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terça-feira, 9 de novembro de 2021

Ventos Internos


Novembro de 2021. O ano acabando e nem conseguimos apreciar os dias. Tudo rápido. Tudo descontrolado. Tudo fora do lugar. Dentro e fora.  Um sufoco. Viver tem sido literalmente um sufoco. Estamos ainda juntando os cacos rasos do "pós pandemia". Não nos reconstruímos coisa nenhuma, não nos reinventamos, apenas sobrevivemos como pudemos. Foi cansativo. Tem sido cansativo. Um deserto de possibilidades. Pessoas quebradas geram outras pessoas quebradas. Pessoas transtornadas transtornam outras pessoas e assim sucessivamente. E no meio disso a gente se depara com os nossos aneurismas emocionais. Tudo aquilo que vinhamos jogando embaixo do tapete, sufocando, camuflando. 

Ventos internos sopram. Uivam com força dentro de mim e não adianta mais fechar portas e janelas. As frestas estão enormes. O vento transpassa. Cansa esse exercício de tentar abraçar o vento. Abrir-se para ser levada no centro do furacão é necessário mas dói essa movimentação. Ser o que se é, falar de verdade o que sente pode afugentar as pessoas que não escutam seus próprios sons, suas próprias tempestades. Não adianta fugir da chuva quando você não tem onde se abrigar. Olhar-se. Desvelar-se. Desnudar-se! Concentrar tudo em si, não nos outros como sempre fazemos. Esperar do outro pode ser fatal, porque jamais virá o que você quer. Virá o que você precisa, e geralmente você se decepciona porque alimentou expectativas.

Rasgar-se. Falar o que vai na alma, é bem mais complicado que só abrir a boca e buscar palavras certas que encaixam. Falar o que se sente de verdade, falar o que não gosta, falar os medos, as dores, os anseios e receber silêncios, é frustrante. Mas aí vem a grande revelação: o problema não é o outro, é tudo aquilo que você jogou sobre o outro para não precisar lidar sozinha com seus fracassos. FRACASSADA! FRACASSAMOS! De várias formas: como gente, como pais, como filhos, como empregados, empregadores, como amantes, como amigos, como humanidade. Sim, engula isso, você vai fracassar em algum momento em algum aspecto da sua vida. Alguns fracassam mais, outros menos, mas TODOS fracassam! Lide com isso! A grande lição a ser aprendida é como você lida com seus fracassos, com suas dores. É daí que vem sua maior fortaleza, se ainda tiver tempo para entender isso.

Será que somos apenas uma forma no espelho? Curvas, cabelos, rugas, barriga, uma aparência refletida. Lembrando que o espelho foi criado por nós mesmos, seres humanos. Criamos algo que muitos tem pavor, ou dificuldade de relacionar-se. Quando foi que demos ao espelho todo este poder? Será que ele nos vê com tanta profundidade assim? Reflete mesmo o que somos? Ou o que não somos? Ou como nos veem? E será que nos vemos de verdade? O espelho é um instante. Somos instantes mas estamos mais instantâneos. Queremos tudo com a urgência de ontem. Perdemos tudo pela pressa. Maldita pressa. Apressados comem cru e consequentemente mais (meu caso). Tenho pressa violenta  de tudo e isso tem consumido minha cabeça, minhas ideias, meus dias, meu sono. Estou com saudade de sentir calma, paz interna. Lucidez! Nem lembro mais como é isso. Me sinto sempre no abismo, atrás uma constante pressão e vou colocando o pé na frente para evitar a queda que virá. Inevitavelmente.

Mas eis que dentro de mim também tenho a rosa dos ventos, todos os pontos colaterais. Só preciso seguir uma direção e no fundo sei bem que sou eu o leme da minha própria história. Não adianta querer perder o rumo. Navegar em si é preciso! Há ventos internos esperando novas rotas. Eu, com minhas ideias quase explodo. Tento expressá-las quando confio, mas percebo que é difícil o entendimento. E já não quero mais me fazer entender. Respiro. Organizo os pensamentos. Observo em volta. Saio. Me sufoco com pensamentos maléficos sobre si mesma. Preciso me apropriar de todo o meu poder pessoal. Preciso me apropriar do meu valor. Do valor das minhas ideias, da planície certeira da minha intuição. Tenho sido honesta comigo. E você? Tem sido consigo? De verdade?

Canso. Até escrever esta semana ficou difícil. Geralmente não é. Mas escrever o que para quem? Qual valor da minha escrita? Até onde ela vai, e se vai, porque vai? Entendem? O que estou fazendo? Indo! Ultimamente só vou. Mas vou onde me querem. Onde me aceitam. Onde posso fazer diferente. Até quando? Espero que breve! Que passe todo esse gosto amargo na minha boca. Que passa logo essa sensação de inutilidade absurda das minhas horas. Que passe logo a dor de cabeça que nunca pára junto com os pensamentos atordoados. Que passe logo a palpitação no peito quando penso determinadas coisas. Estou há alguns dias mexendo num lodo interno compreendem? E eu fiz de propósito. Quanto mais dói, mais mexo, mais cutuco a ferida. Que abra e sangre! Que verta o sangue coagulado, que limpe para receber a transfusão necessária do que vem por aí.

E sim, vem muitas coisas boas e grandes por aí. Por isso a limpeza interna. Não sei se sentem como sinto, Não estou em crise, ou pensando em fazer bobagem, estou escrevendo apenas sobre algumas sensações. Escrever me alivia. Me coloca num estado sempre melhor de quando comecei a primeira palavra. Talvez você que me lê, caminhe, ou escute música, ou faça algum esporte e sinta esse alívio. Importante é descobrir em tempo. Estou me abraçando, me redescobrindo e me preparando para o novo ciclo dos 45. A maioria adora fazer aniversário. Eu já gostei mais, hoje trabalho a minha mente para "é só uma data qualquer", um número. Fim. Somos números já pensaram? Número do cpf, da certidão, da placa do carro, do óbito, da casa, da conta bancária, da casa, dos vacinados, do populacional do planeta. Apenas um número entre tantos outros números. Algoritmos na internet.

Cansei! Aqui também somos números de caracteres e creio ter extrapolado os meus. Foi um bom momento com essas ideias e constatações, quero registrar para quem sabe usar numa peça ou texto dramático. A ideia do blog é isso, escrever para se reler, reaproveitar ou apagar. Nada mais. Simples assim. Me despeço caríssimos, espero que vocês tenham tido um bom dia, eles estão raros ultimamente, e geralmente são bons quando despretensiosamente nos acometem. Minha dica: não crie expectativas sobre nada ou ninguém. (quase impossível mas dá para controlar) Vai evitar muitas dores de cabeça.

No mais, tome um café, mande mensagem a alguém importante para você. Verbalize. Não deixe passar. Não espere nada. Dê o seu melhor, e seja sempre, impreterivelmente honesto com você. 

Até loguinho!

Sigo.

Lisi Berti (estou bem gente, só escrevi o que me veio nas estranhas)


domingo, 26 de setembro de 2021

Sou um coração batendo no mundo

 

Vocês que me leem devem pensar: "Lá vem ela...". Calma pessoal, tentei três vezes escrever aqui na semana que passou, deletei uns textos, salvei rascunhos, mudei tudo e recomeço. As sombras não estão me dando trégua ultimamente, então preciso vencer umas batalhas diárias que começam pelos meus pensamentos e se alastram pelo corpo e memória. Pareço que nasço a cada dia de um parto difícil. Mas ainda assim, nasço! Com um coração que insisti em bater forte. Um coração que já passou por algumas "paradas secas e bruscas"mas é insistente. Não me ensinaram a amar. Fui aprendendo no dia a dia da vida. Amar pessoas, trabalhos, coisas, filhos, família, amigos, amores. São formas distintas de uma única ramificação. O mundo tem me ensurdecido tanto que tenho buscado ouvir só o que vale a pena, exercitado um "falar" também para quem realmente me escuta.

