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domingo, 18 de abril de 2021

Do se permitir ser cuidada e amada



Li essa semana uma frase no instagram que achei muito pertinente ao meu momento: "O amor não tem culpa do que fizeram com você." Eu, assim como muitos, já tive histórias incríveis de amor, mas também já tive grandes decepções que quase acabaram comigo. Da minha última história eu saí literalmente como um Frankenstein, todo cheio de retalhos, andando roboticamente (me joguei de cabeça no trabalho) e prometido veementemente que nunca mais ia me envolver profundamente com alguém daquele jeito.

Mas a vida nos coloca sempre onde devemos estar, mesmo que sejamos responsáveis por nossas escolhas e todo aquele papo, a gente vira e mexe passa por um desafio para ver se realmente aprendeu a lição. Eu achava que estava "passadinha" com menção honrosa no quesito relação amorosa. O meu último tombo havia me ensinado tantas e preciosas lições que eu já sorria pela vida. Vejam bem, eu nunca falei que não acreditava no amor, tampouco vociferava "os homens não prestam, são todos iguais...", eu realmente não concordo com essas frases, mas óbvio que a gente deixa radar ligado e fica mais pé no chão. Romantiza menos e cuida mais de si.

Passado uns bons anos, eis que recebo um novo "desafio" (não vou chamar de presente porque isso a gente mesmo que não goste agradece e guarda nem sempre usando), uma pessoa que vem agregar e me auxiliar a mexer em todas as minhas cicatrizes sem fazê-las sangrar e o mais interessante sem fazer ideia de alguns pontos profundos que tem ocasionado algumas mudanças incríveis. Essa pessoa, já conhecida de outras estações, épocas, mas jamais imaginada como namorado (parceiro, companheiro, xuxu, queridinho, sei lá como chamam os parceiros de vocês...) começa a grande revolução de dentro para fora em mim.

Aos poucos me vejo falando com tamanha liberdade de qualquer assunto, me vejo organizando ideias e impulsos para não magoar, me vejo refletindo, ponderando, me vejo sem vergonha de mostrar meu corpo (mesmo depois dos 44, duas gravidez, efeito sanfona e erosão...kkkk), me vejo falando abertamente sobre meus desejos mais doidos e profundos, mostrando toda minha vulnerabilidade e fraqueza. Me vejo pedindo desculpas quando erro, me vejo não idealizando a relação e colocando a pessoa num pedestal pintando de dourado. Ela é uma pessoa, eu sou outra. Duas pessoas distintas, de áreas distintas, de idades distintas, de realidades distintas que escolheram caminhar juntas mas sem abrir mão da individualidade. Duas pessoas que passaram por muitas coisas péssimas nos relacionamentos, mas que também já foram péssimos com outros, magoaram, traíram, fizeram sofrer...(sim, não somos santos!).

Ainda assim luto contra minhas neuras, meus pensamentos tóxicos, minhas inseguranças que tenho certeza são sequelas de tudo que passei. E o amor, essa pessoa, a sua pessoa (você que me lê) não tem culpa e nada com isso. Nos enfiaram romance guela abaixo e durante muito tempo fomos compelidos a acreditar no "para sempre", "até que a morte nos separe" e vimos duramente o quanto essa crendice não é real. Pessoas vem e vão, no tempo certo. Se a gente aprende, novas pessoas com novas energias aparecem e lá pelo meio do caminho os gatilhos e testes vem para ver se você é mesmo merecedor e entendedor do que tem. De que a pessoa que está na sua vida é agora, para o que você precisa evoluir. Inclusive os relacionamentos tóxicos. Aqueles que o universo te emite sinais e você finge que não vê e se ilude, porque quer testar o conto de fadas, quer brincar de casinha e viver no "comercial de margarina".

Gostar das pessoas quando elas estão bem, felizes, realizadas, com grana é super fácil. Não dá trabalho, dá prazer, mas aí quando você começa a entrar no "bastidor" da vida da pessoa e ela no seu, quando não tem glamour, filtro, dinheiro , sorriso todo momento, ali, bem ali, você é testado. Ali começa o desafio! Não tem fórmula mágica, não tem coaching de relacionamento: é você querendo acertar, o outro querendo acertar no meio de um monte de incertezas, medos, inseguranças. Quase um tiroteio de emoções. E é preciso lidar com tudo isso com honestidade (sobretudo a si mesmo), lealdade e verdade. Básico. Para quem já foi no fundo do poço por amor, sabe que não se pode mais dar ao luxo de brincar, de não ser quem é para agradar. Já estamos calejados e isso nos coloca com diversas armaduras. A gente fica tentando se proteger todo o tempo, mentindo para nós mesmos que "não, não gosto tanto assim...". 

Provavelmente vocês dizem de si para si que não vão se envolver de novo, que não entregarão o coração a mais ninguém, que não vão nunca mais casar, que não vão abrir mão disso ou daquilo... aí entra o medo falando mais forte. Eu falei ali em cima sobre individualidade, sim, temos que manter a nossa, nossos amigos, as coisas que nos fazem bem, nosso trabalho e a gama de relações que agregam à nossa vida. Mas é inevitável que quando você encontra alguém que te vira do avesso de forma positiva e não te promete nada, não te julga e te faz evoluir, não dá para não se desnudar (no bom e mal sentido), não tem como fingir que nada acontece (e olha que sou atriz), não tem como não agradecer ao Universo ou seja lá no que você acredite. 

