fotos

Tenho duas filhas. Ambas vieram de cesária por escolha minha. Desde que comecei o isolamento há exatos 38 dias, tenho enfrentando o parto normal do Covid. No início as contrações foram espaçadas e eu conseguia apenas com a respiração contornar as supostas dores. Agora, elas estão com intervalos curtos, quase sem interrupções e até mesmo respirar tornou-se difícil, exige uma concentração absurda. É preciso nascer, ou melhor renascer no meio deste cenário pavoroso. Renascer é mais doloroso que nascer, porque a impressão que tenho é como se tivéssemos saído da placenta, espiado para fora da barriga e percebido que ainda não era hora, que dava para esperar. Agora não dá para esperar! É preciso sair, e talvez sejamos tirados a ferro, com muita dificuldade. Se reinventar? Como? Como? Como?
Comecei a fazer o exercício dos momentos da minha vida que "saí da placenta" mas não cortei  o cordão umbilical. Já tive que me reinventar várias vezes na vida, e nenhuma foi fácil. Nenhuma! Aos 8 anos, tive que morar com minha avó e só via meus pais fim de semana, porque meu pai foi transferido pelo trabalho. Eu lembro desse ano como se fosse hoje, era difícil ficar longe deles, era difícil me adaptar, lembro que nesta época um bicho mordeu meu olho e ele inchou e fechou, a cena que me vem é eu sentada na frente do espelho observando meu olho e chorando porque ninguém sabia que "bicho tinha me picado". Lembro depois de um episódio na escola com uns 10 anos, quando sumiram canetas e fui acusada de roubo. Fui chamada na secretaria e chorava, porque não tinha sido eu. As malditas canetas apareceram na lixeira da sala (quem roubou devolveu) e eu na vida, nunca tive coragem depois disso de pegar um chiclé ou qualquer coisa na vida. Até na casa da minha mãe que tenho chave, quando preciso de algo, aviso ela antes que vou lá pegar algo X (ela ri e diz que não preciso avisar...mas eu não consigo). Adolescência marcada por dificuldade extrema de me relacionar com meu pai. Eu não fui nunca o que ele queria que eu fosse de certa forma, mas não fui nem perto de uma adolescente problemática. Não usei drogas (como muitos já pensaram), não engravidei cedo (como muitos pensavam), não vivia bêbada e promíscua (eu acho que não...kkkk) tudo porque logo cedo  o teatro e a escrita entraram e atropelaram positivamente a minha vida. Eles sempre me salvaram do pior de mim e do mundo. Em 2010 um dos momentos mais pesados e sérios de reinvenção profissional, onde todos que trabalhavam comigo partiram, não tive escolha e forçosamente tive que me reinventar (daí veio a troca do nome "Grupo Artigos" para Cia Lisi Berti me apropriando do meu nome, surgiu o primeiro livro com as minhas peças e surgiu a minha pesquisa do Ator e sua Verdade que me acompanha com muito sucesso até hoje). Em 2015 vivendo uma suposta e incrível história de amor, fiquei um ano tentando engravidar da minha filha Helena, quando desisti consegui, e para minha surpresa lá estava eu grávida, construíndo minha casa e sozinha, o mundo caia na minha cabeça pois a pessoa que eu achava que conhecia, tinha outra mulher que também estava grávida, entre mil e outras histórias que nem vale a pena lembrar. Meu coração se despedaçava e em nenhum momento passou sequer pela minha cabeça (como também já me falaram não ter Helena). Eu lembro  que decidi que meu fundo do poço tinha uma mola, desceria mas subiria com impulso e mais uma vez o teatro foi meu melhor amigo. Trabalhei todos os dias até a meia noite do dia que antecedeu o parto. Ganhei minha filha sozinha, quem segurou minha mão foi minha madrinha já falecida e fiquei num quarto com mais três mulheres e seus esposos  que me olhavam e eu podia ver no olho a pergunta "onde está o pai?". Com toda a força para surpresa delas, no outro dia fui sozinha ao banheiro e uma delas me perguntou como eu conseguia com aquela dor insuportável, eu lembro que calmamente respondi que a mente comandava o corpo. Quem me visitou foram alguns colegas de teatro e lembro quando dois atores do korvatunturi (Pedro e Guigo) foram na minha cama, me abraçaram e desejaram só coisas incríveis. Ríamos e ali soube que com Helena tudo seria diferente mas sempre com muito amor. Saí do hospital incrivelmente bem e "trabalhada na autoconfiança", ainda com os pontos da cesária já dirigia e me virava, porque TUDO era comigo, eu só tinha eu mesma para cuidar da minha filha. Me reconstruí, renasci mais uma vez e apesar de toda a dor, uma nova Lisi renasceu com a Helena.
