Páginas

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Dos choros sofridos de 2020 me despeço




2020. O ano que jamais esqueceremos e que não estávamos prontos para tudo que haveríamos de enfrentar. Ou estávamos! Muitas indagações. Além de todos os desafios cotidianos um inimigo oculto, e não aquele de final de ano que todo mundo foge mas acaba participando. Um inimigo chamado COVID que parou o mundo. Começamos rindo dele, fantasiando a existência, até que ele começou a chegar no nosso Estado, na nossa cidade e nas nossa famílias, levando amigos, conhecidos e nos causando pânico. Difícil lutar contra o que não se vê. Difícil sobreviver em meio ao caos. DIFÍCIL foi uma das palavras deste ano.
Eu tive diversas provações, em todos os setores. Manter-me com pensamentos elevados e não perder a fé foi o mais difícil. Venci batalhas diárias, noites mal dormidas, dores de cabeça, boletos vencidos, falta de trabalho, projetos cancelados, faltas...faltas...faltas... mas também valorizei presenças. Valorizei pequenos gestos, lugares simples que pude visitar apesar de tudo, pessoas que me estenderam a mão. Família. Senti  a minha mais próxima este ano. Me senti da família e não um peixe fora d'agua. Cansei de me defender. Sou inocente, como tantos outros. Estou tranquila, apesar de tudo. Porque tenho feito o que posso, como posso, tenho tirado energia e forças de lugares escondidos que nem eu sabia ser capaz. Ainda sorrio, brinco e procuro ser alegre. Mas também surto, também me irrito, também blasfemo, porque a calma não dura para sempre.
Hoje faz um lindo dia de sol. Não gosto de sol mas honro e valorizo. É necessário, tudo é necessário. Inclusive este vírus que tem nos ensinado tanto sobre tantas coisas que achávamos que éramos letrados. Ironia, não? Dia 21 de dezembro de 2020. Dia astrologicamente importante, estamos entrando em Júpiter e Saturno em Aquário. Era da consciência coletiva, acabou a bolha, o mundinho de só olhar para o próprio umbigo e fingir que o resto não importa. Acabou. Tudo que você fez e faz altera o mundo a sua volta. Fato! O vírus também nos ensinou isto, a duras penas e tem gente que ainda acha que é infalível. Que não toma o mínimo de cuidado, achando que isto não afeta os seus. O que fazer quando sinto tantas coisas que outras pessoas não sentem? Difícil explicar. Teve momentos que não queria contar nem ouvir meus próprios pensamentos, eles são rápidos demais e por vezes me transtornam. Penso muito, o tempo todo. Sinto muito o tempo todo, tenho ímpetos de escrever para as pessoas que amo do nada, ou de falar, ou de mandar mensagem. Percebo que elas ficam transtornadas e nem sempre entendem. É como se algo estivesse sempre pronto a acontecer. Mas não quero falar dos meus doidos pensamentos agora.
Espie a foto. De uma fazenda de Osório. Lugar que conheci em dezembro, não estava previsto, tive o prazer de conhecer e ainda poder voltar, três vezes em dezembro. Uma delas com uma pessoa especial, outra com minha mãe e filha, e a última com família da minha pessoa especial. Cada fim de semana nesse lugar mágico e cheio de natureza, muitos aprendizados. Muitas conversas e muitas constatações. Na minha última ida para lá, literalmente "desabei". Tive incentivo do álcool é verdade, e chorei. Chorei de convulsionar, como criança que acorda de um pesadelo ou que se machuca feio e passa mal de tanto chorar. Houve algo? Não. Alguém me falou algo? Não. Não era nada mas era tudo. É como se tivesse aberto a "gaveta" de 2020 e colocado tudo para fora. Todas as dores guardadas, as raivas, os enfrentamentos, as sobrevivências, os medos. Chorei como se não houvesse amanhã. Preocupei pessoas queridas. Zerei. Limpei. Depois dormi, apaguei. Acordei assustada com o som da própria voz na cama. Senti medo. Achei que estava na minha casa. Um minuto e todos os pensamentos em ordem e entendi o que havia ocorrido. Me olhei no espelho. Toda borrada da maquiagem, olhos inchados. 2020 talvez tenha sido isso: um borrão. Uma mancha! 
