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sábado, 15 de fevereiro de 2020

Uma Carta de Amor para Helena



Minha pulga Helena!
Escrevo e com certeza lerás esta carta muito a frente, faço questão de escrever aqui para que fique registrado e salvo na "nuvem", a escrita sempre é um grande registro, para mim libertador. Em março de 2020 completará cinco anos e quanta história linda temos para contar juntas. Quanta luz e aprendizado  trouxestes  à nossa família. 
Te escrevo porque hoje, dia 15 de fevereiro de 2020 teu pai embarcou de volta para o Peru. Ele ficou aqui duas semanas, para minha surpresa por conta dele. A última vez que vocês tiveram contato físico foi aos seis meses, no teu batizado que por sinal foi lindo, feito em casa com muita emoção e choradeira pelos dindos e pela minha amiga Ana Alves que recitou belíssimas palavras. Durante estes anos eu guardei todos os presentes feitos na escolinha pelo dia dos Pais, sempre contei a ti que teu papai morava longe, que vivia em outro pais, no início tu não entendias muito isso, nas videochamadas muitas vezes nem queria conversar, e chamava teu pai de "titio".
Eu e teu papai tivemos uma linda história de amor, onde o teatro, um festival de teatro no Peru nos uniu. Você não veio por acaso, foi extremamente planejada e eu fiquei um ano tentando engravidar, depois de já ter uma outra filha linda adolescente, Ísis. Quanto ao porquê de não estar  mais com teu papai, foi uma escolha minha, mais minha do que dele acredito, mas essa história te contarei um dia tomando um café, ao som da chuva, quando já tiveres possibilidade e consciência para entender.
Para minha surpresa, quando viste teu pai, saiu correndo e abraçou ele forte. Parecia cena da novela das oito. Abraçou pegou a mão e saiu falando "pai". De cara disse "que saudade eu estava de ti papai". Teu pai emocionado. Eu aliviada e ao mesmo tempo feliz por te ver feliz.
As duas semanas não foram fáceis para mim sabe minha filha, eu havia conversado com teu pai em 2019 no Peru e tínhamos alinhado a possível vinda, que eu honestamente não acreditei até ver ele chegando mesmo. Os bastidores tiveram um clima pesado, tenso, desconfortável. Mas sempre que tu chegavas, "quebrava o gelo", irradiava luz e é como se a nuvem de tensão se desfizesse. Teu sorriso me lembrava do porque fiz tudo isso e para que fiz tudo isso. Por ti! Não quero que penses "mas eu não pedi isso". Sei que não pediste e talvez no futuro a gente até discuta por isso. Mas agora, eu não podia e não me sentia no direito de fechar a porta para o teu pai. Foi um dos homens que mais amei, mas que também mais me fez chorar (porque deixei, afinal ninguém faz nada a ninguém sem consentimento).
Nunca tinha visto teu pai como PAI. Vi ele como ator, como músico, como amigo, como namorado, como professor, mas como pai foi a primeira vez. Ele é extremamente amoroso e cuidadoso. Tem uma paciência contigo que eu não tenho. Te ensinou joguinhos, contou histórias, vocês dois tocaram flauta, levei vocês em lugares para que fizessem passeios juntos, só os dois e se "re-conhecessem" como pai e filha.
