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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

A pressão emocional do fim do ano




Então mais um ano acabando. Começa aquele alvoroço de o que fazer no natal, para onde ir no ano novo, festa da firma, amigo secreto, família, presente.. uma jornada cansativa, só o pensar cansa! Desfilam nas redes sociais brindes e fotos de gente "super feliz" agradecendo ano. Seu whatts entope de correntes, árvores e desejos de boas festas de pessoas que você nem sabe quem é, o velho "copia e cola", afinal é mais prático, você consegue enviar milhões de mensagens em segundos... super prático. Mas aí começa a pressão emocional, você "tem" que se reunir com a família, você "precisa" fazer ceia, ah mas você não gosta disso... diferentona! Você tem que brindar, pular 7 ondas, usar branco, comer porco, lentinha que traz dinheiro, usar calcinha amarela da sorte, e tantas outras baboseiras e rituais inventados por alguém em algum momento...
O país literalmente pega fogo! O mundo caótico, energia pesada no ar... a retrospectiva inevitável e maldita de 2017 começa, mesmo que você lute contra ela. O que ganhou, o que perdeu em 2017? Realizou sonhos, abandonou sonhos? Quem você foi em 2017? Foi alguém para agradar os outros e deixar de ser você mesmo, ou passou o ano se afastando de tudo que não te faz bem?
Não escrevo para ser pessimista ou amarga, não me entendam mal, por sinal nem espero que leiam ou comentem, escrevo pra mim, como sempre fiz, desde a infância, nos meus diários, agendas que guardo até hoje. Pra mim escrever é uma grande terapia e chove lá fora, a inspiração e vontade vieram. 
Meu ano não foi lá grande coisa não, foi um ano de ajustes, que me propus a trabalhar muito (e trabalhei para caramba) e limpar todas as minhas "nhacas", exercitar o perdão sobretudo comigo, voltar a acreditar nos meus projetos e no que sou, não no que esperam de mim e a resgatar/curar/sanar minhas histórias de família bem complexas. Meu foco: queria ser um ser humano melhor! Acredito que vou repetir de ano, não passei em algumas "provas", mas consegui desembaçar a vista e enxergar coisas que "fingia" não ver... cada ano os amigos de fé tem diminuído consideravelmente, já nem sei se enchem uma mão, já nem sei em quem confio de verdade, os mais próximos acham que me conhecem, nem tanto, quem me conhece de verdade não precisa ficar escrevendo textão para mim na internet ou em datinhas ditas especiais, a gente sabe quem realmente se preocupa com a gente, e não aqueles que aparecem somente para conseguir algum favorzinho de última hora. O discurso é bem previsível...
Este ano fui literalmente um limão, bem azedo. Como me irritei com pessoas, com coisas, com trabalhos... Como me afastei de muitos para não brigar ou bater de frente, na contramão engordei. Meu ódio me engordou, minha raiva me engordou, minha mágoa me engordou, minhas frustrações me engordaram. A relação que tenho com a comida atualmente é péssima e obsessiva/compulsiva, é a fuga. Alguns lerão e dirão "é falta"!Eu preciso rir, porque todo mundo sabe de tudo e tem remédio para tudo, mas na verdade ninguém faz realmente nada. Não me envolvi com ninguém, meu coração estava em recuperação, colando cacos e achei melhor deixá-lo novinho em folha e não me envolver pela metade e fazer o que fizeram a vida toda comigo, me atirar migalhas, e pasmem, durante muitos anos me contentei com as malditas migalhas e fazia festa, achando que arrasava.