Escrevo depois de desmoronar na noite passada em um pranto, leve até, baixo, mas na frente de outra pessoa. Cada lágrima um borrão. Mas eu segurei onde pude. Achei ironicamente que conseguiria mas me dei conta que eram lágrimas de dias, meses, talvez até de outras vidas. Tem passado tanta coisa no íntimo particular. Tantas provações. E provocações. Nascimento e morte. Tentei achar palavras e expressar tudo que pensei/senti mas acredito que não tenha sido tão clara. Acho importante tentar. Há pessoas que valem nosso esforço. Nosso melhor. O que irão fazer com isso é da conta delas. A nossa é buscar a maior autenticidade e verdade possível.

Tenho hoje e vivo exatamente o que meu coração pediu. E tudo é fantástico e me apavora. Até as palavras certas na verbalização me escapam, pois quero usar sempre as palavras certas para não ser interpretada erroneamente. Quero ter o cuidado de não cometer erros passados, quero ter a leveza de viver algo que agrega e não me aprisiona. Usei o verbo "querer", perceberam? Me vem a frase que só "querer" não é poder. Existe uma malignidade nisso, percebem? Quase uma profecia. Exorciso meus demônios do passado quase sempre. Corro riscos. Corro risco de parecer idiota. E sou! Corro risco de parecer infantil. E sou! Corro risco de parecer apaixonada demais. E sou! Corro risco ao escrever, ao falar, ao sentir. E sempre escrevo, falo e sinto. Eu gosto de correr riscos. Sempre gostei. Não tenho medo do inseguro, não tenho medo de parecer fraca, nunca tive medo de errar. Estou vivendo algo que jamais imaginei que pudesse viver. Chega a ser desconfortável às vezes, porque estou numa área que não domino. (Outro verbo "dominar").

Não sei o que passa comigo. Mas tenho recebido tanto que às vezes me assombra a dúvida. É isso mesmo, Senhor? Procuro ser sempre franca e meu jogo é limpo. Sou honesta comigo e com o outro. Abro o jogo. Sai aquela verborragia fatal nas horas incandescentes, inapropriadas até. Elas saem. Tento frear. Não sou boa fingidora quando o assunto é coração. Meu coração sempre bateu forte pelo mundo. Mas poucos se deram ao trabalho de ouvir. Alguns apenas usaram, despedaçaram. Zombaram do som que ele tinha. Recuso-me a silenciar meu coração. Me aprofundo nele todo dia. Escuto ele mais que nunca. Ele sempre me prepara. E desta vez me preparou de uma forma evolutiva. Cada dia um pequeno desafio para que trabalhe algo em mim. O outro é meu espelho. Fico em constante vigília porque tenho medo que se quebre tudo de novo. Inevitável!

Estou perto de completar 45 anos.Não brigo com o espelho. Gosto da mulher que vejo, gosto do coração que levo. Extremamente generoso. Grandioso. Verdadeiro. Sinto como adolescente. Tudo é novidade. Tenho pressa. Tenho desejos. Tenho vontades. Algumas esperam, outras não devem esperar. Abdiquei de tolices, ciúmes, discussões. Vivo um outro tempo, um momento quase mágico onde tudo funciona. Inacreditavelmente tudo entre nós funciona. Até quando discordamos. Melhor ainda quando discordamos. Eu nunca tive alguém que me deixasse a vontade, livre, deixando eu ser quem sou. Sem teatro, se é que me entendem. Eis aí meu problema, sou a rainha dos medos e isso me atordoa. Sigo a voz do coração. Ele me emociona. Ele me encanta com sua inocência madura. Precisava sentir isso. Como sinto. E vejam, não estou falando de paixonites, de apenas estar com alguém. Estou falando de se REencontrar em outro alguém. Sinto como se havia uma parte de mim solta, vagando pelo mundo que agora se encaixou num outro contexto, mas sem mudar a essência. Isso é tão incrível!

Eu conheço ele todo sem conviver com ele. Talvez meu escrever não faça sentido algum para vocês que me leem, mas não é para fazer sentido. Se leram até aqui é porque de alguma forma me compreendem. Ou passaram ou querem passar por isso. E digo, vale cada minuto das merdas inteiras do passado. Vale a constância. Vale cada lágrima escorrida e banida de dentro. A comunicação é tão forte que às vezes nem precisa comunicar. É difícil falar do que não se pode ser dito. Tornamo-nos UNOS. Separados. Como traduzir o que sinto? Como fazer entender que por vezes meu coração salta pela boca? Talvez seja um estado agudo e louco de felicidade. Danem-se! Não me importa o que dizem. Estamos numa comunhão perfeita. Tão perfeita que às vezes, por medo, quase coloco tudo a perder. Peço desculpas pela intensidade dos meus abraços, da minha escrita, das minhas palavras, do meu choro, das minhas mordidas, dos meus desejos. Eu sempre fui assim, só que secretamente. Contigo não preciso esconder-me.

Mas para que escrever tudo isso aqui? Talvez você nem leia. Outros que nem te conhecem ou nos conhecem de verdade lerão. Na verdade tenho muito amor aqui dentro e às vezes não sei como usar. Como tantas outras pessoas que não foram "ensinadas a amar". Tenho tanto amor que me inquieta. Me dá soluços. Amem antes que seja tarde demais. Continuo correndo perigos. Tudo bem. E o que me espera, como você e outras pessoas é que não sabemos o que nos espera na verdade. Lancemo-nos nisso. Sem piedade. Sem culpa. Apenas sei que tenho vivido os melhores dias da minha vida, apesar da loucura da própria vida. Para ti sempre haverá espaço, tempo, pausa, resposta, respeito, silêncio, voltas e recomeços. Tu me ensinaste de verdade que se pode amar, sendo livre. Sendo leve. Sendo eu. Tu tens me ensinado que a família é o bem mais valioso e mesmo não sendo perfeita, é minha família. Honro! Te honro! As mãos mais calorosas e amorosas da minha vida. O homem mais imperfeito e perfeito para mim. 

Todas as noites, antes de dormir, agradeço. Geralmente vem uma frase tua. A coragem de continuar sendo eu, contigo. Se soubesses quanta coragem para abrir meu coração de novo foi preciso. Mas sei que sabes. Te admiro por me suportar tanto tempo. Não sou fácil, mas também não é difícil me entender. Basta querer. E sei, lá do fundo que me queres!
Sou um coração batendo no mundo...mais feliz depois da tua existência nele.
Segredo nosso! A e B. Aqui palavras soltas. Entre nós sempre as palavras com gestos simples e significativos. 
Termino aqui esse "desabafo transfigurado de realidade". Precisava escrever para a catarse. Assim me regenero do ontem. 
Mas por favor, o que é que significa tudo isso que estou escrevendo aqui?
Sou menina dentro do corpo mulher/mãe.
Basta que meu coração bata no peito. 
Isso me basta!
Estou feliz! O que estraga minha felicidade é meu medo. Mas vou melhorar isso. Prometo!

Lisiane Berti



domingo, 22 de agosto de 2021

Quando a gente se encontra nos "cafundó" da vida...