Este ano de 2020 havia começado incrível. Muito trabalho, muitas pessoas maravilhosas próximas, projetos e um suposto novo amor no ar, preenchendo meu coração já calejado. Filha mais velha em intercâmbio tornando-se uma grande mulher, o perdão e o reencontro com pai da Helena em fevereiro, onde tive a certeza que não sinto mais nada, nem raiva, nem ódio, nem rancor, nem amor. Zerei. Zeramos. Agora é ele com ela, e o entendimento dele disso, apesar de difícil está apenas começando e pelo que vi, será bem mais doloroso que o meu. Março chegou e os rumores de um vírus na China, de repente um áudio da filha na Dinamarca dizendo "mãe é sério, estamos comprando comida e entrando em quarentena aos prantos." De repente todos os eventos, apresentações treinamentos e aulas foram canceladas. Ruas desertas e isolamento. Oi? Fechada dentro de casa com Helena no auge da sua adrenalina, uma cachorra, dois gatos e mil pensamentos. Adaptação. Nos adaptamos bem até final de março. Havia esperança de que não, não pode ser assim tão grave isso...
Notícias de amigos de teatro da Itália, Equador, Peru, Colômbia, Espanha chegavam e sim, era mais grave a catastrófico do que pensava. O mundo parou! O vírus nos pegou de calças na mão, nem deu tempo de correr (até porque não se pode sair de casa).E sinto que é hora de renascer, não consigo esperar para ver o que virá, preciso emergir do caos e buscar soluções para minha vida profissional, financeira, social e SAIR DA PLACENTA CORTANDO O CORDÃO UMBILICAL. Mais uma vez o teatro está comigo, me apoiando e preciso fazer mais do que nunca que ele chegue nas pessoas tristes, deprimidas, amedrontadas. Decidi postar poemas, fazer contos na rádio...agora decidi me reinventar com um seleto grupo de amigos para ações a curto prazo que renda a nós pelo menos pagamentos de boletos. Nossa área foi super afetada e não sei quando poderemos ter  o contato. Teatro é a arte do encontro, do afeto, do contato. Não poder estar no palco, dando aula e fazendo o que amo tem sido muito doloroso mas, fui indo para outras áreas que não pensava como da locução comercial, aulas online, escrita. 
Não tenho medo porque na minha vida, graças a deus, nunca tive que me reinventar e renascer depois de uma doença ou um acidente grave (talvez passe por isso ainda). Tenho saúde, mas não tem como não pensar por exemplo em uma das pessoas especiais que está na minha vida e que sofreu um grave acidente, onde tudo teve que ser repensado, adaptado até porque ele teve uma perna amputada. Eu sempre me coloco no lugar dele e penso como ele conseguiu sobreviver a isso, a essa nova vida, ao afastamento das pessoas que se diziam amigas, adaptações físicas, emocionais...haja cabeça, haja força, haja psicológico. Conversamos muito sobre isso, e ele só é quem é, com esse coração generoso e alma nobre justamente pelo enfrentamento, parto normal o dele com sérias complicações. A vida falou mais alto, uma nova chance. E ele, do jeito dele, agarrou, lutou, sofreu, venceu, vence a cada dia quando não se entrega. As marcas no rosto que eu chamo de história e ele de rugas, deixaram ele mais forte, com mais hombridade e simplicidade. Bingo!  Como agradeço ter ele agora, segurando minha mão. Tem sido incrível!
Eu decidi que vou renascer, cansei já do marasmo, das "férias forçadas", não parei de produzir mas podia ter produzido bem mais. Tive preguiça, medo, raiva, ansiedade, comi, chorei, comi, dancei, tomei café como se não houvesse amanhã. Fiz coisas novas, descartei velhas. Percebi quem segura minha mão de verdade e quem finge que segura por conveniência. Nunca essa gestação foi tão louca, adversa, incrivelmente esclarecedora. Cada vez que duvidei o Universo me mandou um pequeno sinal, que soou como uma bofetada para eu aprender a não desacreditar. Nasci. Chorei. Berros! 
Quantos partos ainda terei na vida? Não sei, mas sei que terei. Não acaba aqui. Cada recomeço tem um ponto de início e fim. Aprendi com os outros trabalhos de parto. Aprendi com as minhas dores, não tenho vergonha alguma de falar delas, são minhas aliadas e justamente elas que me fizeram ter ideias incríveis que logo saberão para sair da minha crise e pagar meus boletos (porque o príncipe dos boletos é lento, tem a torre dele, o médico dele e está isolado comendo salmão e tomando chandon. Ele é tão, mas tão arrogante e chato que jamais teria um homem assim ou esperaria por um para estar ao meu lado). Meu tempo é precioso, raro e não vou dividi-lo com qualquer babaca que aparecer, até porque tive alguns aí na vida que SE-NHOR... deu né! Agrega ou me erra! Simples. Sem escândalo, viro as costas e sigo meu rumo. Isso eu sei fazer desde sempre e com elegância. (Lembra da minha saída triunfal do hospital lá no parágrafo de cima?).
Acompanho os noticiários do vírus aqui no RS, no Brasil e mundo. O cenário ainda é ruim, bem ruim. Acompanho nossa crise politica e econômica, que tem nos deixado perplexos e confusos. Calma. Não deixem o cordão umbilical enrolar no pescoço. Não sufoquem. É tudo que eles querem. Que nem tenhamos a chance de renascer. Eu decidi nascer com força total. Um rebento ! Rebento e arrebentando o mundo com o que sei fazer: lidar com pessoas, emoções , dores fazendo TEATRO do meu jeito.
Parto! Parto normal! 
Lisiane Berti, 27 de abril de 2020. Renasceu às 11h23min. (perto do almoço...kkkkkk)