Meu exercício em 2017? Foi tentar ser fiel a mim, falar a verdade, não tenho porque esconder, não tenho porque fingir ser quem não sou, para ser a "curtidinha da net", a felizinha do teatro...Por falar no teatro, minha relação com ele vai bem mais a fundo do que a vã filosofia sonha, é muito mais que pisar num palco, que atuar, vai além corpo, além alma, por isso meu respeito por ele profundo. O meu azedume acabou respingando nas minhas filhas, que seguraram crises minhas sem nem fazer ideia. Minha família mal visitei e me envergonho disso, queria ter aproveitado mais cada um, mas meu coração não sentia vontade então me isolei. Parei de falar do pai da Helena e com o pai da Helena, um perdão difícil mas já trabalhado. Muita terapia, floral, regressão, acertos e erros... minha relação péssima com comida recomeçou aí, com a baixa autoestima e uma bomba relógio de problema para resolver todo dia. E ainda tenho que ouvir piadinha escrota e de mal gosto sobre o Peru... ah se vocês soubessem tudo o que passei  desde o dia que soube estar grávida até ontem, pensaria duas vezes antes de vir com piadinhas "escrotinhas"... não falem do que não sabem, não julguem, não levantem hipóteses a meu respeito, venham falar comigo diretamente e me perguntem. Responderei com verdade e café, sou madura e bem resolvida, por isso trabalho minhas merdas, para que virem adubo, e ser for pra rir e fazer piadas, dá licença mas deixa que eu mesma faço, afinal eu sou a única pessoa no mundo que sei exatamente quem sou.
Mais pressão... contagem regressiva... 5...4...3...2...1! FELIZ ANO NOVO! Sério que vocês acreditam que depois do dia 31 tudo vai ser resolvido, tudo vai mudar? Sério que um brinde  e 7 grãos de uva e um prato de lentilha trarão abundância e amor! Bingo! Se fosse fácil, faria contagem regressiva todo dia e me "empanturraria de lentilha". (Nossa que insuportável que ela está, que azedume!) Me bloqueia baby! Para de ler, não mandei vir "futricar" no meu blog, tá aqui porque quis. Tá incomodado? Cai fora! Outra reação minha em 2017. Não agradar, dizer não para trabalhos que até um tempo atrás jamais diria. Tirar férias, ficar mais tempo curtindo minha casa, focar nos meus projetos e aí veio o Estúdio do Pesquisa Teatral , sucesso absoluto para mim, mas nem por isso saiu do alvo de piadinhas escrotas como "como vai teu botequinho", "É isso o estúdio? Que pequeno!", "Tu teve até nota no Zero Hora, tá te achando eim!", entre outras coisas... eu ri! Ri porque aprendi a me posicionar e analisar de fora, e ver que essas pessoas só tem isso, uma pobreza de espírito absoluto, e não serei eu que vou fazê-las mudar de ideia!. Cada um com seu caminho, eu estou seguindo o meu. Reapareceram fantasmas do passado, agindo como se nada tivesse acontecido, pedindo desculpas. Ouvi, desculpei de verdade mas optei por não estar perto. Depois de anos de sofrimento a gente entende quem quer realmente estar com a gente, e quem está pela gente. O que ela fizer eu topo, não me mecho para nada, ela faz tudo, tem ideias, escreve, dirige e eu vou lá atuo e reclamo e ela que se vire. Artista sanguessuga! To fora! Mas tive muitos em minha vida.
Conheci gente massa para caramba, alunos que me deram orgulho de ser professora, dirigi um dos trabalhos mais importantes da minha vida "Cabeças Autônomas", que espero honestamente que voe alto em 2018. Estudei, voltei aos poucos a me exercitar. Produzi muito. Comi muito! Bebi café até pelos poros, chorei bastante afogada na poça do meu travesseiro, respirei fundo umas 500 mil vezes para não esganar muita gente, paguei boletos, trabalhei. Dormi melhor. E faltando duas semanas para o tão 2017 terminar veio a bomba relógio, notícias ruins numa madrugada qualquer ligada a morte na família que me deixou em choque e me fez, nestas duas semanas trabalhar profundamente minha relação com minha família, fisicamente, espiritualmente, astralmente. (contarei sobre voos astrais em outra postagem).
