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domingo, 26 de setembro de 2021

Sou um coração batendo no mundo

 

Vocês que me leem devem pensar: "Lá vem ela...". Calma pessoal, tentei três vezes escrever aqui na semana que passou, deletei uns textos, salvei rascunhos, mudei tudo e recomeço. As sombras não estão me dando trégua ultimamente, então preciso vencer umas batalhas diárias que começam pelos meus pensamentos e se alastram pelo corpo e memória. Pareço que nasço a cada dia de um parto difícil. Mas ainda assim, nasço! Com um coração que insisti em bater forte. Um coração que já passou por algumas "paradas secas e bruscas"mas é insistente. Não me ensinaram a amar. Fui aprendendo no dia a dia da vida. Amar pessoas, trabalhos, coisas, filhos, família, amigos, amores. São formas distintas de uma única ramificação. O mundo tem me ensurdecido tanto que tenho buscado ouvir só o que vale a pena, exercitado um "falar" também para quem realmente me escuta.

Escrevo depois de desmoronar na noite passada em um pranto, leve até, baixo, mas na frente de outra pessoa. Cada lágrima um borrão. Mas eu segurei onde pude. Achei ironicamente que conseguiria mas me dei conta que eram lágrimas de dias, meses, talvez até de outras vidas. Tem passado tanta coisa no íntimo particular. Tantas provações. E provocações. Nascimento e morte. Tentei achar palavras e expressar tudo que pensei/senti mas acredito que não tenha sido tão clara. Acho importante tentar. Há pessoas que valem nosso esforço. Nosso melhor. O que irão fazer com isso é da conta delas. A nossa é buscar a maior autenticidade e verdade possível.

Tenho hoje e vivo exatamente o que meu coração pediu. E tudo é fantástico e me apavora. Até as palavras certas na verbalização me escapam, pois quero usar sempre as palavras certas para não ser interpretada erroneamente. Quero ter o cuidado de não cometer erros passados, quero ter a leveza de viver algo que agrega e não me aprisiona. Usei o verbo "querer", perceberam? Me vem a frase que só "querer" não é poder. Existe uma malignidade nisso, percebem? Quase uma profecia. Exorciso meus demônios do passado quase sempre. Corro riscos. Corro risco de parecer idiota. E sou! Corro risco de parecer infantil. E sou! Corro risco de parecer apaixonada demais. E sou! Corro risco ao escrever, ao falar, ao sentir. E sempre escrevo, falo e sinto. Eu gosto de correr riscos. Sempre gostei. Não tenho medo do inseguro, não tenho medo de parecer fraca, nunca tive medo de errar. Estou vivendo algo que jamais imaginei que pudesse viver. Chega a ser desconfortável às vezes, porque estou numa área que não domino. (Outro verbo "dominar").

Não sei o que passa comigo. Mas tenho recebido tanto que às vezes me assombra a dúvida. É isso mesmo, Senhor? Procuro ser sempre franca e meu jogo é limpo. Sou honesta comigo e com o outro. Abro o jogo. Sai aquela verborragia fatal nas horas incandescentes, inapropriadas até. Elas saem. Tento frear. Não sou boa fingidora quando o assunto é coração. Meu coração sempre bateu forte pelo mundo. Mas poucos se deram ao trabalho de ouvir. Alguns apenas usaram, despedaçaram. Zombaram do som que ele tinha. Recuso-me a silenciar meu coração. Me aprofundo nele todo dia. Escuto ele mais que nunca. Ele sempre me prepara. E desta vez me preparou de uma forma evolutiva. Cada dia um pequeno desafio para que trabalhe algo em mim. O outro é meu espelho. Fico em constante vigília porque tenho medo que se quebre tudo de novo. Inevitável!