Sérgio Azevedo Fotos
Eu fazendo o que mais amo...



sexta-feira, 17 de abril de 2020

Uma Carta de Amor para Ísis


Há uns meses atrás, quando escrevi aqui uma carta de amor para Helena, lá do outro lado do mundo alguém me disse "e a minha, fiquei com ciúmes"... Bom, tudo tem seu tempo, e chegou a hora de falar da outra filha, a Ísis.
Ela está na Dinamarca desde de agosto de 2019, em intercâmbio e se tudo correr bem (e há de correr) retornará dia 06 de maio agora, de 2020.) São 10 meses quase sem ver e abraçar fisicamente a minha libriana. Os primeiros meses dela lá eu praticamente não vi passar, porque muitos coisas aconteceram aqui, eu acabei emendando viagens e trabalhos sem parar e nos falávamos na corrida.
Outubro chegou e ela completou 18 anos lá. Não foi nada bom, tampouco horrível, apenas diferente. Depois veio as datas chatas de Natal e Ano Novo, as férias e para completar a saga do COVID19, ela entrou em isolamento muito antes de nós brasileiros, e claro, com isso surtos, inseguranças, medos daqui e de lá.
Quantas coisas passamos, não só agora no intercâmbio, mas desde sempre. Nos conhecemos melhor que ninguém, somos amigas, nunca brigamos, e quando ficamos chateadas uma com a outra não batemos boca (diferente da Helena), vai cada uma para seu canto, quando a cabeça esfria conversamos. Sempre digo que ela é a mãe e eu a filha, quando ela vem com "Lisiane por favor", pode saber que vem bronca ou um xingão bem sério, ou eu postei alguma foto dela que ela odiou e "queimei o filme". Ela é pessoa mais calma e equilibrada que conheço, mesmo quando se desequilibra. Amorosa, inteligente, dedicada, a melhor irmã que a Helena podia ter. Nunca tive problemas com ela quanto a comportamento, estudos, confusões, bebidas...sempre brinquei que eu aprontei muito mais que ela na adolescência. A Fify! Que saudade dessa menina de cabelos longos (invejo ao cubo). Que falta ela fez e faz!
Estamos agora na torcida e organizando a volta. Já teve cancelamento e troca da data da passagem pela cia aérea, no meio dos surtos e medos falamos que esse intercâmbio será lembrado na velhice dela, não como o melhor ano, mas como o mais difícil e cheio de desafios em meio a uma pandemia mundial. Se agora não entendemos o porque de tudo, com certeza lá na frente vamos olhar para trás e compreender os ensinamentos e lições disso tudo. Que ano, senhoras e senhores, que ano!
Foi uma Ísis, voltará outra. Deixei uma menina no aeroporto e busco uma mulher. Quantas histórias, choros sofridos, noites mal dormidas, risadas, compartilhamentos... quantas chamadas, papo, fofocas...
Como é bom ser mãe dela. Que bom que ela me escolheu para essa jornada! Não podia ser melhor a relação de afeto que temos, de respeito, de força e integridade. Sempre digo e já escrevi isso aqui, que se estivéssemos numa guerra, Helena estaria com escudo na frente enfrentando todo mundo, eu no centro com estratégias e coordenando o ataque e a Ísis cuidando dos feridos, levando palavras de amor e harmonia. Assim somos aqui. Um triângulo. Uma é a base da outra. E em breve, estaremos as três juntas novamente... eu acredito muito nisso!
Bom minha filha amada, sei que lerás isso, em algum momento, então só para te dizer (já disse várias vezes) que eu só te amo, és um grande presente na minha vida, aprendi muito sendo tua mãe e tenho aprendido. Cada vez que olho para ti meu coração se enche de alegria, de saber que és MINHA FILHA, por onde passas deixas a estradinha de tijolos amarela iluminada (tipo Dorothy), sempre sabes onde vais, no fundo sempre soube. Apesar de algumas dúvidas e alguns fantasmas de falta de confiança que permeiam, tu sempre sabes para onde ir, porque segues o coração e és justa, sobretudo contigo. 
Estamos juntas, não importa por onde fores trilhar tua jornada, sempre saberás para onde regressar e que sempre estarei aqui, de braços abertos, do meu jeito "peculiar" te apoiando e esperando.
Te amo, e não vejo a hora de te encher de beijos e tu dizer "ai mãe, deu". 
Muitos segredos trocados, muitas alegrias, muitas comilanças....
Viva a vida! Fica bem! Estamos contigo sempre e tu sabe e sente!
Até daqui a pouco, ali, logo ali, depois da curva ali...
Com amor...
tua mamys 

                                           



segunda-feira, 30 de março de 2020

COVID...CONVIDE...COM VIDA!!