Não me arrependo. Não me arrependo de nada e faria tudo de novo. Teu olho brilhante e teu sorriso valeram qualquer dia com "nuvenzinha pesada". Eu, tua irmã Ísis (que mesmo longe perguntava como tu estavas com tudo isso), os amigos, os colegas, a família, te amamos muito, e quando fores maior e puderes tomar tuas decisões, nós estaremos contigo, te apoiando sempre. Porque família é isso, é apoio. É proteção, é carinho, entendimento. E nós três (eu, tu e tua irmã) temos esse triângulo forte bem resolvido entre nós. O triângulo é a forma geométrica que representa a santíssima trindade em algumas culturas. O início, o meio e o fim. O equilíbrio das três forças divinas. A letra delta que representa mudança, fluidez ou um circuito que volta ao princípio. 
Mergulhei no meu passado, saí ilesa dele. Para mim foi um tsunami de emoções, certezas, convicções e a página virada. O caminho agora é teu e do teu pai. Eu fui a ponte, se é que me entende. Ao mesmo tempo que tive esse passado movimentando as duas semanas, também tive um presente lindo, com pessoas incríveis me mandando apoio, amor, cuidado e carinho. Uma pessoa especial que me estendeu a mão, ficou todo o tempo me "oxigenando" de amor quando jamais pensei que poderiam ainda existir pessoas assim.
Estou bem! Voltando ao eixo. Orgulhosa de mim e da mãe/mulher que me tornei sozinha. Quem lê talvez não saiba porque estou escrevendo isso. Alguns conhecem a história outros nem fazem ideia. Não estou me expondo, tampouco minha filha. Escrevo sobre amor e verdade, cruciais no trabalho que tenho tentado desenvolver com o teatro. Preciso ser coerente entre o que falo e faço. Sobretudo minha filha, para ti. Quero que cresças forte, bem resolvida, amorosa, inteligente e que sim, acredite no amor. Em todos os tipos de amor: pelas pessoas, coisas, seres, mas sobretudo no AMOR PRÓPRIO! Por que se te amares minha filha, jamais vais mendigar amor, jamais vai deixar que te atropelem por amor... Seja você sempre! Linda, divertida, luz que ilumina o caminho das pessoas.
Te amo! Teu pai te ama! Te amamos! Isso é o que importa! Neste dias tenho certeza que te sentiste muito amada. Acarinhada. Te senti radiante! Tu tens 50% arte peruana neste corpo, e 50% arte brasileira, ou seja 100% artista. Não tem como fugir disso, mas também não vou te impor isso. Se cresceres e trilhares outro caminho, estarei contigo, segurando tua mão, como sempre fiz.
Eu te amo! Chorei, sorri, me estressei, sorri, brinquei, aprendi, resgate, mas sobretudo fui verdadeira comigo e meus sentimentos. 
Acabo minha carta com olhos cheios de lágrimas, não de tristeza e dor, mas de saber que neste momento fiz o que consegui fazer, não sei se foi certo ou errado e não me preocupo com os julgamentos, como sempre digo, sou eu que pago meus boletos, sou eu que escrevo a minha história. Sei quem sou, sei onde estou e onde quero chegar. Tu e tua irmã jamais me impediram de realizar sonhos, muito pelo contrário, me inspiram cada vez mais a seguir e me tornar a minha melhor versão.
Obrigado por me escolher para ser tua mãe nessa vida, Helena. Me sinto honrada e tenho aprendido muito contigo. 
Agora tu dizes que tem dois pais, o papai de "Machu Pichu" e o vovô pai (que tem sido o melhor vô do mundo contigo, resgatando o pai amoroso que não conseguiu ser comigo).
De todo meu coração, sejas feliz "minha gordinha"!
Mamãe "louca"...
Lisi