Ah Lisi, pára, tá apaixonadinha agora? Carente amiga? Quem te viu e quem te vê eim... Definitivamente faz uns bons anos que não me preocupo com esse tipo de comentário. Mas paro e escuto quando vem opinião de gente que agrega e se preocupa comigo de verdade. Os ventos sopram novas direções. Muitas avaliações aqui dentro de mim, muitas decisões para o entendimento do que tenho feito. E do que não quero mais fazer. Sobretudo nas relações, sejam elas amorosas, profissionais ou familiares. Escrevo aqui porque quero reler daqui há alguns anos para saber que tive uma relação saudável, e que não posso me contentar com menos do que isso, sou merecedora. Você que me lê também é, acredite! Mesmo que agora essa ideia lhe pareça impossível e seu coração esteja destroçado. Escrevo também porque me auxilia a organizar minha mente criativa (e diabólica às vezes), e que não é uma declaração a ninguém é só uma auto gentileza comigo, escrever sobre como tenho avançado nesse quesito, como tenho tentado ser melhor, autêntica. Tenho tido progressos em detalhes. Me orgulho muito de quem tenho me tornado, mas é uma vigília constante. Todo o tempo um "gatilho" ou um testezinho para ver se você aguenta mesmo e sabe valorizar e apreciar o que tem.

Talvez todas as respostas não venham como a gente quer, aí ainda tem a infantilidade ou a frustração, mas vai ser como tiver de ser. Os dias não serão só de rosas, haverão dias que a pessoa não vai estar disponível, dias que ela não vai querer o que você quer, dias que ela nem vai querer te ver, inclusive. Dias e dias! Se você conseguir entender isso sem achar que ela está te deixando de lado, ou não gosta de você, já é bem importante. Eu não gosto dessas pessoas que dizem que quando você está num relacionamento você deve ser a prioridade do outro. Errado! EU DEVO SER MINHA PRIORIDADE! Vou ser melhor, ajustar arestas não para agradar o outro, mas para ser quem sou e como sou. O outro vai me aceitar como sou e me auxiliar a ser ainda melhor ou vai cair fora logo, porque gente de verdade assusta. Muitos correm, não aguentam pessoas que pensam e falam o que sentem de forma educada. 

Eu estou bem. Evoluindo dia a dia. Choro, rio, falo o que sinto, brinco, peço desculpas, elogio, tomo iniciativa, digo que gosto, como gosto, e tantas outras coisas que nunca me permiti ser. PERMITIR... como é difícil se permitir ser cuidada e amada. Como é difícil entender que você tem o que merece, que sim, existem pessoas incríveis que te admiram e te aceitam exatamente como você é, não querendo te moldar ou esconder essência. O mais legal de tudo, que é de verdade. Não é conto de fada, não tem cavalo branco, não tem princesa esperando ser salva. Tem um "toma-lá-da-cá" de afeto, de conversas maduras, de lealdade, de educação, de carinho, de cuidado, de entendimento, de franqueza e também fraquezas. Sim, porque mostramos nossas fraquezas. Nossos medos. A gente fala desses sentimentos difíceis, das dores do passado, dos erros, das derrotas, dos fracassos... a gente fala de tudo. Se eu pudesse dar um conselho a essas pessoas que hoje sofrem por amor e acham que nunca mais vão amar de novo, eu diria que quando tiverem a oportunidade de vivenciar uma história com alguém que vale a pena (vocês saberão na hora):

1) Não postem em redes sociais (não nos primeiros meses pelo menos);
2) Falem das coisas que gostam e não gostam (sobretudo na cama);
3) Quando as inseguranças e medos de traição vierem, respirem e lembrem que o passado já foi. Não compare. Não atraia para si o que já te fez sofrer de novo;
4) Tem dúvida? Pergunte!
5) Abrace e beije sempre que estiver perto, pode ser mesmo a última vez.

Não é a primeira vez que me proponho por aqui a escrever coisas muito profundas minhas, que possam auxiliar outras pessoas. Não é exposição não, é "compartilhamento de coisas boas que já foram ruins". Leia se quiser, compartilhe se achar que deva, mas não me julgue, você não é melhor do que eu. Não somos melhores que ninguém. Aprendemos dia a dia e muitas vezes mais com a dor do que com amor. Permita-se!

Tenho me permitido. Talvez releia daqui um tempo e esteja sozinha de novo, ou com outra pessoa, ou ainda com esta pessoa, não sei. Mas quero guardar esse momento precioso da minha vida em meio a pandemia que muito me tem feito aprender e evoluir.

Não tenho medo de dizer "te amo", mas aprendi que preciso dizer isso a mim todo dia, e se disser isso ao outro, que seja com verdade sem esperar nada em troca. Eis o desafio!

Bom domingo com café!