Tudo é lindo, até não ser com a gente. Sempre  se tem palavras certas, até não ser com a gente. Sempre parece fácil resolver, até não ser com a gente ou com alguém que a gente ama. A ideia de morte te faz lembrar da vida e a merda toda que você anda fazendo com ela!
Dois dias para o final do ano. Senti o peso do meu 2017 nestas duas últimas semanas, enquanto colegas desfrutavam de trabalhos natalinos meigos, outros postavam fotos sensuais e super bem sucedidas, eu tentava me olhar no espelho e ver onde é que estava o brilho dos meus olhos. Onde é que eles tinham ficado e porque é, que mais uma vez eu estava no centro do furacão, tendo que resolver tudo (falando da família) que literalmente cruzou os braços e esperou por mim. Cansei! Cansei muito! Quando canso choro e dou risada ou faço xixi na calça. (Só os amigos que não enchem a mão sabem disso). Mas tenho levantado a cabeça todo dia, respirado fundo, mergulhado em mim, nas minhas dores e histórias e procurado me melhorar, mas para isso tive que tocar nas feridas e fazê-las sangrar.
Dois dias...e sabe-se lá o que virá até 2018. Mas não tenho medo. Justiça divina providencial. Tudo tem propósito e eu sei que estou sendo instigada e desafiada a me preparar para um ano espetacular, preciso me curar, para curar pessoas através da minha arte. Preciso estar muito bem em 2018, por mim, para mim e pelos meus!
Os trabalhos continuam, a vida continua e se entregar é uma bobagem. Lutarei até o fim, até os últimos dias da minha vida pela Arte que eu acredito. Pelos meus e pelos que amo! Incansavelmente e sem esperar nada, o que é bem difícil.
Quero abundância, correr menos, mais qualidade de vida, cachês justos, vida mais tranquila, viagens, conhecimento e amor que me faça feliz em todos os sentidos, porque mereço!
Somos artesãos da nossa própria vida, buscamos sempre ir além, temos mãos e pés para nos levarem onde quisermos, mas para irmos precisamos do primeiro impulso do 'querer'. Querer ir! Se você não se ajuda, ninguém vai te ajudar...
Feliz novo ano aos que tiveram a felicidade ou talvez infelicidade de me conhecerem como realmente sou, sem filtro, sem make, sem personagem. Euzinha, nua e crua!
Vou para o meio do mato na virada, sem ninguém por perto, para pensar, respirar e descobrir mais um pouco do que se passa dentro de mim! Autodescoberta!
Não vai ter mesa farta ritualística, não vai ter gente vestida de branco, não vai ter foguete. Vai ter eu e o céu estrelado. Cabeça, pé e coração! O triângulo! Voltarei melhor, serei melhor,me trabalharei melhor. Ainda preciso ME PERDOAR DE TODO MAL QUE ME FIZ nos últimos anos. Chega da migalhas!!! Eu mereço muito mais em todos os sentidos! 
Seguimos amigos! Seguimos e desculpe se da minha boca saíram palavras ásperas que possam ter te magoado, não era a intenção... ou era! Ah não sei, mas agora foi! (kkkk)
Ah não uso preto por ser gorda, uso desde que me entendo por gente, inclusive minhas festa de 15 anos estava de preto. Eu me sinto apoderada com ele. Tenho roupas de outra cor sim, (UAU), mas uso quando sinto a energia... já tentei roupas mais coloridas, mas elas não combinam comigo, acabo sempre dando de presente.
Limpei meu guarda roupa. Juntei três sacos (de roupas boas e usáveis) e dei para minha vizinha. Dar roupa velha, que não serve é fácil, decidi dar as que eu usava mesmo. Despreendimento!