Ei você? Está por aí? Vamos conversar um pouco? Se quiser, claro! Sei que anda complicado acompanhar redes sociais e televisão né? Muita notícia jogada aos quatro cantos, muitos entendedores de tudo. Opiniões divididas, decretos que mudam a cada dia. Sai de casa, não sai? Quarentena. Vírus! Economia x saúde x religião...
Fomos pegos literalmente com as calças na mão, não é mesmo? Por essa ninguém esperava. Ouvimos rumores, mas parece que enquanto não acontece com a gente, não damos bola. Coisa de ser humano hipócrita né...Sim, somos! Não escapamos da própria hipocrisia. Então o COVID19 está aí, no ar, invisível e mais potente que uma bomba atômica, assolando países e virando nossa vida do avesso.
Tem uma carta do tarô que pra mim parece descrever o momento: O LOUCO! (aquele que aparece de cabeça para baixo). É assim que estamos e não sabemos por quanto tempo vamos ficar.
Curiosamente e comicamente (não quero falar da parte trágica, a mídia já tem se encarregado de vomitar diariamente)é justamente quando estamos de cabeça para baixo que ficamos em contato com o "chão". Sabe o cisco que não foi visto? Sabe o ângulo que na correria da vida passou despercebido? Sabe a tua casa que você só parava para dormir, praticamente? Bem vindos! Estamos vendo tudo , forçosamente, de outra forma. Para alguns é desesperador, eu sei! Para outros, libertador! Tudo vai sempre de como você encara isso! Qual teu ângulo de visão? Se você viu o "cisco" agora, vai limpar ou fingir que não viu, deixando acumular mais sujeira? Metáforas...
Tua casa, tua economia, teus pensamentos, tua família, tua saúde. Mesmo que você não queira ou não acredite, todos os teus movimentos agora, mesmo no conforto da tua casa, vai afetar mais que teu umbigo. É meu querido, assim está sendo! Acredite!
Uma faxina planetária! Começamos a ver e ouvir coisas de pessoas que contradizem suas ações. As redes sociais poluídas de ódio, fake news, exibicionismo, futilidades e um pouco de empatia. (Eu disse pouco, bem pouco). Ansiedade pegando, contas batendo na porta, imprevisibilidade de futuro. Ninguém sabe quando isso vai acabar. Existem previsões de contágio, de pico, de tudo...mas não há data certa para tudo voltar ao "livre". Estamos vivendo como personagens de Saramago do "Ensaio sobre a Cegueira". Surreal e tão real ao mesmo tempo. Comemos, bebemos, olhamos séries, celular, dormimos, faxinamos, vamos com cautela ao mercado. E seguimos uma rotina fingindo que estamos tirando de letra, quando na verdade estamos, na grande maioria quase surtando. Momento difícil, bem complicado, onde a Arte, a música e o esporte estão salvando vidas dentro de casa. (contém ironia).
Da minha parte como artista, tentei postar por dia um poema curto na quarentena. Uma forma de contribuir para amenizar o caos. O Covid te convida a isso. Ao medo, ao pânico e ao caos! Mesmo sendo ele minúsculo e invisível. E poderoso! Parou o mundo! Fez o papa rezar uma missa sozinho enquanto o mundo refletia em casa seu momento. Cada um apegado aos seus deuses, suas teses, suas críticas, suas teorias, suas marcas, suas receitas, suas lives, suas sobrevivência. Há pouca transparência!
Poucos, bem poucos sairão ilesos de tudo que estamos vivendo. O vírus vai nos afetar em grande escala, introspectivamente. Sairemos com vida, mas com outra vida. Com outra forma de pensar e reagir. Acredito nisso! Os "podres" e escrotos, continuarão mais podres e escrotos. Há os que ainda acham que são impenetráveis por tudo que ocorre, seguem suas vidas frustradas e infelizes com carro importado, arrotando caviar e falando mal dos outros. Porque "os outros" nunca interessaram, a não ser que se possa ter lucro sobre eles.
