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domingo, 31 de março de 2019

Entre presenças e ausências


Tenho me questionado muito ultimamente sobre o que é estar presente? Física, emocionalmente, estupidamente. Me faço presente, sou presente, quero presença. Dispenso os fingidores da presença, aqueles que estão só por estar. Tem acontecido tanta coisa maravilhosa para o meu crescimento pessoal nos últimos tempos, que até escrever tem ficado de lado. Uma multidão de ideias e surpresas dentro de mim, minha criatividade correndo livre, espontânea, articulada. Sou a mesma, mas presente de outra forma. Presente coerente, sabe! Aquela que não fala, faz! Aquela que quando fala, tem tomado mais cuidado para quem fala e o que fala, até porque não vale a pena gastar energia com quem não quer ouvir. Tenho também celebrado muito a minha presença sozinha, ouvindo minhas músicas de sempre, tomando café, planejando, executando. Saíndo do meu umbigo e ganhando o mundo ao redor da minha casa. Já é uma grande coisa.
A maior reforma foi a casa interior. Sentei com meus fantasmas, tomamos vinho e rimos da época que me assombravam e me paralisavam. Entendemos que o armário ainda está ali, mas agora a porta está aberta e eles não são mais presos pelas minhas chaves de rancor do passado. Não sei nem por onde andam as chaves, troquei o armário de lugar, dei nova roupagem. Existo diferente! Coerente!
Ando com poucos, convivo com muitos. Trabalho com infinitos, me articulo por aí, sem esquecer quem eu sou! Agora o verbo vem em primeira pessoa: EU!
Minha ausência talvez seja comemorada por muitos que ainda insistem em falar mal, invejar, reclamar. Não os culpo, sou bem insuportável quando quero (e não quero). Mas isso já não importa mais. Antes eu queria que sentissem minha ausência, agora eu comemoro se não lembram de mim... sério! É menos cansativo! Explicar isso também é cansativo.
Meu trabalho é minha linha de vida incrivelmente profunda. Ele me representa, eu o represento. Sempre que estou feliz e empolgada o dinheiro nunca é a meta, só consequência. Tenho lidado com pessoas incríveis das mais diferentes idades e níveis econômicos. O respeito é o mesmo com todos. Não me interessa sobrenome, marca de carro ou roupa, se foi a Paris ou a Jaquirana, me interessa a história, o que a pessoa sente, como sente. Isso me atrai. Isso me fascina. Minha relação com a Arte é  a mesma com a vida: presença, ausência.
Me faço presente do meu jeito, que nem sempre é como os outros esperam. Desculpem, não consigo ser como vocês acham que devia. Me culpo também às vezes por não ser tão meiga, amorosa, querida, por não dizer as frases que todos dizem, por não puxar saco, por dizer aquilo que você não gosta. Tenho me ausentado de tudo que me faz mal, do que não gosto,, de quem não quero, de quem não tive, de quem achei que tive. Me ausentei inclusive de mim por um bom tempo e me abandonei por completo. Lá no fundo do poço da minha tristeza e raiva, na luta do meu ego ferido, no meu amor próprio dilacerado, tive que escalar pedra por pedra e quem sempre me deu alívio e oxigênio foi o teatro.
Minha relação com ele é muito, mas muito diferente da maioria dos que fazem teatro: não é somente por profissão, não é por política, nunca tive sonho de ir para TV, não é para sair no jornal, não é para ganhar prêmio, não é para ser convidada para eventos badalados e sair com cara de paisagem na foto, não é por hobby, não é por fuga, não é por status. É por amor profundo de alma, é para usar a dor como aliada no processo de criação, foi a ferramenta que eu encontrei, o meu "estepe" sabe. A peça mágica que tudo resolve.
Não faço cerimônia para dizer nada do que sinto, também não gosto de gente que dá voltas para dizer o que realmente quer. Atitude e respeito. Simples e cada vez mais raro. Fiz as pazes com meu passado, aproveitando o presente e não levando tão a sério o futuro. Ele virá de qualquer forma se eu cultivar o agora.
Meu coração está recuperado. Inteiro, feliz e divertido como sempre foi. Eu sempre fui uma pessoa alegre e havia me esquecido disso. Trabalho feito uma louca, tempo corrido, mas sou feliz assim. Me deixem! To bem, juro! Voltei a respirar, olhar para o lado despretensiosamente e ver que ainda existem pessoas super interessantes. Pessoas que sabem se fazer presentes. Dissolvam-se as presentes que são ausentes. Se é que me entendem...
Se eu morresse hoje, iria feliz, mas negociaria certo para voltar porque ainda tenho muita coisa a fazer aqui, muitos sonhos a realizar, muitos beijos a dar (dale, dale, dale). Ou, se fosse impossível, certo que montaria um teatro no céu (tenho a pretensão de que irei para lá Senhor), montaria um teatro das almas presentes, só iria entrar quem se comprometesse a ficar PRESENTE! Nada de sair por aí assombrando os outros. Ninguém merece alma penada, por favor!
Sem bobagem, caso alguém me leia (sempre escrevo para mim em primeiro lugar) esse é o conselho que daria: SEJA ABSOLUTAMENTE PRESENTE, naquilo que você se comprometeu a ser: com seus filhos, marido, amores e amantes, trabalho, faculdade, grupo de estudos, aulas... não fique entre ausência e presença. Não faça nada pela metade, eu disse NADA! Seja absolutamente inteiro em tudo na sua vida. Porque você só terá de retorno o inteiro, se for inteiramente verdadeiro.
Não perca tempo com bobagens, com gente que não agrega, com abraços mornos, com beijos sem tesão, com cama suada (suor também esfria). Vista sua melhor versão, coloca teu melhor perfume, sorria para você mesmo, escute sua música preferida e saia olhando a vida e pode ter certeza, ela vai retribuir e te dizer: UAU! Finalmente você voltou, senti a tua presença!!!
Bom final de domingo!
Lindo início de segunda!

Estou pronta e presente!





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