                                      


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Vamos falar de amor?

Sérgio Azevedo Fotos

Amor. Casamento. Essas palavras nem sempre andaram juntas. Antigamente os casamentos eram arranjados pelos pais para que o dote fosse estabelecido. Uma garantia quase de sustento. Com o tempo houveram casamentos/associações onde seria bom que a "família tal" se unisse com a "família tal" ambas de renome, por uma questão de acúmulo de patrimônio. Também tivemos o casamento romântico, aquele focado só no amor, que tinha como compromisso "sempre juntos" e de repente o sempre juntos se transforma numa absurda rotina, passam-se os anos, as pessoas apenas "suportam-se juntas" mas já não se amam, se toleram. Aí veio a contemporaneidade, a era digital e o casamento/amor ficou quase obsoleto. Você pode arranjar uma pessoa em dois cliques, ir para algum lugar em três cliques, mudar o perfil para "relacionamento sério", amar, desamar, brigar, se expor em rede social e tudo fica instantâneo, superficial. Clica e fim!

Falar de amor nunca foi tão urgente e necessário. Todos os dias somos invadidos por notícias de violência e indiferença, basta ouvir os noticiários. Parece que o desamor tomou conta de nossas vidas. Os poetas, seres amorosos e intensos por natureza, já sabiam e sempre tentaram explicar através de rimas e sonetos e inclusive nos alertaram sobre isso. Amar todo tipo de amor. Amor as coisas, as pessoas, aos seres presentes ou que já partiram, oniscientes, amar a si e ao outro, amar quem nos ama, amar quem nunca nos amou. É tempo de celebrar o amor, adaptá-lo à sua própria realidade, fugindo dos clichês e trazendo só o que realmente vale a pena.
Quando a Carol e a Bibi me convidaram para o casamento, eu sabia que não podia perder e me organizei para estar presente. Acompanhei o inicio de tudo e o quanto o AMOR (eu disse amor) mudou a vida dessas duas mulheres incríveis e corajosas. Não lembro qual tinha sido o último casamento que tinha ido, não gosto muito desse ritual e nunca foi meu foco. (Nunca casei apesar de já ter morado com outras pessoas, mas o sonho de noiva nunca se fez presente em minha vida).  Um lindo final de tarde de um sábado ao ar livre, o tempo mudou mas o amor sempre vence. Abriu-se um céu lindo (quem mora em Canela sabe que chuva é cotidiano por aqui e sempre você precisa de um plano B caso tenha algum evento na rua). O cenário: Magnólia! Lugar antigo, rústico, descolado e de bom gosto, uma das casas  mais antigas da cidade assim como o amor. Convidados selecionados a dedo. Nada de convidar o mundo todo para se "mostrar" como  a maioria dos casamentos, ali estava quem elas amavam, e quem amavam elas. Artistas. Música. E que música, as noivas entraram ao som de Johnny Hooker "Flutua" cantado a quatro vozes incríveis. Emoção estampada nos olhos marejados de todos. Palmas. As noivas lindas, cheias de personalidade e com olhos brilhantes entram em cena... Não há inveja! Há orgulho! Orgulho de duas mulheres que não tiveram medo de quebrar todos os padrões possíveis e estarem juntas. A cerimônia foi uma aula de como o amor pode mudar as pessoas. Música, discursos emocionados, benção, pai nosso. Eu sutilmente saí do meio dos convidados e me posicionei numa mesinha onde podia ver toda a cena de longe. Adoro observar plateia. Além dos convidados, na rua haitianos e outras pessoas passavam, paravam e contemplavam. Eu disse, contemplavam... não era curiosidade como quando acontece um acidente e todo mundo quer espiar, era olhar e sentir o amor. Porque amor de verdade inspira, mexe com a gente, transforma.

Cerimônia linda. Recepção linda. Gente linda. Festa linda. A cara delas! Personalidade!
Nos dias obscuros que vivemos poder presenciar um casamento assim, onde há amor, escolha, verdade, olho brilhante, ternura, afeto, companheirismo é gratificante. Me senti honrada de estar por lá. Honrada em fazer parte dessa história linda que a Carol e a Bibi protagonizaram e seguirão firmes. Sim, porque firmeza não falta a essas duas. Força, coragem! Mulheres de "culhão" sabe, se é que me entendem!

Tudo que mais precisamos é amar, não por escolha, mas por uma questão de necessidade. É hora de unir versos, conhecer e respeitar outros universos, ser como se é, amar o que se tem, quebrar padrões e fazer a sua travessia. Nem tudo ou quase nada são flores, mas para alcançar o amor, seja ele qual for, você precisa entender que vai ter tudo em tão pouco e agradecer por isso. Que sejamos intermináveis em nossa entrega!
A Carol e a Bibi eu desejo assim como o Cazuza, todo o amor que houver nessa vida. Felicidade! Sigam sendo e fazendo exatamente o que vocês são! Amamos vocês! Nos reconhecemos em vocês! Festejamos com vocês! Choramos com vocês! O amor venceu mais uma vez! Na verdade ele sempre vence, mesmo que a gente relute em aceitar.

Viva o amor! Vivam as "chamis" mais fodas da cidade...

Carol e Bibi