Vista da janela do quarto da Pousada Cafundó



Sábado. Cerração. Frio. Chuva. Dia não muito atraente para pegar a estrada e finalmente conhecer a Pousada Cafundó em Cambará do Sul. Duas vezes eu tinha feito reserva e cancelado por motivos de trabalhos. Saímos pela manhã. No meio do caminho, depois de uma pausa no Café Tainhas (para um café preto sem açúcar), o tempo foi abrindo, como se estivéssemos saído do filme "As Brumas de Avalon"e entrando em uma "matrix", com sol e tempo aberto. Chegamos! Cheguei! Finalmente, após uma pequena espera para check in.
Escadaria. Vista de tirar o fôlego. Silêncio. Vento. Pássaros. Ovelha recém nascida gritando ao longe. Coaxar dos sapos. Mas não estou aqui para falar dessa visita tão esperada, estou aqui para falar dos "sinais" que a vida me deu, sobretudo nesse fim de semana. 
Vamos começar pelo nome do local:

Cafundó -  baixada estreita entre encostas ou lombas altas e íngremes. Local de difícil acesso, esp. quando situado entre montanhas ou quando longínquo e pouco habitado (tb. us. no pl.).

Se me dissessem há uns anos atrás que eu iria para lugares assim, literalmente me esconder, eu riria e diria jamais! Meus pais moraram longe na minha infância nos "cafundó do Judas" perto da Usina da Toca e eu sempre fui incompatível com natureza. Era, pelo menos! Sentada no banco de madeira da pousada, olhando exatamente a imagem acima, vendo as árvores balançar me dei conta  que ultimamente, ando trabalhando em lugares que jamais imaginei ou dizia que não trabalharia, ando cada vez mais me esquivando de gente (logo eu que sempre trabalhei com várias pessoas). Comecei um livro que já era para ter sido terminado há pelo menos dois anos. Parei, me perguntei o que de útil esse livro vai servir? Escrever só por escrever? Não, precisa realmente fazer a diferença. A pesquisa de 10 anos pareceu não ter sentido na pandemia. Mudei tudo, comecei do zero, reescrevendo página a página. A primeira coisa que ouvi na chegada do recepcionista da pousada após dizer que finalmente ia conhecer o lugar que duas vezes cancelei, ele ri e responde: "Que bom que não desistiu, veio na hora certa e tenho certeza que vai voltar". Sim, vou escrever na hora certa e com certeza vai ser mais significativo. Universo me manda recado um.

Seguimos com os relatos e meu super "tetiateti" com o Senhor Universo. Noite cai. Frio. Vento. Muitos papos. Papos sérios, risadas. Música boa.  Desligo o celular. Chega de receber mensagem de trabalho. Hora de desligar mesmo. Noite em que sonhei muito e apaguei. Sonhei com pessoas que trabalho há anos, que me levavam em reuniões (das quais eu tive de deixar pessoas esperando) e na hora de entrar para a reunião me deixam do lado de fora. Acordo com a sensação de que novamente estou dando atenção demais a quem se preocupa comigo só quando precisa. Não podemos cometer esse erro Lisiane Berti, de carregar os sonhos dos outros nas costas, você já fez isso uma vez. Acorde. Acordei e tive a certeza de que meus últimos "nãos" para o trabalho foram corretíssimos. Ok Universo, mensagem dois recebida com sucesso. 

Voltamos. Antes um abraço apertado. Daqueles que a gente não quer que acabe porque tem medo de voltar para a dura realidade. Daqueles que te sente pequena (e olha que ocupo espaço). Afeto. Abrigo. Eu nunca fui muito de abraçar, até uns anos atrás minha filha me cobrava muito isso. Hoje é uma das coisas que mais faço. ABRAÇADORA! Cortamos caminho. Fotografei dois túmulos, paisagens, casas que foram importantes na vida da pessoa que estava comigo. A vida. Os sonhos. As pessoas. Mudam todo o tempo. O que fica? O que você carrega no seu corpo: memória, história, conhecimento e vivência. O resto é pura bobagem. Sentimos a nostalgia ali. Eu escrevo, meu queridinho relembra a vida, a infância, os tempos ligados a natureza. Respeito. Respeito absoluto pela história dele. Pelas vivências dele. Viver o hoje! Universo me faz entrar na estrada de chão batido feito de simplicidade e pó, para não esquecer exatamente disso: tudo acaba em pó. Aproveite seu dia. Não corra tanto. Dê valor a quem quer estar com você.

Almoço. Visitamos um amigo. Acho que foram 30 minutos para colocar a vida em dia. O amigo em questão fala sobre estar a 50 anos no mesmo trabalho, sobre estar sozinho e bem, sobre ter vivido o que precisava, sobre não ter problemas, sobre ter a melhor vista da cidade e curtir a solitude. Sobre SER e não sobre TER. Outro café. Outro recado: a vida é para os corajosos. A vida é para quem não tem vergonha de dizer "não deu certo", "eu tentei mas não consegui". Fracassos são eminentes. Vem e vão. Fracassei em muitas coisas na minha vida. Em empregos, amigos, amores, faculdades, escolhas que achei que eram as melhores e não foram. Fracassei bravamente. É provável que ainda fracasse mais e melhor. Mas todos os fracassos me trouxeram a esse entendimento de vida. De um pouco de maturidade depois de muito bater a cabeça. Tá bom Universo, seguirei tentando. Fracasso aqui, sucesso ali. Tudo efêmero!


Pés no chão, olhos no mundo, no meu mundo

Voltamos. Voltei. Mil reflexões. Pensamentos. Divagações. Em casa recebo um abraço da Helena e um "como foi mãe, se divertiu?" da  Ísis. Espero que minhas filhas tenham os aprendizados delas e se tornem boas pessoas, por hora já são. Cada uma tem um lindo caminho pela frente , mas sei que não serão belos e fáceis todos os dias. Meu queridinho vai para a casa com seu fiel cachorro. Vou para a minha. Imagino do lado de lá o que se passa, o que ele pensa e sente. Tenho meu entendimento, ele o dele. Talvez para ele tenha sido apenas um lugar para passar o fim de semana. Sem stress como ele diria. Para mim foi um misto de muita coisa. Tem muitas outras coisas que poderia discorrer aqui, mas prefiro apenas guardar na memória, bem escondido, para ninguém ver e saber mesmo, porque não interessa. 

Escrevo na primeira pessoa, no meu blog, coisas bem pontuais e pessoais. Espero que desse lado aí, de alguma forma, você também pare um pouco para prestar atenção aos "recados do universo", eles são corriqueiros quando você realmente escuta, ouve, sente. Há quem ache isso uma grande bobagem e está tudo bem. Respeito. Cada um com seus argumentos. Está tudo certo. Cada um sabe dos seus "cafundós", dos seus lugares perdidos no meio do nada. E justamente nesses lugares íngremes, perdidos, seja no campo ou na memória é que você vai encontrar as respostas que precisa, com quem precisa e do que não faz mais sentido na sua vida. Aproveite para esconder-se e achar-se. Aproveite os raros momentos de "difícil acesso" a você mesmo. A vida nos atropela o tempo todo! Eu me deixei atropelar durante muito tempo, por bobagens, mesquinharias, por pessoas, coisas, medos bobos. Ainda deixo às vezes, mas agora com menos frequência. 

A vida da rede social tem me deixado cansada. Muitas das pessoas que admirava e gostava postam  X e fazem Y. Quanto mais vejo os bastidores mais me decepciono. Não sou santa, também erro, faço idiotice, me arrependo. Apago. Deleto. Mas tenho tentado realmente ser "útil" em todos os sentidos. Tempo é preciosidade. Tempo é vida. Tempo nunca deixou de parar. E nestes tempos pandêmicos, avassaladores, cansativos, difíceis, procuro do meu jeito, entrar em contato "cá com meus cafundós, remendando emoções", falando o que sinto sem esperar nada. Detalhe, falando a quem ouve de verdade, sem gastar energia com quem não quer mudar.
Sigo. Seguimos! 
O medo me faz duvidar às vezes de muita coisa, as cicatrizes dos tombos passados me lembram que preciso ser mais cuidadosa comigo. Não posso mais me dar ao luxo de brincar com minhas emoções. Na dúvida, saio de fininho, sem chamar atenção e vou para casa. A liberdade de poder ir e vir. Fechar portas. Entregar a chave na recepção e agradecer por tudo. Até a próxima, talvez. Ou não!
Não sabemos! Ninguém sabe muito na verdade.