Quanto aos rituais de final de ano, faça aquilo que te faz bem! Isso é o que vale! Esteja com quem quer estar contigo! Diga a quem ama que ama, e a quem odeia que odeia e porque odeia. 

FELIZ 2018!







sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A maturidade de cada aniversário



Ontem completei 41 anos e incrivelmente me sinto com a energia dos 16 porém muito mais centrada. Diferente do ano passado, este ano fiquei quieta no meu canto, só com minhas filhas, meio que "escondida", curtindo minha casa e repensando a vida com café. É meio clichê repensar a vida, mas é quase impossível não fazer uma análise de como foram os 40 e do novo ciclo que se inicia.
Uma das coisas mais legais que aconteceram foram as inúmeras mensagens de carinho recebidas ontem de pessoas conhecidas, amigos, ex alunos, novos alunos e até ex amores, sobre o quanto eu "transformo" vidas com minha Arte, minha luz... 
Há um tempo ficaria sem jeito mas hoje, depois de muita estrada e trabalho, pensando em quantos alunos de teatro já tive, realmente eu transformo. Isso porque amo de todo coração o que faço, aprendi a usar minha intuição, a sentir mais e reclamar menos, estudando muito. Sou sim, uma grande batalhadora da minha Arte!
A vida é espetacular, e me dei conta do quanto sou feliz com o que tenho, com a vida que escolhi, com os amigos próximos, com minha casa, minhas filhas lindas e meus livros. Sou pessoa simples de gosto simples. 
Meu coração anda calmo, saiu de um coma profundo de dor e tristeza, está mais leve e quase pronto para novas emoções. Não tenho saído muito, não tenho mais paciência para algumas coisas e prefiro estar mais na minha, produzindo, escrevendo, e isso me faz muito bem. Meus sonhos triplicaram... realizei muitos e há vários outros em andamento. Jamais me tirarão a capacidade de sonhar e realizar, porque acredito muito no que faço e na qualidade da minha Arte que não me foi dada da noite para o dia.
Tenho aprendido a valorizar mais os que amo e isso me faz entender que posso perdê-los a qualquer hora, como tantos outros que já se foram, e o quanto é importante deixá-los melhor quando os encontro. Me revisitei e estou tentando me reinventar mais uma vez.. olhei fotos e me achei bem melhor agora... mais senhora de mim, independente de cabelos lisos ou não, gorda ou magra, de tênis ou salto, com maquiagem ou descabelada. Sou mais eu! A opinião dos outros de repente passou a não ser relevante, a opinião dos amigos de verdade sim, essas importam.
Minha filha me chamou atenção esses dias, dizendo que eu andava muito "dura" com as pessoas, ela como boa libriana é meiga e quer salvar o mundo, eu como boa escorpiana, sou sincera e ultimamente só quero me salvar desse mundo doido e contaminado de gente chata e sem conteúdo! Desculpe, mas tá foda ser legal e só recebe crítica de gente sem argumento!
Meus ex amores, hoje são grandes amigos e isso me conforta, saber que consegui separar as coisas e evoluir em relacionamentos. Ando sozinha e curtindo pra caramba minha vida, meu tempo, minha casa, meus cafés comigo mesma. A qualidade do meu tempo não tem preço. troco tudo pelo prazer de ficar na minha casa, que quase nunca fico, por isso valorizo tanto!
Ah, aprendi a dizer não! Não faço mais nada que me deixe infeliz para agradar ninguém! Me demiti de três lugares esse ano, mudei, de cabelo, de ideia,de atitude... eu sempre mudo. Sou perita em regeneração. Quando não gosto falo. Quando gosto, falo!  Eu sempre falo! O que minha filha chama de "dureza" eu chamo de "maturidade"! A maturidade também dói, também é sofrida, porque na hora da dor, é sempre você com você mesmo, no fim das contas. Ninguém vai te ajudar, é você que tem esse poder! Só você!
Tiveram algumas mensagens que realmente me fizeram pensar muito na qualidade da pessoa que sou e que ainda posso melhorar e vir a ser, e isso realmente foi fantástico! Tenho trabalhado com muita gente especial, gente talentosa, gente honesta e comprometida mas também com gente que devia para de usar teatro como espelho do seu ego doentio. Me afasto! Estratégia! Tem funcionado. Não brigo mais, mas não preciso conviver com gente aproveitadora que se aproxima quando precisa de "trabalho" ou curso de graça... como seu eu não soubesse ler nas entrelinhas...
Vivo bem! Não acredito mais nos contos de fadas nem no príncipe encantando, a vida me ensinou que sou a Rainha de Copas da minha própria vida, e que se quiser algo , tenho que fazer acontecer...
Recebo meu novo ciclo de 4.1. feliz, turbinada (cheinha de curvas deliciosas), segura de quem sou e do que quero para mim. Ou está comigo ou não me atrapalha... Me achou egoísta? Não me julgue, você não conhece minha história, mas te convido a tomar um café e bater um papo. Depois de conviver cinco minutos comigo, vai me odiar ou me achar extremamente interessante. Não sou meio termo!
Seguimos sempre!!
Feliz aniversário de serenidade para mim!!!