Não amigos, não estou irritada, mas sim, já surtei, chorei, tomei baldes de café, até aprendi a cozinhar (odeio), to comendo cebola (sempre detestei), comecei limpeza mas parei porque não tenho paciência, comecei umas três séries, comecei livros, escrevo, falo com amigos. O que me salva? Minha filha menor e sua cachorra e a esperança da filha maior realmente voltar da Dinamarca em maio, sã e salva. Tenho buscado estratégias de sobrevivência. Um dia de cada vez. Tenho obrigatoriamente convivido mais com a família, mas agora mais atentamente. Muitas mãos apareceram para apoiar (de longe e com álcool gel). Outras continuam a violentamente apontar e buscar culpados. Eu cansei de gente assim. Me afastava antes, agora obrigatoriamente em quarentena tento manter elevado os pensamentos. Quem te quer de verdade vai estar contigo. De um jeito ou de outro. Mandando uma palavra, ou oi, uma música, ligando. Pequenas gentilezas que o mundo esqueceu. Somos reféns agora da tecnologia, óbvio que seria muito pior enfrentar isso sem comunicação direta. Morreríamos deprimidos. Mas pasmem, saber e ver tudo todo o tempo, também nos deprime. O abraço nunca se fez tão necessário. A presença, amigos! Nada nem ninguém substitui a tua presença. O afeto! Sempre fomos carentes de afeto, mas disfarçamos bem... Com as redes sociais, viramos "experts" em fingir plenitude e felicidade.
A verdade é desconfortável não? Duas palavras que conduzem minha vida desde 2010 quando surgiu O Ator e sua Verdade. Olhar para dentro de si não é para os fracos, mas pode nos enfraquecer quando nos deparamos com o pior de nós mesmos... "os ciscos" que não limpamos ou fingimos que não vimos. Eles emergem agora com força total com o vírus. 
Nada que eu disser vai melhorar a tua dor ou loucura, ou a ânsia de sair de casa e voltar a trabalhar. Só tu sabe da tua história. Mas te digo, aproveita a faxina interna, limpa, transmuta, vive esse luto pelo mundo, chora, fica quieto, come se quiser, ou simplesmente não faz nada. Mas faz algo para ti e por ti. Diz aos que ama, que ama! Escreve para quem tem faz falta. Libera as emoções presas...presas por décadas, o vírus só está fazendo elas emergirem. 
Sairemos COM VIDA! Eu acredito! Minha fé, apesar dos boletos é maior que tudo! A mesma Arte que me paga, me conforta, me acalenta, me move, me domina. Hora de ir em busca de soluções! Mesmo assim os "humaninhos virulentos" (não de covid19, mas de mediocridade) estarão por aí ainda, sempre estiveram, pior que a peste negra, que a gripe espanhola, que o sarampo, que a tuberculose. Eles se aglomeram na calada da noite, riem na cara do perigo porque se acham imbatíveis. A esses todo meu carinho, precisarão muito de ajuda quando a pandemia passar. Aos garanhões de plantão, que se aproveitam da dor e fragilidade alheia para "cantadas frívolas', (risada debochada) vocês ainda acreditam que isso funciona? Se vocês não tem capacidade de encarar uma mulher de frente e mostrarem quem são de verdade, usem os dedos das teclas que vocês vivem escondidos para exercitar além do membro peniano o cérebro de vocês, se é que ainda possuem.
Falam tanto de nós artistas, nos colocam geralmente no pior escalão, somos rotulados sempre com o que há de mais escroto e podre e incrivelmente, nós é que trabalhamos com os filhos dos casamentos falidos, com as mulheres traídas, com os sem autoestima, com o milionário sem amigo, deprimidos e suicidas com AMOR e EMPATIA e por aí vai... e agora mais que nunca, além dos profissionais de saúde e tantos outros que estão colocando o "seu na reta", nossa Arte tem sido um alívio, um bálsamo no meio da pandemia.
Não tenho medo do vírus, tenho tomado minhas precauções e cuidados. Tenho medo do pós-vírus, das pessoas que não saberão viver nesse "novo mundo" onde o coletivo vai imperar. Separação do joio do trigo queridos. Escolhas. Quem você quer de verdade do seu lado? Quem vai aguentar você como você realmente é, e ainda te amar? Vai valer o carro importado, a roupa de marca, ou o abraço apertado e carinhoso de quem se preocupa contigo de verdade? Pense nisso? Tenho praticado esse exercício diário. 
Como falei do maravilhoso Saramago, encerro minha escrita (no meu blog, no meu face, onde ninguém é obrigado a nada):