Lisiane Berti



domingo, 11 de julho de 2021

Fundação Cultural de Canela encerra atividades

 


Sérgio Azevedo Fotos


Li com muita tristeza e na corrida na sexta (09/07), a matéria do Jornal Nova Época de Canela, com uma foto da atual presidente Glenda Viezze, falando que depois de 30 anos a Fundação Cultural de Canela irá fechar. Passou "batido" no primeiro momento, mas depois com calma fui me inteirar e a primeira coisa que fiz, foi falar com a a própria Dona Glenda, a quem respeito e estimo muito e não é de hoje, para entender e depois me posicionar aqui, no meu blog, porque sei que quem vai ler, será por curiosidade ou porque realmente se preocupa com a cultura da nossa cidade.

Deste tempo todo de Fundação eu acompanhei quase desde o início quando sua sede era ali, no prédio onde hoje é a Estação Campos Canella, embaixo da então Biblioteca Pública. Hoje ela tem uma sede própria com o Espaço Nydia Guimarães, aos fundos da Churrascaria Espelho Gaúcho, a casa colorida da esquina.  A Fundação foi criada lá atrás por uma necessidade, de dentro da prefeitura e porque as verbas naquela época, precisavam de uma entidade para poder utilizá-las. Hoje tudo mudou, agora precisa ser a própria prefeitura a adminstrá-las com editais e licitações.  Durante anos a Fundação teve como "carro chefe" o Festival de Teatro de Canela, o Festival Internacional de Bonecos de Canela ( se mantém capenga mas ainda existe graças aos esforços da entidade e a boa vontade do atual prefeito), entre tantos outros eventos e inclusive editais nacionais ganhos. 

Eu, que não sou hipócrita, questionei algumas vezes o papel da Fundação. Houveram épocas que eu achei ela muito "fechada" e não entendia porque sempre os mesmos, estavam a frente, num conselho fechado, trocando apenas as cadeiras da diretoria. Isso algumas vezes me incomodou profundamente. Mas, como disse, não sou hipócrita e em 2016 assumi o Departamento de Artes Cênicas da Fundação Cultural e de quebra coordenei em 2016 e 2017 o Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Canela. Ali, vi de perto o bastidor da coisa toda. Ali vi como funciona a máquina pública, os editais, as negociações e a dificuldade que já naquela época a Fundação enfrentava. Se não fosse esse mesmo conselho fechado, que não recebe salário algum para trabalhar (a direção não pode), talvez ela tivesse sido extinta bem antes. 

Presenciei de perto, ao lado da Dona Glenda (falo dela porque foi ao lado dela que mais trabalhei) e da Zita que faz (loucamente e brilhantemente a parte burocrática e prestação de contas) que vi muita coisa, passagens aéreas sendo pagas pelos bolsos da própria para que os artistas pudessem chegar ao festival e sem uma certeza se receberia de volta ou quando receberia, vaquinhas para pagar luz e água, projetos, batidas nas portas do empresariado local e comunidade que por sinal sempre abraçaram como puderam a causa entre tantas outras coisas. Vejam bem, não escrevo aqui para defender ninguém, escrevo pela indignação que me causa mais uma vez nossa cidade perder algo de tamanha importância, porque sim, independente de partidos , e mais ainda por ver posicionamentos e "lamentações" de  alguns artistas locais que sempre falaram mal da entidade ou ficam até hoje em cima do muro, sabe aqueles "neutros"que precisam garantir um "cachezinho" básico no natal ou páscoa, mesmo que mísero, e garantem assim a sua "sobrevivência" temporária ficando de "bem"com todos, porque assim, conforme quem entra, ou o partido "x" eu garanto de novo meus "cachezinhos" e posto na rede social como sou produtivo. Pró ativo até! Bonito, não?

Não perco meu tempo respondendo ou criando polêmica em rede social com gente que nem sabe da história cultural da cidade mas adora bisbilhotar e falar mal. Informem-se antes e façam o favor para si, de estudarem ou no mínimo pesquisarem para depois tecer comentários. Tudo que está acontecendo conosco, agravado ainda pela pandemia, é resultado daquilo que plantamos, ou deixamos de plantar, ou ainda largamos nas mãos de quem não entende "patavinas" de cultura e está no poder. Sempre foi mais ou menos assim. Minha escrita é um grande puxão de orelha a alguns  "colegas artistas" (sim eu posso fazer isso, porque não comecei ontem e sempre trabalhei pela cultura local, bandeira essa que sempre levantei nos eventos, entidades, escolas e lugares por onde passei). Por onde andam vocês? O que fizeram além de apresentar projetinhos focados no próprio umbigo? Fazer postagem em rede social não é posicionar-se queridos, quando fundação precisou do apoio, por onde vocês estavam? Em 2016 uma das primeiras coisas que fiz no Departamento de Artes Cênicas foi convocar todos os que trabalhavam com teatro e Arte na cidade (inclusive os que se odiavam) para uma reunião, para que a gente pudesse pensar e trabalhar juntos, em prol de todos nós e pela comunidade. Para minha supresa, a grande maioria foi, mesmo com olhares atravessados, conseguimos fazer algumas coisas juntos, como o Dia da Arte Livre, o Projeto 3x4 em Canela (focado em buscar a identidade local e propor uma programação mensal em diversos teatros, quando os tínhamos, na cidade). Ainda como coordenadora do Bonecos , apoiada pela Dona Glenda, propomos oficinas de teatro gratuita com os bonequeiros internacionais (afinal eles vinha, ganhavam cachê em euros, comiam do bom e melhor, apresentavam e o que deixavam a cidade e aos jovens bonequeiros?). Também foi com a Dona Glenda que aprendi a ir bater de porta em porta com elegância, usar do currículo artístico e envolvimento comunitário com respaldo para pedir apoio e ser sempre bem recebida, e foi justamente num desses festivais que sugeri homenageá-la com a banda marcial da Escola Neusa Mari Pacheco na abertura de um Bonecos com a música favorita dela. Ela merecia e merece muito. (foto desta postagem)

Meu "bravo" e obrigado de verdade a todos os conselheiros da Fundação, amigos, pessoas envolvidas que doaram tempo, ideias, projetos e horas de trabalho. Não foi em vão. Nunca é! Mas pra mim, atualmente, a Fundação e muito da cultura canelense se resume na pessoa "Dona Glenda", ela sim, lutou muito por muita coisa que a comunidade artística nem faz ideia, muito antes da criação da Fundação e justamente por todas as vezes que a entrevistei, convivi e trabalhei com ela, decidi hoje (domingo) ligar e saber como ela estava com tudo isso. Emocionada ela me respondeu, elegante, mas num tom de voz triste, de quem entregou os pontos mas acredita ainda na luta, nas novas gerações de artistas (eu não sei se acredito mais). Ela ressalta: "A Fundação não estava mais conseguindo cumprir com seu objetivo, todos os conselheiros foram unânimes, era hora de encerrar os trabalhos." A primeira mulher a entrar para o Rotary em 1998, uma das pessoas que viu de perto o nascimento do Festival de Teatro de Canela na Escola Cenecista, quando era diretora para evitar a evasão escolar dos alunos, o teatro foi uma estratégia que deu certo. A mesma mulher que acompanhou a compra e a polêmica do canhão seguidor em Canela, que encomendou um bolo de 50 metros e colocou na rua para comemorar os 50 anos da cidade.  Canela deve muito a Glendas, Sheilas, Nildinhas, Marinas, Romas, Catarinas e tantas outras mulheres que lutaram pela cultura. Canela vem perdendo sua identidade cultural e não é de hoje, e  não adianta apostar apenas em turismo, rótulas, asfalto, progresso. Nosso diferencial sempre foi o embrião comunitário. O pilar Arte/ Comunidade/Escola sempre geraram e gestaram nossos eventos (Sonho de Natal, Feira do Livro, Festa Colonial, Festival de Teatro, ...)