domingo, 15 de outubro de 2017

Automákina encerra com chave de ouro o Bonecos Canela 2017

Automákina - Sergio Azevedo


Depois de nove dias de uma programação que se propôs a discutir Diálogos entre Bonecos e Tecnologia seja no recurso ou na temática, a 29º edição do Bonecos Canela encerrou com um lindo dia de sol (depois de vários dias chuvosos e frio), comemorando os 29 anos da Cia de Pernas pro Ar de Canoas e nos fazendo refletir profundamente sobre nós mesmos. 
"Automákina Universo Deslizante", espetáculo instalação, nos fez pensar sobre o mundo que construímos, quem somos, a solidão que nos aprisiona e nos liberta, e a verdadeira máquina que faz tudo funcionar: o coração! O mundo pessoal e impenetrável do Duque Hosain´g, nos faz pensar sobre o tempo que está a nossa disposição, e o quanto na verdade, ele dispões de nós. Tudo a nossa volta é o reflexo da energia de como fazemos e de quem somos, afinal não há como fugir de nós mesmos. Que Universo temos criado para nós, afinal? Presos nos tornamos livres... livres ficamos presos a qualidade do nosso tempo. E quando nos damos conta, um alarme soa ensurdecedor dentro de nós mesmos, alertando que já não há muito tempo, e que não temos controle de absolutamente nada, mesmo que tenhamos passado a nossa vida inteira tentando controlar tudo. Nos isolamos, criamos realidades paralelas, numa ânsia torturante era nosso coração já não dá conta de bombear os restos que sobraram de nós, dos nossos sonhos... e esse ritmo compassado soa como uma prece, um grito que tantas vezes sai sem som da boca do personagem...
Da tecnologia e engenhocas da Automákina, do clássico primoroso da Cia Artesanal "O Gigante Egoísta" com seus atores orgânicos e do "Viva Gustavo" que gritamos mais de uma vez (na ânsia de recuperação do componente da cia com problema de saúde), da simplicidade do "Entre Janelas" e da amizade de Pitu e o menino que nos comoveu amavelmente, do espantalho da Merlim Puppet Theatre da Grécia que nos arrancou lágrimas falando da solidão de um espantalho numa Terra de Ninguém, do divertido e carismático alemão Thomas Herfort e suas marionetes divertidas e tão carismáticas, sobretudo com as crianças que animou a todos, dos romenos divertidos (e cachaceiros no bom sentido) de Gulliver e sua projeção em 3d que nos deixou interagindo entre bonecos e animação, do Bóris, o leão robô da Circatronic, que infelizmente não conhecemos e o drama do espanhol Oriol que perdeu suas bagagens (perderam na verdade) e ele não pode apresentar, dos divertidos manipuladores da Marionetes Guarujá de SP e sua irreverência, do retorno do Quiquiprocó e do seu simpático boneco Rodrigo, ouvir o cachorro mais charmoso de todos os tempos, Abelardo, que já foi mestre de cerimônias desse festival com seu humor canino,  das cias de Canela e Gramado que se uniram lindamente, mais de uma vez para desfiles, gravações e entradas ao vivo, oficinas e como público. A qualidade dos dois bate-papos, o retorno de mídia, a apropriação da plateia do festival, a homenagem irreverente na abertura a presidente da Fundação Ana Glenda Viezzer... foram tantos motivos para comemorar, que a gente até esquece das dificuldades, das picuinhas de bastidores, dos "pavões" que aparecem querendo colher louros, da chuva que atrapalhou sim a programação de rua mas nem por isso deixou de acontecer...
Canela, cidade pequena, mas de coragem gigante, de povo simples mas de alma nobre...
Assim somos nós... daqui muitos saíram para ganhar o mundo nos caminhos da Arte , e outros tantos ainda sairão...
Esse festival é de todos nós, das pessoas que o iniciaram, das pessoas que o levaram adiante, das pessoas que se projetaram com ele, das pessoas que ainda virão a apresentar/trabalhar/coordenar/produzir nele. Todos ganham com este festival... artistas, comunidade, turistas, Canela ganha! E pode ganhar muito mais, se passar a trabalhar ainda mais em conjunto, potencializando a arte bonequeira e lembrando que quem brilha são eles: os bonecos!
Que venha os 30 anos!!!


