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quarta-feira, 9 de março de 2016

Eu gosto de ser mulher, mas...




Passado o "dia internacional da mulher" fiz algumas reflexões acerca da data e meu momento como mulher.
Eu gosto, gosto mesmo de ser mulher, mas estou cansada temporariamente de "ser" mulher. Cansada da liberdade adquirida cheia de cobranças, cansada das piadas machistas, cansada da violência seja ela inclusive verbal, cansada de carregar nas costas um fardo histórico que não é meu. Queria poder ser apenas mulher, simplesmente mulher... mas anda difícil, sobretudo na nossa sociedade que vive a era do excesso de informação e compartilha opinião de tudo sobre tudo, sem ao menos verificar o conteúdo. Apavorante! Meu cérebro com neurônios polivalentes não aguenta tanta agressão verborrágica.
Cleópatras, Carlotas Joaquina, Joanas D Arc, Maries Curies, Anas Bolena, Virgínias Wolff, Carmens Miranda, Anitas Garibaldi, Irmãs Dulce, Madres Tereza de Calcutá, Marilyns Monroe, Ediths Piaf, minha mãe, minhas avós, minhas colegas e tantas outras mulheres que admiro.
Não gosto do termo "guerreira", me sinto na pré-história com uma lança pronta a atacar com unhas e dentes o primeiro que atravessar meu caminho, também não gosto de flores, essa simbologia me desgasta. Mulher não é enigmática, não é difícil, não é complexa, mulher é em primeiro lugar uma fêmea e como tal, cheia de carinho, desejos e fome. Fome de amor, de vida, de abrigo, de apoio, de afeto, fome de silêncio. Gostamos de partilhar dele, mas não nos compreendem.
Realizamos diversas funções em questão de minutos, porque somos práticas e aprendemos, com aquela "tal independência" a nos virar desde sempre e tomar decisões rápidas em momentos difíceis. Sabemos lidar com a dor, com o desespero e com o abandono melhor que os "machos" e eles sabem disso, mesmo os hipócritas discursivos. 
Dar a luz, amamentar, engordar são apenas detalhes, quando você engole as lágrimas e sabe que precisa ser forte, quando já não sabe mais de onde tirar força. Quando olha-se no espelho e vê que seu corpo mudou, passou por transformações que você não teve como evitar, quando seus olhos às vezes inexpressivos possuem tanta história, quando cada ruga foi uma virada de página que o destino fez você alçar... Ser mulher é para quem escolhe vir ao mundo assim, de forma evoluída, é quem sabe que desde pequena vai enfrentar enormes desafios, é quem sabe que terá muitas vezes de engolir o grito e forçar um sorriso porque sabe dosar sua raiva.
Então homens, não me venham com florzinhas, abracinhos, lembrancinhas...honestamente não precisamos disso (aqui falo só por mim, porque há as mulheres que gostam e respeito!)precisamos que vocês sejam HOMENS, que assumam a sua parte, que assumam a responsabilidade pelas suas vidas, que assumam a essência de vocês e aprendam a compartilhar, a ajudar, a apoiar, a abraçar e calar a boca, a fazer amor sem pensar somente no bel prazer de vocês, que beijem mais na boca e encham nossa boca de amor e saliva, de desejo e ternura, que nos tomem nos braços não quando perdirmos, mas que nos surpreendam, que não discutam quando estivermos descontroladas, vai passar e vamos nos desculpar quando exagerarmos e sobretudo, quando formos mãe, levantem de madrugada com a gente, ajudem a organizar a casa, troquem fraldas, fiquem com o bebê para tomarmos um banho demoradamente, nos convidem para sair quando estiver horrorosas (vai nos incentivar a melhorar) e por favor, parem de nos cobrar! Parem de nos pedir para carregar o mundo nas costas, cresçam conosco, mutuamente!Ou carreguem o mundo ao nosso lado, vai ficar mais fácil com vocês, somos seres humanos, lembram?
Não precisamos de um dia só para nós, precisamos que nos respeitem todos os dias!
Eu gosto de ser mulher, mas... talvez ser homem torne algumas coisas mais fáceis às vezes. Mesmo assim, se ainda puder escolher, quero voltar quantas vezes for preciso como mulher (preferencialmente negra e cantora ok???)
Por hora, seguimos...como MULHER!
Lisiane Berti, 39 anos exercendo seu papel bravamente como mulher, mãe da Ísis e da Helena, atriz, diretora, dona de casa, dramaturga, professora, preparadora de elenco, motivadora empresarial, cozinheira casual, escorpiana, verdadeira, amiga, ativista cultural, adoradora de máscaras, polivalente, simples, louca e sempre de fé e com fé.


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