Mais uma página virada. Mais um história encerrada. Não é daqueles finais que a gente esperava, mas enquanto Canela se perde nos contextos identitários, Gramado alavanca (eu eu torço muito por isso mesmo porque trabalhei 10 anos concursada lá pela cultura também). Gramado soube se posicionar e correr atrás. Lá tem alguém certo, para o cargo certo que faz! Todos estão juntos focados em apoiarem-se, sobretudo nas políticas públicas. Canela me parece estagnou, patina nas mesmas demandas de 10, 15 anos atrás e se contenta, não encontro outra palavra, com o que tem. Como disse antes, se tiver meu "cachezinho" de Natal, tá bom. Se garantir "o meu", tá bom! E assim vamos afundando. Talvez quem me lê, diga ou pense : "mas quem ela pensa que é para dizer isso ou falar dos artistas?". Bom, eu não estou falando dos artistas e sim, de "alguns artistas" que se vendem mal, que puxam tapete, que fazem políticas errôneas, que fraudam projetos, inventam currículos, alteram dados para conseguirem seus projetos aprovados. Por causa destes mesmos, pagamos um preço alto para tentar ser justo e corretos e não ouvir sempre : "ah, mas vocês fazem qualquer coisa, são tudo igual"...

Os problemas estão aí. O cenário novo, pós pandêmico, sem o teatro (espaço físico) em Canela (outra luta perdida e talvez não muito questionada),  editais, licitações (nem todos são ruins quando feitos de forma eficiente), um descrédito cultural total com perdas como Festivais, Feira do Livro e agora o fechamento da Fundação. E virão outras perdas, outros eventos encerrados, não se enganem. Mas para que isso realmente não caia nos esquecimento, é importante lembramos que partidos vem e vão, entidades vem e vão, progressos vem e se desfazem, mas nós, nós comunidade, nós pessoas artistas, nós identidade, nós memória, nós ficaremos! Precisamos cuidar para não nos enclausurarmos em nossos nichos, em nossos teatros individualistas e acabar nos tornando prisioneiros da exploração comercial.  A simplicidade e o equilíbrio entre turismo e cultura são a maior força (ao meu ver ) da nossa cidade. Desde os primórdios quando João Corrêa viu aqui a  "ilha perdida no meio dos trópicos" e trouxe o trem, ou ainda lá atrás quando os imigrantes alemães como os Wasem foram se instalar lá no Caracol e viram um "mato de possibilidades", a Terra que sempre acolheu, que sempre preservou seu passado, origens, raízes. Isso é Canela! E sim, meus caros, devemos cada célula nossa a essa gente! Eles trabalharam muito e escolheram Canela para fazer história. Creio que é nossa obrigação preservar e lutar por estas mesmas memórias.

Acredito veemente nisso! Escrevo aqui, no meu blog, porque é onde me expresso com liberdade e respeito, mesmo sendo meu. Já fiz muito pela cultura local, talvez ainda faça mais, mas só luto e me expresso pelo que acredito. Não compro brigas que não são minhas. A maturidade vai nos ensinando a não ser tão trouxas. Nunca me filiei a partido político nenhum, realmente não encontrei uma sigla que me represente ou represente meus ideais. Mas foi no teatro, desde a adolescência e em Canela, que encontrei aquela chama, aquele pertencimento, aquele orgulho de bater no peito e dizer "sou canelense e participei dos anos áureos do Festival de Teatro de Canela".  Quem sabe precisamos (assim como sugere Dona Glenda ao conversar comigo) criar um núcleo de cultura teatral local, não uma Fundação, mas um núcleo ativo, sem levar em conta títulos ou partidos, mas a história e memória da cidade. Artistas comprometidos com seu tempo e sua Arte, uma renovação da cena cultural muito mais ousada, mais radical e eficaz. Falo de renovação e não de renascimento, pois o que já foi (falam sempre em voltar com o Festival de Teatro de Canela) não voltará mais, não nos moldes que foram extintos. Deixem os mortos descansarem e prestem atenção aos vivos (diz sempre minha vó).

O que temos de cultura viva e atuante em Canela em pleno 2021? Me ajudem , porque já não sei muito. Ausentes nunca tem razão! 

Lisiane Berti


domingo, 18 de abril de 2021

Do se permitir ser cuidada e amada



Li essa semana uma frase no instagram que achei muito pertinente ao meu momento: "O amor não tem culpa do que fizeram com você." Eu, assim como muitos, já tive histórias incríveis de amor, mas também já tive grandes decepções que quase acabaram comigo. Da minha última história eu saí literalmente como um Frankenstein, todo cheio de retalhos, andando roboticamente (me joguei de cabeça no trabalho) e prometido veementemente que nunca mais ia me envolver profundamente com alguém daquele jeito.

Mas a vida nos coloca sempre onde devemos estar, mesmo que sejamos responsáveis por nossas escolhas e todo aquele papo, a gente vira e mexe passa por um desafio para ver se realmente aprendeu a lição. Eu achava que estava "passadinha" com menção honrosa no quesito relação amorosa. O meu último tombo havia me ensinado tantas e preciosas lições que eu já sorria pela vida. Vejam bem, eu nunca falei que não acreditava no amor, tampouco vociferava "os homens não prestam, são todos iguais...", eu realmente não concordo com essas frases, mas óbvio que a gente deixa radar ligado e fica mais pé no chão. Romantiza menos e cuida mais de si.

Passado uns bons anos, eis que recebo um novo "desafio" (não vou chamar de presente porque isso a gente mesmo que não goste agradece e guarda nem sempre usando), uma pessoa que vem agregar e me auxiliar a mexer em todas as minhas cicatrizes sem fazê-las sangrar e o mais interessante sem fazer ideia de alguns pontos profundos que tem ocasionado algumas mudanças incríveis. Essa pessoa, já conhecida de outras estações, épocas, mas jamais imaginada como namorado (parceiro, companheiro, xuxu, queridinho, sei lá como chamam os parceiros de vocês...) começa a grande revolução de dentro para fora em mim.

Aos poucos me vejo falando com tamanha liberdade de qualquer assunto, me vejo organizando ideias e impulsos para não magoar, me vejo refletindo, ponderando, me vejo sem vergonha de mostrar meu corpo (mesmo depois dos 44, duas gravidez, efeito sanfona e erosão...kkkk), me vejo falando abertamente sobre meus desejos mais doidos e profundos, mostrando toda minha vulnerabilidade e fraqueza. Me vejo pedindo desculpas quando erro, me vejo não idealizando a relação e colocando a pessoa num pedestal pintando de dourado. Ela é uma pessoa, eu sou outra. Duas pessoas distintas, de áreas distintas, de idades distintas, de realidades distintas que escolheram caminhar juntas mas sem abrir mão da individualidade. Duas pessoas que passaram por muitas coisas péssimas nos relacionamentos, mas que também já foram péssimos com outros, magoaram, traíram, fizeram sofrer...(sim, não somos santos!).

Ainda assim luto contra minhas neuras, meus pensamentos tóxicos, minhas inseguranças que tenho certeza são sequelas de tudo que passei. E o amor, essa pessoa, a sua pessoa (você que me lê) não tem culpa e nada com isso. Nos enfiaram romance guela abaixo e durante muito tempo fomos compelidos a acreditar no "para sempre", "até que a morte nos separe" e vimos duramente o quanto essa crendice não é real. Pessoas vem e vão, no tempo certo. Se a gente aprende, novas pessoas com novas energias aparecem e lá pelo meio do caminho os gatilhos e testes vem para ver se você é mesmo merecedor e entendedor do que tem. De que a pessoa que está na sua vida é agora, para o que você precisa evoluir. Inclusive os relacionamentos tóxicos. Aqueles que o universo te emite sinais e você finge que não vê e se ilude, porque quer testar o conto de fadas, quer brincar de casinha e viver no "comercial de margarina".