Desfiles


Sol




quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Qualidade de Afeto

Foto Marcelo Alves

A gente passa um tempão da vida da gente, tentando ser o que não somos, fazendo o que não queremos e nos contentando com relacionamentos medíocres para encher as redes sociais de fotinhos "somos felizes, morram de inveja", fingimos orgasmos, dizemos "sim" quando na verdade o "não" quase explode na nossa garganta, comemoramos Natal e Ano Novo porque todos comemoram, o ciclo de vida mais hipócrita da face da Terra. Ah quem goste, eu não julgo ninguém se realmente, eu disse realmente, são felizes assim...
Eu sempre fui mais ousada, desde a infância! Eu era a menina que brincava e queria ser feiticeira, escrevia textos na escola e passava para os colegas analisarem (não professores) pois me importava com a plateia de verdade. Comecei cedo a fazer teatro (não para pintar o cabelo de rosa ou para extravasar minha opção sexual), porque amava a Arte mesmo! Quebrei muitos padrões, não casei na Igreja como meu pai queria e sempre escutei dele ("tu nunca vai realizar meu sonho de entrar na Igreja de braço dado contigo") casar assim, só no teatro! Não cursei administração, me separei três vezes quando o amor chegou ao fim, mesmo com filhas pequenas que estão super bem criadas e felizes, porque a mãe sempre foi verdadeira, faz o que fala, não finge... aí entra a qualidade do afeto.
O melhor de mim, guardo pra mim hoje! Meu melhor, minhas loucuras, minhas melhores ideias, minhas músicas repetidas que adoro dançar, estão todas na minha cabeça, cheia de grandes ideias...
Lembro cada um dos meus fracassos, talvez o melhor deles, uma crítica teatral escrita para um espetáculo meu em 2010 falando muito mal de mim e do meu trabalho. Na época chorei, mas lembro de ter sido elegante e escrito ao crítico agradecendo. Sempre fui humilde, nesse sentido. Continuo com o trabalho até hoje, mudei, testei, modifiquei e sempre que releio o que ele escreveu, dou risada e digo "putz, ele tinha razão em um monte de coisas".  Nós escolhemos quem nos destroe, nós escolhemos o que fazer com tudo de ruim que nos acontece. É aí que entra a qualidade do nosso afeto, que deve ser puro e transcendente com nós mesmos.
A condição humana, tão discutida por grandes autores teatrais, só aflorou mais e piorou. Se Beckett estivesse vivo hoje, morreria mesmo esperando "Godot", Shakespeare estaria em depressão, Tenessee estaria internado há tempos e por aí vai...nossa condição só piora porque a cada dia estamos preocupados em provar tanta coisa idiota aos outros e nos distanciamos de nós mesmos...
Até quando conseguimos mentir para nós mesmos? Até vir o infarto, a depressão, o suicídio? A tarja preta, o isolamento? Pecamos por arrogância, por um amontoado de medos idiotas, por desacatarnos a nossa integridade e nossa autoestima! Que vergonha de nós mesmos, eim?! Onde foi que nos perdemos? Onde foi que deixamos a rede social pontuar nossas vidas e esquecemos de simplesmente viver a vida (sou usuária das redes, estou aprendendo a usá-las somente para trabalho)...
Eu comecei há muito tempo a me despir das minhas angústias, dos meus medos, tenho coragem de dizer que amo, que quero beijar, que não gosto, que não senti nada, e não tem problema em falar a verdade quando usamos o "tom certo" sem querer agredir ninguém...
Sou mais eu, sou minha totalidade, aprendi a me tratar melhor, a ser mais querida primeiro comigo... Sou como sou, convivo comigo, me conheço melhor do que ninguém, então ninguém além de mim, sabe da minha história, dos meus tropeços, dos meus recomeços, das minhas vitórias... E todo amor que houver nessa vida, será pra mim com muita qualidade de afeto porque eu mereço, você merece, nós merecemos ser felizes, mas temos que ousar a fazer isso primeiro sozinhos!
Não tenha medo de ser quem é! Você não tem que agradar ninguém baby, não seja escravo da opinião alheia...
Eu parei com a mania de me apaixonar por quem não gosta de mim, decidi me apaixonar pela vida, pelo meu trabalho cada vez mais, pelas minhas filhas, pela minha casa, pelos meus amigos...e quem tem tanto amor para doar, não pode perder tempo esperando migalhas...


