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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O desequilíbrio das trocas...


Três vezes sentei na frente do computador para começar a escrever. Olhei a tela em branco, não veio nada, não forcei. Sou fiel a minha escrita. Ela me comanda, não eu a ela. Sou apenas um instrumento. Hoje consegui, parece que vai fluir algo. Enfim, o primeiro texto de 2021.

Trocou o ano. Só trocou o número. Nada mudou. A verdade que fazemos o ano a cada dia, depende da gente. De como lidamos com tudo que se mostra a nossa frente. Li muitas postagens falando sobre gratidão. É tão fácil ser grato quando tudo dá certo né? Tão bonito, sobretudo nas redes sociais. Mas queria ver ser grato quando tudo dá errado, quando nada é como a gente queria ou idealizou. É como amar ao próximo quando ele também te ama... muito fácil. Mas não quero soltar meu veneno escorpiano já de cara e azedar os primeiros parágrafos. Vamos com calma! Espero que para você que me lê tenha sido na medida do possível, bom e reflexivo a sua virada de ano. Para os mais sensíveis e fieis a si mesmo, tudo foi mais cauteloso, sem muito rojão, bebedeira, postagens e roupa branca. Há os que nem saíram de casa e foram dormir cedo. Este ano ter conseguido chegar a "virada" respirando já foi por si só uma grande vitória. Afinal, 2020 não foi para os fracos, nem para os pobres, nem para os artistas, nem para os profissionais de saúde, nem para os professores, nem para tantos... há os que continuaram na sua bolha dourada, aquele povo que se acha "alecrim dourado que nasceu no campo ser ser semeado". Há sempre os que se acham, desde que o mundo é mundo. Há os que acham que sabem da tua vida, os que acham que entendem do vírus, os que entendem da vacina, os que sabem o que você sente, os que acham que te conhecem e tem liberdade de fazer piada... há na verdade muito "achismo"no mundo e pouca gente capaz de arregaçar as mangas e fazer algo prático, válido e sólido. 

Opa! Fecha a boca Lisiane Berti! Deixa o ferrão escorpiano de lado. Mas não vou perder meus caracteres de escrita com isso. Comecei bem anestesiada 2021. E nem acho que tenha bebido horrores. Anestesiada no sentido de não sentir mas saber que estava sendo "mexida". Anestesiada de impassibilidade, apatia, desinteresse. Sem expectativas para nada. Apenas reagindo. Reagindo. Às vezes bem, às vezes mal. Tentando não ter sequelas...  Fiz algo que para mim soa quase extraordinário: sentei na frente da minha mãe e pedi um conselho, acho que desde minha adolescência não fazia isso. Sempre tive liberdade de tomar rumos da minha vida, por vezes quebrei a cara por achar que era capaz de lidar com tudo, outras vezes fui obrigada a lidar com tudo para poder superar. Minha mãe parou tudo (ela nunca pára, sempre inventa algo para fazer ou limpar) sentou e conversamos. Pelo menos uma hora. Contei a ela o que me incomodava, como estava chateada e que não sabia muito bem o que pensar, ela me ouviu, não me aconselhou, apenas falou o que achava sem me julgar. Me senti bem. De verdade! Tão bom ser ouvida sem julgamentos. Sem lições de moral. Apenas ser ouvida. Talvez um resgate mãe e filha. Andei muito tempo evitando a família, apesar de estar morando sempre próxima a ela. Não me envergonho em dizer isso, por sinal nunca me envergonho de falar e escrever o que sinto, a diferença é que agora escolho para quem devo oferecer isso, porque tem gente que abusa e brinca com as nossas linhas tortas. 

Recebi muitas mensagens, não respondi quase nenhuma. Achei melhor ficar mais off. Quem amo sabe que amo. Nenhuma foto, brindes simples. Dormir. Acordar. Rir. Conversar. Ouvir, observar o entorno. Não tomei nenhum banho de sais, tinha ganho um mas esqueci. Não fiz lista de metas, guardei as de 2020 (das 10 realizei 5). Deixei a geladeira em branco, comecei a colocar os desenhos da Helena. Sem paciência. Negatividade? De forma alguma! Bem pé no chão, colocando ideias em prática. Contatando, me movimentando. Acredito! Faço a minha parte. Já aprendi na minha profissão que o palco é lindo, mas é no bastidor que começa a qualidade do meu trabalho. Sonhei muito, presto atenção sempre ao que sonho, sobretudo onde estou e com quem. Os últimos foram movimentados,  mas nada demais, tampouco eróticos (uma pena!). 

Como as coisas tem sido pesadas, não é? E simples também, não é? Paradoxal! Eu sinto como se tivesse tirado areia dos olhos, tenho enxergado tudo com mais clareza, observado muito mais que antes, cuidado ao usar as palavras. Até a escrita. Muita calma nessa ora! E de repente é como se tudo nublasse de novo. Difícil. Os fantasminhas do passado deram uma trégua, mas sei que logo reaparecem, a diferença é que não tenho mais medo deles. Muito pelo contrário, acho que eles começaram a perceber que não são mais ameaças. A não ser a eles mesmos! Comecei meu ano com qualidade e não quantidade. Ouvi de outros amigos queridos a mesma frase. Tenho sido mais assertiva e direta. Bem clara, porém sempre pensando bem as palavras que usar. Aceito os limites e regras do outro, não insisto. Olhos e ouvidos abertos.

As dores de cabeça voltaram, insônia e decidi fazer meditação guiada antes de dormir. Acho que funcionou porque apaguei. Achei uma foto minha 3x4 de 2002, ruiva. Helena achou. Riu e disse : "mãe você era bem gordinha né? Agora você é gordinha mas é diferente... "(eu ri)  Olhei a foto e lembrei que época era aquela, o que estava acontecendo, como eu estava. Até ruiva estava. Extremamente infeliz. Ainda não tinha encarado o meu ser por completo, ainda não tinha me aceitado. Sofri muito. O se já sofri... por isso pesquiso a dor e uso como aliada, alguns dizem "lá vem ela com a filosofia..." não é filosofia, é serenidade, é falar do que posso falar porque já vivi e senti. O que não sei não me meto. Minhas ideias andam bem embaralhadas, cansadas talvez e senti que preciso de um surto criativo, colocar minha energia em prol de alguma coisa nova. Comecei a me mexer e contatar algumas pessoas para lançar propostas. Não sou do tipo que espera milagres ou que as coisas caiam do céu. Vou atrás! A questão é que fiz isso 2020 inteiro e entro em 2021 meio "esgualepada" como diria meu pai. Não estou infeliz de forma alguma, mas não romantizo mais nada. A vida é dura meus amigos, a gente tem que dançar conforme a música ou escolher ficar no bar enchendo a cara e sair cambaleando sem rumo, o que nunca nos leva a nada.  Quem não sabe o que procura não vê o que encontra.

Segundo Shakespeare, na peça Henrique VI (segunda parte) há uma parte que fala em harmonia:

"O vento ameaça tempestades, lordes como vossa coragem. Essa música me desagrada. Quando desafinam tais cordas, que esperança há de harmonia?"

E você? Está em harmonia com você mesmo, pelo menos? Eu estou tentando, mesmo com as cordas do mundo desafinadas. Mas é meu mundo que preciso centrar, mergulhar e dominar.

Bom dia para mim. Bom dia para você!

Hora do café! bjs meus

Lisi Berti