Gostar das pessoas quando elas estão bem, felizes, realizadas, com grana é super fácil. Não dá trabalho, dá prazer, mas aí quando você começa a entrar no "bastidor" da vida da pessoa e ela no seu, quando não tem glamour, filtro, dinheiro , sorriso todo momento, ali, bem ali, você é testado. Ali começa o desafio! Não tem fórmula mágica, não tem coaching de relacionamento: é você querendo acertar, o outro querendo acertar no meio de um monte de incertezas, medos, inseguranças. Quase um tiroteio de emoções. E é preciso lidar com tudo isso com honestidade (sobretudo a si mesmo), lealdade e verdade. Básico. Para quem já foi no fundo do poço por amor, sabe que não se pode mais dar ao luxo de brincar, de não ser quem é para agradar. Já estamos calejados e isso nos coloca com diversas armaduras. A gente fica tentando se proteger todo o tempo, mentindo para nós mesmos que "não, não gosto tanto assim...". 

Provavelmente vocês dizem de si para si que não vão se envolver de novo, que não entregarão o coração a mais ninguém, que não vão nunca mais casar, que não vão abrir mão disso ou daquilo... aí entra o medo falando mais forte. Eu falei ali em cima sobre individualidade, sim, temos que manter a nossa, nossos amigos, as coisas que nos fazem bem, nosso trabalho e a gama de relações que agregam à nossa vida. Mas é inevitável que quando você encontra alguém que te vira do avesso de forma positiva e não te promete nada, não te julga e te faz evoluir, não dá para não se desnudar (no bom e mal sentido), não tem como fingir que nada acontece (e olha que sou atriz), não tem como não agradecer ao Universo ou seja lá no que você acredite. 

Ah Lisi, pára, tá apaixonadinha agora? Carente amiga? Quem te viu e quem te vê eim... Definitivamente faz uns bons anos que não me preocupo com esse tipo de comentário. Mas paro e escuto quando vem opinião de gente que agrega e se preocupa comigo de verdade. Os ventos sopram novas direções. Muitas avaliações aqui dentro de mim, muitas decisões para o entendimento do que tenho feito. E do que não quero mais fazer. Sobretudo nas relações, sejam elas amorosas, profissionais ou familiares. Escrevo aqui porque quero reler daqui há alguns anos para saber que tive uma relação saudável, e que não posso me contentar com menos do que isso, sou merecedora. Você que me lê também é, acredite! Mesmo que agora essa ideia lhe pareça impossível e seu coração esteja destroçado. Escrevo também porque me auxilia a organizar minha mente criativa (e diabólica às vezes), e que não é uma declaração a ninguém é só uma auto gentileza comigo, escrever sobre como tenho avançado nesse quesito, como tenho tentado ser melhor, autêntica. Tenho tido progressos em detalhes. Me orgulho muito de quem tenho me tornado, mas é uma vigília constante. Todo o tempo um "gatilho" ou um testezinho para ver se você aguenta mesmo e sabe valorizar e apreciar o que tem.

Talvez todas as respostas não venham como a gente quer, aí ainda tem a infantilidade ou a frustração, mas vai ser como tiver de ser. Os dias não serão só de rosas, haverão dias que a pessoa não vai estar disponível, dias que ela não vai querer o que você quer, dias que ela nem vai querer te ver, inclusive. Dias e dias! Se você conseguir entender isso sem achar que ela está te deixando de lado, ou não gosta de você, já é bem importante. Eu não gosto dessas pessoas que dizem que quando você está num relacionamento você deve ser a prioridade do outro. Errado! EU DEVO SER MINHA PRIORIDADE! Vou ser melhor, ajustar arestas não para agradar o outro, mas para ser quem sou e como sou. O outro vai me aceitar como sou e me auxiliar a ser ainda melhor ou vai cair fora logo, porque gente de verdade assusta. Muitos correm, não aguentam pessoas que pensam e falam o que sentem de forma educada. 

Eu estou bem. Evoluindo dia a dia. Choro, rio, falo o que sinto, brinco, peço desculpas, elogio, tomo iniciativa, digo que gosto, como gosto, e tantas outras coisas que nunca me permiti ser. PERMITIR... como é difícil se permitir ser cuidada e amada. Como é difícil entender que você tem o que merece, que sim, existem pessoas incríveis que te admiram e te aceitam exatamente como você é, não querendo te moldar ou esconder essência. O mais legal de tudo, que é de verdade. Não é conto de fada, não tem cavalo branco, não tem princesa esperando ser salva. Tem um "toma-lá-da-cá" de afeto, de conversas maduras, de lealdade, de educação, de carinho, de cuidado, de entendimento, de franqueza e também fraquezas. Sim, porque mostramos nossas fraquezas. Nossos medos. A gente fala desses sentimentos difíceis, das dores do passado, dos erros, das derrotas, dos fracassos... a gente fala de tudo. Se eu pudesse dar um conselho a essas pessoas que hoje sofrem por amor e acham que nunca mais vão amar de novo, eu diria que quando tiverem a oportunidade de vivenciar uma história com alguém que vale a pena (vocês saberão na hora):

1) Não postem em redes sociais (não nos primeiros meses pelo menos);
2) Falem das coisas que gostam e não gostam (sobretudo na cama);
3) Quando as inseguranças e medos de traição vierem, respirem e lembrem que o passado já foi. Não compare. Não atraia para si o que já te fez sofrer de novo;
4) Tem dúvida? Pergunte!
5) Abrace e beije sempre que estiver perto, pode ser mesmo a última vez.

Não é a primeira vez que me proponho por aqui a escrever coisas muito profundas minhas, que possam auxiliar outras pessoas. Não é exposição não, é "compartilhamento de coisas boas que já foram ruins". Leia se quiser, compartilhe se achar que deva, mas não me julgue, você não é melhor do que eu. Não somos melhores que ninguém. Aprendemos dia a dia e muitas vezes mais com a dor do que com amor. Permita-se!

Tenho me permitido. Talvez releia daqui um tempo e esteja sozinha de novo, ou com outra pessoa, ou ainda com esta pessoa, não sei. Mas quero guardar esse momento precioso da minha vida em meio a pandemia que muito me tem feito aprender e evoluir.

Não tenho medo de dizer "te amo", mas aprendi que preciso dizer isso a mim todo dia, e se disser isso ao outro, que seja com verdade sem esperar nada em troca. Eis o desafio!

Bom domingo com café!


 

domingo, 7 de março de 2021

Mulher, mãe, brasileira e pandêmica...

 



Mulher. Fêmea. Útero. 44 anos. Branca (queria ter cor).  Mãe, por opção duas vezes e não por acaso. Agora mais mãe solo. Solo arenoso.  Atriz, (sem trabalho no Brasilis pandêmico), professora (taxados de vagabundos por muitos por não quererem voltar as aulas presenciais em meio ao caos na Terra Tupinikim), diretora de teatro (sem teatro para dirigir ou sequer ensaiar pois estão fechados), locutora comercial (fazendo poucos comerciais ultimamente), preparadora de elenco (de qual elenco mesmo?), brasileira (que vergonha e que tristeza ver esse país sangrando em céu aberto). Pandêmica. Dia 18 completo um ano de "paralização obrigatória" em função do vírus. Um ano que a minha vida, assim como de muitos outros, não andou, parou, estagnou, estagnamos!
Ah sim, o Dia Internacional da Mulher. Ano passado gravei um vídeo. Estava bem, lúcida, já ouvia rumores do vírus mais jamais imaginei que chegássemos a esse ponto, se é que podemos dizer que chegamos, pois como disse não saímos do lugar. Brasil, meu Brasil brasileiro... (Helena dançou essa música recentemente e repete às vezes). 