"A pior cegueira é a mental, que faz que com que não reconheçamos o que temos a frente."




sábado, 15 de fevereiro de 2020

Uma Carta de Amor para Helena



Minha pulga Helena!
Escrevo e com certeza lerás esta carta muito a frente, faço questão de escrever aqui para que fique registrado e salvo na "nuvem", a escrita sempre é um grande registro, para mim libertador. Em março de 2020 completará cinco anos e quanta história linda temos para contar juntas. Quanta luz e aprendizado  trouxestes  à nossa família. 
Te escrevo porque hoje, dia 15 de fevereiro de 2020 teu pai embarcou de volta para o Peru. Ele ficou aqui duas semanas, para minha surpresa por conta dele. A última vez que vocês tiveram contato físico foi aos seis meses, no teu batizado que por sinal foi lindo, feito em casa com muita emoção e choradeira pelos dindos e pela minha amiga Ana Alves que recitou belíssimas palavras. Durante estes anos eu guardei todos os presentes feitos na escolinha pelo dia dos Pais, sempre contei a ti que teu papai morava longe, que vivia em outro pais, no início tu não entendias muito isso, nas videochamadas muitas vezes nem queria conversar, e chamava teu pai de "titio".
Eu e teu papai tivemos uma linda história de amor, onde o teatro, um festival de teatro no Peru nos uniu. Você não veio por acaso, foi extremamente planejada e eu fiquei um ano tentando engravidar, depois de já ter uma outra filha linda adolescente, Ísis. Quanto ao porquê de não estar  mais com teu papai, foi uma escolha minha, mais minha do que dele acredito, mas essa história te contarei um dia tomando um café, ao som da chuva, quando já tiveres possibilidade e consciência para entender.
Para minha surpresa, quando viste teu pai, saiu correndo e abraçou ele forte. Parecia cena da novela das oito. Abraçou pegou a mão e saiu falando "pai". De cara disse "que saudade eu estava de ti papai". Teu pai emocionado. Eu aliviada e ao mesmo tempo feliz por te ver feliz.
As duas semanas não foram fáceis para mim sabe minha filha, eu havia conversado com teu pai em 2019 no Peru e tínhamos alinhado a possível vinda, que eu honestamente não acreditei até ver ele chegando mesmo. Os bastidores tiveram um clima pesado, tenso, desconfortável. Mas sempre que tu chegavas, "quebrava o gelo", irradiava luz e é como se a nuvem de tensão se desfizesse. Teu sorriso me lembrava do porque fiz tudo isso e para que fiz tudo isso. Por ti! Não quero que penses "mas eu não pedi isso". Sei que não pediste e talvez no futuro a gente até discuta por isso. Mas agora, eu não podia e não me sentia no direito de fechar a porta para o teu pai. Foi um dos homens que mais amei, mas que também mais me fez chorar (porque deixei, afinal ninguém faz nada a ninguém sem consentimento).
Nunca tinha visto teu pai como PAI. Vi ele como ator, como músico, como amigo, como namorado, como professor, mas como pai foi a primeira vez. Ele é extremamente amoroso e cuidadoso. Tem uma paciência contigo que eu não tenho. Te ensinou joguinhos, contou histórias, vocês dois tocaram flauta, levei vocês em lugares para que fizessem passeios juntos, só os dois e se "re-conhecessem" como pai e filha.
Não me arrependo. Não me arrependo de nada e faria tudo de novo. Teu olho brilhante e teu sorriso valeram qualquer dia com "nuvenzinha pesada". Eu, tua irmã Ísis (que mesmo longe perguntava como tu estavas com tudo isso), os amigos, os colegas, a família, te amamos muito, e quando fores maior e puderes tomar tuas decisões, nós estaremos contigo, te apoiando sempre. Porque família é isso, é apoio. É proteção, é carinho, entendimento. E nós três (eu, tu e tua irmã) temos esse triângulo forte bem resolvido entre nós. O triângulo é a forma geométrica que representa a santíssima trindade em algumas culturas. O início, o meio e o fim. O equilíbrio das três forças divinas. A letra delta que representa mudança, fluidez ou um circuito que volta ao princípio. 
Mergulhei no meu passado, saí ilesa dele. Para mim foi um tsunami de emoções, certezas, convicções e a página virada. O caminho agora é teu e do teu pai. Eu fui a ponte, se é que me entende. Ao mesmo tempo que tive esse passado movimentando as duas semanas, também tive um presente lindo, com pessoas incríveis me mandando apoio, amor, cuidado e carinho. Uma pessoa especial que me estendeu a mão, ficou todo o tempo me "oxigenando" de amor quando jamais pensei que poderiam ainda existir pessoas assim.
Estou bem! Voltando ao eixo. Orgulhosa de mim e da mãe/mulher que me tornei sozinha. Quem lê talvez não saiba porque estou escrevendo isso. Alguns conhecem a história outros nem fazem ideia. Não estou me expondo, tampouco minha filha. Escrevo sobre amor e verdade, cruciais no trabalho que tenho tentado desenvolver com o teatro. Preciso ser coerente entre o que falo e faço. Sobretudo minha filha, para ti. Quero que cresças forte, bem resolvida, amorosa, inteligente e que sim, acredite no amor. Em todos os tipos de amor: pelas pessoas, coisas, seres, mas sobretudo no AMOR PRÓPRIO! Por que se te amares minha filha, jamais vais mendigar amor, jamais vai deixar que te atropelem por amor... Seja você sempre! Linda, divertida, luz que ilumina o caminho das pessoas.
Te amo! Teu pai te ama! Te amamos! Isso é o que importa! Neste dias tenho certeza que te sentiste muito amada. Acarinhada. Te senti radiante! Tu tens 50% arte peruana neste corpo, e 50% arte brasileira, ou seja 100% artista. Não tem como fugir disso, mas também não vou te impor isso. Se cresceres e trilhares outro caminho, estarei contigo, segurando tua mão, como sempre fiz.
Eu te amo! Chorei, sorri, me estressei, sorri, brinquei, aprendi, resgate, mas sobretudo fui verdadeira comigo e meus sentimentos. 
Acabo minha carta com olhos cheios de lágrimas, não de tristeza e dor, mas de saber que neste momento fiz o que consegui fazer, não sei se foi certo ou errado e não me preocupo com os julgamentos, como sempre digo, sou eu que pago meus boletos, sou eu que escrevo a minha história. Sei quem sou, sei onde estou e onde quero chegar. Tu e tua irmã jamais me impediram de realizar sonhos, muito pelo contrário, me inspiram cada vez mais a seguir e me tornar a minha melhor versão.
Obrigado por me escolher para ser tua mãe nessa vida, Helena. Me sinto honrada e tenho aprendido muito contigo. 
Agora tu dizes que tem dois pais, o papai de "Machu Pichu" e o vovô pai (que tem sido o melhor vô do mundo contigo, resgatando o pai amoroso que não conseguiu ser comigo).
De todo meu coração, sejas feliz "minha gordinha"!
Mamãe "louca"...
Lisi





                                      


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Vamos falar de amor?