Lembrei da Dona Roma que havia falecido um dia antes, isso mexeu comigo. Ela me ensinou e inspirou tanto, senti a morte dela pelo vírus. Havíamos falado a poucos dias. Ela esperava tudo passar e queria que eu levasse Helena para ela conhecer e tomarmos um café. Já passei tardes com ela tomando café, entrevistando e falando de teatro. A última vez que a vi pessoalmente, foi no portão para levar um livro: "O menino das  nuvens de algodão". Ela leu e me escreveu o que sentiu. Tenho guardado, sobretudo no meu coração. Mania de guardar escritos e palavras. Presto atenção no dito e não dito. Sinto que o "não dito" às vezes, vale mais que palavras soltas sem sentido, ou ditas na raiva do momento. Lúcida, pedi desculpas, lúcida não fiz de conta que nada aconteceu. Lúcida busquei aproveitar o último dia desse lugar mágico e fazer as pessoas próximas sorrir. É como reajo. Com minha verdade. E minha verdade hoje é sempre tentar deixar melhor os lugares por onde passo. Essa semana recebi uma mensagem de um aluno querido que eu não posso esquecer, que faço a diferença na vida das pessoas e que preciso valorizar as que de verdade estão comigo. Tão real isso. 
Ainda tenho medos bobos, coragens absurdas. Nunca tive medo de me reconstruir. Espero que minhas filhas herdem isso. A coragem de ser quem se é. A coragem de perder o controle, a coragem de dizer o que sente e não esperar nada em troca. Nada! Pedi muitas vezes este ano que Deus me ajudasse dando serenidade. Não peço só quando preciso. Sei agradecer! Nas minhas viagens sempre que posso entro em uma igreja qualquer (não sou uma devota cristã), e agradeço. Poucos minutos para achar esse Deus em mim e lembrar que de alguma forma, não fui jogada nesse mundo doido por nada. Não passei tudo que já passei por nada. Sempre tem um propósito, acredito muito nisso. Pessoas que vem nos ensinar, sobretudo as que nos arrancam o coração. Me despedaço, mas não como antes. Um passo de cada vez agora. Digo que amo, mas me amo acima de tudo, exatamente como sou. 
Na saída deste lugar mágico, escuto dois seres falando (o caseiro amoroso e o tio engraçado). "Ela tem um parafuso a menos..." diz o tio. O outro ri e comenta: "ela tem um parafuso a mais."  Rio também. Isso para mim é um elogio. Achei engraçado a forma amorosa e simples de falar de mim. Percebem? O não dito que é dito? (risos de louca) Deixa para lá!
2020 me deu um cansaço absurdo, estive ocupada o tempo todo criando e tentando sobreviver dia após dia. Tomo conta de uma menina de cinco anos e de uma menina mulher de 19. Também tomo conta de uma gata, de uma cachorra, de vários alunos, algumas empresas, da minha casa, do meu carro, da minha grama, de mim, dos meus pensamentos e poderia listar horas de coisas que TENHO que tomar conta. Escolhas. Zero reclamações. Um amigo querido que escuta diariamente meus surtos há anos disse que preciso de férias, sobretudo dos meus neurônios, disse que trabalho com muita gente e absorvo demais tudo. Pode ser... Viver nesse mundo contaminado exige muita paciência que por vezes não tenho. 
Escrevo para mim, sempre. Minha forma de reconectar comigo. Escrevo e respiro. Meu momento de paciência no mundo. Aqui sou eu da forma mais pura e honesta. 
Te desejo e me desejo para o ano vindouro paz. Consciência. Verdade. Amor. E o mais importante: SAÚDE! 
Sem ela não somos nada e não podemos nada, mesmo!
Leve a sério sua vida, seu entorno. Temos responsabilidades nesse mundo. 
Não estamos aqui a passeio, entenda. 
Não brinque com as pessoas a sua volta.
Tá infeliz? Faz um café e converse olhando no olho.
Tá feliz? Faz um café e fale olhando no olho.
Independente de tudo, tome café (sempre) e fale!
Não deixe para depois, pode ser tarde demais.
Obrigado por me ler, ou estar comigo de alguma forma. 
Se você chegou até aqui, no final das minhas linhas, é porque de alguma forma está comigo.
Valorizo isso!



Um beijo.

Lisiane Berti