Me sinto entubada, sufocada com a minha própria voz feminina. Ainda me sinto privilegiada de ter saúde, de estar em uma casa, de estar bem e podendo (ainda) trabalhar de alguma forma. Não tive COVID (que eu saiba não), mantive um ritmo de trabalho interessante em meio pandemia de certa forma. Me virei, sobrevivi segui. Entre tropeços, trancos e barrancos, como tantas outras mulheres.
Comemorar o que mesmo nesse dia? Sim, a luta, o ser mulher. Dar voz a quem não tem, muito foi conquistado, já foi pior é verdade, mas ainda está longe do que queremos de verdade: RESPEITO! Mas não vim aqui falar das lutas sindicais, de feminicídio, de valorização e tantos outros assuntos que envolvem o nosso SER. Muitos já o fazem com excelência, e eu quero ser um pouquinho diferente. Meu recado é para a mulher que está em casa, descabelada. Que engordou na pandemia, que tem filhos, que deu aulas, que cozinhou, que arrumou o jardim para depois pisoteá-lo, da mulher que teve que assumir as compras dos pais, cuidar dos avós, que perdeu o emprego, que tentou receitas que deram erradas, que nem pode chorar porque não teve tempo. Da mulher que mofou vendo novelas repetidas, que cansou de rede social, que perdeu contatos, que migrou pro online, que nem lembra o que é tesão, que se embebedou várias vezes e riu sozinha, que surtou sozinha, que morreu aos poucos sozinha. Das mulheres negras, brancas, roxas ( que apanharam ainda mais de seus companheiros estressados), das mulheres que sustentaram a casa com bravura, das mulheres que se divorciaram porque RE/conheceram os seus e se decepcionaram, das mulheres que tiveram COVID e voltaram, das mulheres que ainda se cuidam, das mulheres que se foram para todo o sempre.

Mulheres. São  muitas, tantas, mas quero falar das malfaladas, malfadadas, ditas brasileiras. As bundas mais lindas do mundo, com melhor gingado, as fáceis, as gostosas, as "sei lá o quê"... as pornográficas que Nelson Rodrigues tão bem descrevia. Ah, costas largas temos não? Muito rótulo carregado, muito peso jogado a céu aberto, muito comercial de cerveja midiático, muitas imbecilizadas, outras merecidamente imbecilizadas. Agora todas sob a obscuridade da pandemia que aterroriza o mundo e está acabando com o pouco que restava do nosso país. Nos sentimos numa guerra, uma guerra que sabemos que já perdemos. Todas, eu disse TODAS, ricas, pobres, negras, trans, lésbicas, "burras", inteligentes, domesticadas, selvagens, religiosas, pagãs, casadas, solteiras, viúvas, divorciadas, odiadas, amadas... TODAS à espreita do vírus x economia x educação x política x vida própria.

Então minhas amigas, que cenário eim? E que dia para comemorar! (rio para não chorar). Não estou sendo sarcástica, nem debochada, mas hoje não consegui escrever de outra forma. Sem essa hostilidade. Eu realmente amo ser mulher. Ainda sangro todo mês! Amo meu cérebro, minha sensibilidade, minha forma de ver e perceber o mundo, minha intuição. Amo a força que tiramos das vísceras quando somos testadas, quando nos tiram para "sexo frágil". Todos esses dons e tantos outros que só nós mulheres recebemos ao nascer, simplesmente por ser mulher. Os homens receberam outros dons, comuns e naturais a eles, não vamos aqui negar o poder e força masculina. Essa dualidade necessária ao contexto do mundo. Do SER humano.

Talvez algumas mulheres ao lerem isso sintam-se ofendidas, detestem minha escrita. Tudo bem, é um direito, mas não estou aqui para agradar, estou no meu blog, escrevendo minhas coisas, sob minha ótica (talvez seja a errada, mas ainda assim é a minha). 
Quero registrar o que se passa no mundo, no meu país nesse momento de luto absurdo e surreal, na minha cidade (bandeira preta até dia 21/3) e dentro de mim, o MEU mundo particular. Tenho escrito pequenos textos nas redes sociais que me "vem", quero rever tudo isso daqui há alguns anos e se me for permitido estar viva, rir e dizer "Uau, sobrevivi!". Por hora, não sei o dia de amanhã, então é urgente escrever e escrever e escrever...
Estou com várias pessoas amigas em depressão, tantas outras perderam seus empregos, na família nenhuma perda pelo Covid (ainda) mas muitos já "positivaram"e sofreram. Muitos artistas partiram, meus colegas de Arte numa penúria, num sufoco absurdo, muitas mulheres conhecidas, queridas que estão perdendo a luta. Respiro. Meus olhos se enchem de lágrima. Me sinto engessada, atolada, cimentada. Com se não conseguisse mais sair do lugar. Ah mulheres, e somos nós que temos acalmar tudo, acalentar, soar palavras de conforto nesse mundo enlutado. Nosso dia, tanto para comemorar e tanto a chorar. Um duelo se passa dentro de nós. Em mim pelo menos, todo dia. E nem sempre ganho! 

Calma garotas, estamos aqui para nos darmos as mãos (mesmo que virtualmente), respirar um pouco, nos olharmos, nos encontrarmos nas dores alheias, nos suportarmos (de suporte, de sustentáculo). Nos vejo como polvos do mundo. Imagem que me veio agora, unidas em uma única oração, entoando cânticos para salvar nosso planeta. Somos uno, uma espécie rara, mesmo que ainda cansada das batalhas da vida.

Como mulher, mãe, brasileira e pandêmica me encontro em ti. Me vejo em ti. Choro e rio contigo. Embalo nossos mortos, rezo em voz baixa porque às vezes não tenho forças para gritar. Te admiro. Te honro. Te compreendo. Venero teus valores, teus esforços, eles não serão em vão. Eles não ficarão ao acaso. Voaremos juntas como o vento, em outros tempos. Jogaremos nossas cinzas ao mar, libertando nossos ancestrais. Feliz nosso dia, mulheres! Ainda temos nossa melhor roupagem (nosso sorriso), ainda temos nossa melhor estética (nosso coração) e ainda temos nossa maior beleza (nossas mãos que tudo tocam, afagam, acarinham e lutam).
Te amo mulher! Se não ouves de quem gostaria, escutes de quem te entende de verdade, que conhece como ninguém tuas lutas e fracassos. Não tenha vergonha de chorar, não tenha vergonha de sorrir, não tenha medo de ter medo. Eu te amo por tudo que estás passando. Te amo por estar ainda tentando, te amo por fazer aquilo que consegues nesse momento. Ser a mulher que és.
Nosso destino está mesmo em nossas mãos? Não sei. Não ouso sequer perguntar.
Mas continua mulher, continua fazendo aquilo que sabes que só tu consegues fazer. 
Continua a te movimentar mesmo que tudo agora, nesse momento pareça difícil. Quase impossível. Siga teu coração, ele talvez não pague teus boletos mas te deixará mais leve nessa passagem.
Quando te sentir triste e infeliz, lembra de colocar uma música e dançar em prece contigo, olha para dentro de ti e todas as respostas estarão lá. Tu sabes, tu sempre soube.
Que minha escrita (minha forma de oração) toque tua historia, teu momento, tua luta, tua dor, tua alegria.
Não sairemos ilesas disso tudo, mas podemos sair melhores não acha? Podemos tentar juntas.
Estou aqui. Escreve para mim. Fala comigo. 