Sérgio Azevedo Fotos

Amor. Casamento. Essas palavras nem sempre andaram juntas. Antigamente os casamentos eram arranjados pelos pais para que o dote fosse estabelecido. Uma garantia quase de sustento. Com o tempo houveram casamentos/associações onde seria bom que a "família tal" se unisse com a "família tal" ambas de renome, por uma questão de acúmulo de patrimônio. Também tivemos o casamento romântico, aquele focado só no amor, que tinha como compromisso "sempre juntos" e de repente o sempre juntos se transforma numa absurda rotina, passam-se os anos, as pessoas apenas "suportam-se juntas" mas já não se amam, se toleram. Aí veio a contemporaneidade, a era digital e o casamento/amor ficou quase obsoleto. Você pode arranjar uma pessoa em dois cliques, ir para algum lugar em três cliques, mudar o perfil para "relacionamento sério", amar, desamar, brigar, se expor em rede social e tudo fica instantâneo, superficial. Clica e fim!

Falar de amor nunca foi tão urgente e necessário. Todos os dias somos invadidos por notícias de violência e indiferença, basta ouvir os noticiários. Parece que o desamor tomou conta de nossas vidas. Os poetas, seres amorosos e intensos por natureza, já sabiam e sempre tentaram explicar através de rimas e sonetos e inclusive nos alertaram sobre isso. Amar todo tipo de amor. Amor as coisas, as pessoas, aos seres presentes ou que já partiram, oniscientes, amar a si e ao outro, amar quem nos ama, amar quem nunca nos amou. É tempo de celebrar o amor, adaptá-lo à sua própria realidade, fugindo dos clichês e trazendo só o que realmente vale a pena.
Quando a Carol e a Bibi me convidaram para o casamento, eu sabia que não podia perder e me organizei para estar presente. Acompanhei o inicio de tudo e o quanto o AMOR (eu disse amor) mudou a vida dessas duas mulheres incríveis e corajosas. Não lembro qual tinha sido o último casamento que tinha ido, não gosto muito desse ritual e nunca foi meu foco. (Nunca casei apesar de já ter morado com outras pessoas, mas o sonho de noiva nunca se fez presente em minha vida).  Um lindo final de tarde de um sábado ao ar livre, o tempo mudou mas o amor sempre vence. Abriu-se um céu lindo (quem mora em Canela sabe que chuva é cotidiano por aqui e sempre você precisa de um plano B caso tenha algum evento na rua). O cenário: Magnólia! Lugar antigo, rústico, descolado e de bom gosto, uma das casas  mais antigas da cidade assim como o amor. Convidados selecionados a dedo. Nada de convidar o mundo todo para se "mostrar" como  a maioria dos casamentos, ali estava quem elas amavam, e quem amavam elas. Artistas. Música. E que música, as noivas entraram ao som de Johnny Hooker "Flutua" cantado a quatro vozes incríveis. Emoção estampada nos olhos marejados de todos. Palmas. As noivas lindas, cheias de personalidade e com olhos brilhantes entram em cena... Não há inveja! Há orgulho! Orgulho de duas mulheres que não tiveram medo de quebrar todos os padrões possíveis e estarem juntas. A cerimônia foi uma aula de como o amor pode mudar as pessoas. Música, discursos emocionados, benção, pai nosso. Eu sutilmente saí do meio dos convidados e me posicionei numa mesinha onde podia ver toda a cena de longe. Adoro observar plateia. Além dos convidados, na rua haitianos e outras pessoas passavam, paravam e contemplavam. Eu disse, contemplavam... não era curiosidade como quando acontece um acidente e todo mundo quer espiar, era olhar e sentir o amor. Porque amor de verdade inspira, mexe com a gente, transforma.

Cerimônia linda. Recepção linda. Gente linda. Festa linda. A cara delas! Personalidade!
Nos dias obscuros que vivemos poder presenciar um casamento assim, onde há amor, escolha, verdade, olho brilhante, ternura, afeto, companheirismo é gratificante. Me senti honrada de estar por lá. Honrada em fazer parte dessa história linda que a Carol e a Bibi protagonizaram e seguirão firmes. Sim, porque firmeza não falta a essas duas. Força, coragem! Mulheres de "culhão" sabe, se é que me entendem!