Estou perto de completar 45 anos.Não brigo com o espelho. Gosto da mulher que vejo, gosto do coração que levo. Extremamente generoso. Grandioso. Verdadeiro. Sinto como adolescente. Tudo é novidade. Tenho pressa. Tenho desejos. Tenho vontades. Algumas esperam, outras não devem esperar. Abdiquei de tolices, ciúmes, discussões. Vivo um outro tempo, um momento quase mágico onde tudo funciona. Inacreditavelmente tudo entre nós funciona. Até quando discordamos. Melhor ainda quando discordamos. Eu nunca tive alguém que me deixasse a vontade, livre, deixando eu ser quem sou. Sem teatro, se é que me entendem. Eis aí meu problema, sou a rainha dos medos e isso me atordoa. Sigo a voz do coração. Ele me emociona. Ele me encanta com sua inocência madura. Precisava sentir isso. Como sinto. E vejam, não estou falando de paixonites, de apenas estar com alguém. Estou falando de se REencontrar em outro alguém. Sinto como se havia uma parte de mim solta, vagando pelo mundo que agora se encaixou num outro contexto, mas sem mudar a essência. Isso é tão incrível!

Eu conheço ele todo sem conviver com ele. Talvez meu escrever não faça sentido algum para vocês que me leem, mas não é para fazer sentido. Se leram até aqui é porque de alguma forma me compreendem. Ou passaram ou querem passar por isso. E digo, vale cada minuto das merdas inteiras do passado. Vale a constância. Vale cada lágrima escorrida e banida de dentro. A comunicação é tão forte que às vezes nem precisa comunicar. É difícil falar do que não se pode ser dito. Tornamo-nos UNOS. Separados. Como traduzir o que sinto? Como fazer entender que por vezes meu coração salta pela boca? Talvez seja um estado agudo e louco de felicidade. Danem-se! Não me importa o que dizem. Estamos numa comunhão perfeita. Tão perfeita que às vezes, por medo, quase coloco tudo a perder. Peço desculpas pela intensidade dos meus abraços, da minha escrita, das minhas palavras, do meu choro, das minhas mordidas, dos meus desejos. Eu sempre fui assim, só que secretamente. Contigo não preciso esconder-me.

Mas para que escrever tudo isso aqui? Talvez você nem leia. Outros que nem te conhecem ou nos conhecem de verdade lerão. Na verdade tenho muito amor aqui dentro e às vezes não sei como usar. Como tantas outras pessoas que não foram "ensinadas a amar". Tenho tanto amor que me inquieta. Me dá soluços. Amem antes que seja tarde demais. Continuo correndo perigos. Tudo bem. E o que me espera, como você e outras pessoas é que não sabemos o que nos espera na verdade. Lancemo-nos nisso. Sem piedade. Sem culpa. Apenas sei que tenho vivido os melhores dias da minha vida, apesar da loucura da própria vida. Para ti sempre haverá espaço, tempo, pausa, resposta, respeito, silêncio, voltas e recomeços. Tu me ensinaste de verdade que se pode amar, sendo livre. Sendo leve. Sendo eu. Tu tens me ensinado que a família é o bem mais valioso e mesmo não sendo perfeita, é minha família. Honro! Te honro! As mãos mais calorosas e amorosas da minha vida. O homem mais imperfeito e perfeito para mim. 

Todas as noites, antes de dormir, agradeço. Geralmente vem uma frase tua. A coragem de continuar sendo eu, contigo. Se soubesses quanta coragem para abrir meu coração de novo foi preciso. Mas sei que sabes. Te admiro por me suportar tanto tempo. Não sou fácil, mas também não é difícil me entender. Basta querer. E sei, lá do fundo que me queres!
Sou um coração batendo no mundo...mais feliz depois da tua existência nele.
Segredo nosso! A e B. Aqui palavras soltas. Entre nós sempre as palavras com gestos simples e significativos. 
Termino aqui esse "desabafo transfigurado de realidade". Precisava escrever para a catarse. Assim me regenero do ontem. 
Mas por favor, o que é que significa tudo isso que estou escrevendo aqui?
Sou menina dentro do corpo mulher/mãe.
Basta que meu coração bata no peito. 
Isso me basta!
Estou feliz! O que estraga minha felicidade é meu medo. Mas vou melhorar isso. Prometo!

Lisiane Berti