Me sinto melhor depois desse desabafo, é como se alguém me sussurrasse no ouvido e me dissesse, vai lá, escreve um pouco. Não te perde do teu propósito.
Que assim seja e que dias melhores cheguem logo...
Amém!

(Pelo dia Internacional da Mulher de 2021)

Bebe um café, comigo sempre ajuda!






terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O desequilíbrio das trocas...


Três vezes sentei na frente do computador para começar a escrever. Olhei a tela em branco, não veio nada, não forcei. Sou fiel a minha escrita. Ela me comanda, não eu a ela. Sou apenas um instrumento. Hoje consegui, parece que vai fluir algo. Enfim, o primeiro texto de 2021.

Trocou o ano. Só trocou o número. Nada mudou. A verdade que fazemos o ano a cada dia, depende da gente. De como lidamos com tudo que se mostra a nossa frente. Li muitas postagens falando sobre gratidão. É tão fácil ser grato quando tudo dá certo né? Tão bonito, sobretudo nas redes sociais. Mas queria ver ser grato quando tudo dá errado, quando nada é como a gente queria ou idealizou. É como amar ao próximo quando ele também te ama... muito fácil. Mas não quero soltar meu veneno escorpiano já de cara e azedar os primeiros parágrafos. Vamos com calma! Espero que para você que me lê tenha sido na medida do possível, bom e reflexivo a sua virada de ano. Para os mais sensíveis e fieis a si mesmo, tudo foi mais cauteloso, sem muito rojão, bebedeira, postagens e roupa branca. Há os que nem saíram de casa e foram dormir cedo. Este ano ter conseguido chegar a "virada" respirando já foi por si só uma grande vitória. Afinal, 2020 não foi para os fracos, nem para os pobres, nem para os artistas, nem para os profissionais de saúde, nem para os professores, nem para tantos... há os que continuaram na sua bolha dourada, aquele povo que se acha "alecrim dourado que nasceu no campo ser ser semeado". Há sempre os que se acham, desde que o mundo é mundo. Há os que acham que sabem da tua vida, os que acham que entendem do vírus, os que entendem da vacina, os que sabem o que você sente, os que acham que te conhecem e tem liberdade de fazer piada... há na verdade muito "achismo"no mundo e pouca gente capaz de arregaçar as mangas e fazer algo prático, válido e sólido. 

Opa! Fecha a boca Lisiane Berti! Deixa o ferrão escorpiano de lado. Mas não vou perder meus caracteres de escrita com isso. Comecei bem anestesiada 2021. E nem acho que tenha bebido horrores. Anestesiada no sentido de não sentir mas saber que estava sendo "mexida". Anestesiada de impassibilidade, apatia, desinteresse. Sem expectativas para nada. Apenas reagindo. Reagindo. Às vezes bem, às vezes mal. Tentando não ter sequelas...  Fiz algo que para mim soa quase extraordinário: sentei na frente da minha mãe e pedi um conselho, acho que desde minha adolescência não fazia isso. Sempre tive liberdade de tomar rumos da minha vida, por vezes quebrei a cara por achar que era capaz de lidar com tudo, outras vezes fui obrigada a lidar com tudo para poder superar. Minha mãe parou tudo (ela nunca pára, sempre inventa algo para fazer ou limpar) sentou e conversamos. Pelo menos uma hora. Contei a ela o que me incomodava, como estava chateada e que não sabia muito bem o que pensar, ela me ouviu, não me aconselhou, apenas falou o que achava sem me julgar. Me senti bem. De verdade! Tão bom ser ouvida sem julgamentos. Sem lições de moral. Apenas ser ouvida. Talvez um resgate mãe e filha. Andei muito tempo evitando a família, apesar de estar morando sempre próxima a ela. Não me envergonho em dizer isso, por sinal nunca me envergonho de falar e escrever o que sinto, a diferença é que agora escolho para quem devo oferecer isso, porque tem gente que abusa e brinca com as nossas linhas tortas. 

Recebi muitas mensagens, não respondi quase nenhuma. Achei melhor ficar mais off. Quem amo sabe que amo. Nenhuma foto, brindes simples. Dormir. Acordar. Rir. Conversar. Ouvir, observar o entorno. Não tomei nenhum banho de sais, tinha ganho um mas esqueci. Não fiz lista de metas, guardei as de 2020 (das 10 realizei 5). Deixei a geladeira em branco, comecei a colocar os desenhos da Helena. Sem paciência. Negatividade? De forma alguma! Bem pé no chão, colocando ideias em prática. Contatando, me movimentando. Acredito! Faço a minha parte. Já aprendi na minha profissão que o palco é lindo, mas é no bastidor que começa a qualidade do meu trabalho. Sonhei muito, presto atenção sempre ao que sonho, sobretudo onde estou e com quem. Os últimos foram movimentados,  mas nada demais, tampouco eróticos (uma pena!). 

Como as coisas tem sido pesadas, não é? E simples também, não é? Paradoxal! Eu sinto como se tivesse tirado areia dos olhos, tenho enxergado tudo com mais clareza, observado muito mais que antes, cuidado ao usar as palavras. Até a escrita. Muita calma nessa ora! E de repente é como se tudo nublasse de novo. Difícil. Os fantasminhas do passado deram uma trégua, mas sei que logo reaparecem, a diferença é que não tenho mais medo deles. Muito pelo contrário, acho que eles começaram a perceber que não são mais ameaças. A não ser a eles mesmos! Comecei meu ano com qualidade e não quantidade. Ouvi de outros amigos queridos a mesma frase. Tenho sido mais assertiva e direta. Bem clara, porém sempre pensando bem as palavras que usar. Aceito os limites e regras do outro, não insisto. Olhos e ouvidos abertos.

As dores de cabeça voltaram, insônia e decidi fazer meditação guiada antes de dormir. Acho que funcionou porque apaguei. Achei uma foto minha 3x4 de 2002, ruiva. Helena achou. Riu e disse : "mãe você era bem gordinha né? Agora você é gordinha mas é diferente... "(eu ri)  Olhei a foto e lembrei que época era aquela, o que estava acontecendo, como eu estava. Até ruiva estava. Extremamente infeliz. Ainda não tinha encarado o meu ser por completo, ainda não tinha me aceitado. Sofri muito. O se já sofri... por isso pesquiso a dor e uso como aliada, alguns dizem "lá vem ela com a filosofia..." não é filosofia, é serenidade, é falar do que posso falar porque já vivi e senti. O que não sei não me meto. Minhas ideias andam bem embaralhadas, cansadas talvez e senti que preciso de um surto criativo, colocar minha energia em prol de alguma coisa nova. Comecei a me mexer e contatar algumas pessoas para lançar propostas. Não sou do tipo que espera milagres ou que as coisas caiam do céu. Vou atrás! A questão é que fiz isso 2020 inteiro e entro em 2021 meio "esgualepada" como diria meu pai. Não estou infeliz de forma alguma, mas não romantizo mais nada. A vida é dura meus amigos, a gente tem que dançar conforme a música ou escolher ficar no bar enchendo a cara e sair cambaleando sem rumo, o que nunca nos leva a nada.  Quem não sabe o que procura não vê o que encontra.

Segundo Shakespeare, na peça Henrique VI (segunda parte) há uma parte que fala em harmonia:

"O vento ameaça tempestades, lordes como vossa coragem. Essa música me desagrada. Quando desafinam tais cordas, que esperança há de harmonia?"

E você? Está em harmonia com você mesmo, pelo menos? Eu estou tentando, mesmo com as cordas do mundo desafinadas. Mas é meu mundo que preciso centrar, mergulhar e dominar.

Bom dia para mim. Bom dia para você!

Hora do café! bjs meus

Lisi Berti