Tudo que mais precisamos é amar, não por escolha, mas por uma questão de necessidade. É hora de unir versos, conhecer e respeitar outros universos, ser como se é, amar o que se tem, quebrar padrões e fazer a sua travessia. Nem tudo ou quase nada são flores, mas para alcançar o amor, seja ele qual for, você precisa entender que vai ter tudo em tão pouco e agradecer por isso. Que sejamos intermináveis em nossa entrega!
A Carol e a Bibi eu desejo assim como o Cazuza, todo o amor que houver nessa vida. Felicidade! Sigam sendo e fazendo exatamente o que vocês são! Amamos vocês! Nos reconhecemos em vocês! Festejamos com vocês! Choramos com vocês! O amor venceu mais uma vez! Na verdade ele sempre vence, mesmo que a gente relute em aceitar.

Viva o amor! Vivam as "chamis" mais fodas da cidade...

Carol e Bibi


segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Ator e sua Verdade - edição especial 10 anos

Foto de Fê Furtado


Eu não poderia falar dos dez anos de Ator e sua Verdade, sem olhar para trás, em toda a trajetória. Toda a minha busca, as minhas confusões internas e externas, minhas dores, alegrias e desprendimentos. Cada intensivo teve sua importância, foi marcante e providencial no seu ano. Marcou a vida de pessoas, mudou outras, não fez sentido nenhuma para outras. Cada ano uma preparação diferente, um local diferente, pessoas diferentes com verdades latentes e diferentes.
2020. Eu sempre quis fazer o intensivo em menos dias mas em imersão. Que as pessoas ficassem no local todo o tempo, mas ainda não tinha achado o local apropriado, apesar de muito ter procurado. Mas como tudo acontece na hora certa, "descobri" o espaço A Nova Terra do André Staehler, do sincronário da paz com quem havia feito há muitos anos um curso sobre o Calendário Maia. Ele agora tem e cuida deste espaço incrível onde existem três geodésicas (como eu...kkkk) uma de alojamento, outra refeitório e outra sala de aula, fora as trilha, a cachoeira, os espaços em meio a natureza linda deste lugar há 12km do centro da cidade de Canela. Bingo! Lugar perfeito! Energia perfeita!
Segundo Peter Brook: "Um grande ritual, um mito fundamental, é uma porta. Esta porta não está aqui para ser observada, mas para ser experimentada." E lá estávamos, 18 pessoas prontas para este intensivo. O fotógrafo de sempre Sérgio Azevedo com seus clicks mágicos e ainda meu amigo querido Emiliano Marzano e a fodástica Fernanda Furtado (conheci ela no Pantanal nas gravações do longa Entre Dois Mundos)para fazermos um documentário dessa história toda. Loucura.
Começamos na sexta dia 10 de janeiro às 18h nos encontrando na antiga sede do Estúdio de Pesquisa e saímos no domingo dia 12 às 14h (eu pelo menos saí neste horário). Foi um dilúvio de emoções, atravessamentos, compartilhamentos, trocas, verdades singular. Me emocionei diversas vezes. Ouvi tanta coisa linda, senti tanta coisa incrível e estar fazendo a coisa certa no lugar certo com propósito. Foi incrivelmente perfeito. Foi quem tinha de ir. Pessoas disponíveis, entregues ao processo, e sobretudo respeitosa com a diferença, ferida e verdade alheia. Quando se quer, se cresce junto. Crescemos tanto como gente nesses três dias de uma forma espetacular. Rimos, choramos, tomamos banho de cachoeira, de chuva, sentamos em musgos, pedimos perdão a nós mesmos pelas falhas que cometemos conosco, demos colo ao outro, embalamos sonhos, engavetamos dores sentidas. Cantamos "alecrim, alecrim dourado..." (tema escolhido por Helena em casa). Disfrutamos o presente! Vivemos cada dia intensamente. Nos desapegamos do relógio, do tempo e esquecemos de compartilhar nas redes sociais...não era preciso...estamos ocupados vivendo muito (e comendo muito bem diga-se de passagem a comida vegetariana inscrível preparada com amor pela equipe do A Nova Terra).



Foto de Sérgio Azevedo


Eu poderia escrever os depoimentos dos participantes (mas vou deixar que eles se manifestem se assim quiserem). Não há palavras para descrever a energia, experiência e potencialidade que nos permeou. Gratidão ao Universo que está se movimentando a meu favor porque eu decidi sair da minha zona de conforto e ir atrás dos meus sonhos. Aos meus alunos de todos os lugares por onde passei, desde a primeira turma em 1993 quando nem sabia o que queria da vida e tinha 17 anos até chegar nessa, deste intensivo, aos amigos, aos amores que me ensinaram a tirar o melhor da dor, minhas filhas que me ensinam tanto e me conduzem no meu melhor... aos deuses do teatro, meus mestres, guias, anjos e arcanjos. Seguimos! Firmes, fortes e focados!
Acabo aqui com uma frase linda do aluno Felipe Oliveira que fez o intensivo, no bate-papo após a leitura do artigo ele disse: 

"Acho que é muito mais fácil trabalhar a dor para quem é artista do que quem não é. Se a dor fosse uma bola de papel amassada, a pessoa comum, amassa mais e joga fora, o artista, faz dela um origami e sai encantando o mundo."

GRATIDÃO AOS DEZOITO PARTICIPANTES PELA CONFIANÇA NO MEU TRABALHO!