sábado, 26 de agosto de 2017

Sobre a estreia de "Cabeças Autônomas"

Sérgio Azevedo Fotos

Eu acredito na Arte que inquieta, que questiona, que possibilita uma ideia de nova realidade. Acredito na Arte que transmuta, que sensibiliza que emociona...
"Cabeças Autônomas" é tudo isso! É sem dúvida a direção mais importante da minha história de 23 anos de teatro... é um grito de guerra sobre ter coragem para tocar nas minhas feridas, das minhas atrizes e da plateia. É sobre mulheres, amor, vida e liberdade.
Fiz uma pré estreia somente com homens não ligados a teatro no dia 23 de agosto, que foi simplesmente incrível, tantas verdades sentidas, depoimentos emocionados e empatia. Muita empatia porque essa revolução e evolução de consciência, como um homem da plateia falou, é nossa, de todos nós.
Então veio a primeira apresentação da estreia. Plateia calorosa, receptiva e em prantos participando do debate. Um debate que foi uma injeção de ânimo e amor pelo que fazemos, por ter a certeza que tudo que idealizamos estava ali, sendo dito e chorado pela plateia! O sagrado, o feminino, as dores e amores do ser mulher...sem agredir os homens em momento algum.
Compartilhamos de tantas frases lindas e comentários que guardarei muito tempo na minha caixinha de memória. Pais, filhos, mães, mulheres... dialogamos! Fruímos e entramos em catarse...
Uma catarse libertadora! Uma reflexão forte sobre nosso papel em meio a esse caos diário... Nos abraçamos e choramos juntos!
Nunca, em 23 anos vi tanta gente chorando e falando coisas tão lindas sobre um trabalho. E eu não estava em festival, em outra cidade, ou no RJ e SP...eu estava em Canela, na minha cidadezinha cheia de graça, com minhas atrizes maravilhosas ouvindo que "estamos prontas para o mundo", que "Canela entrou para o cenário de qualidade de espetáculos nacional" entre outras coisas. Foi lindo, sublime de encher os olhos e a alma de amor... amor ao meu teatro.
Recebi diversos depoimentos de pessoas emocionadas que escreveram, enviaram áudios, me abraçaram... minhas atrizes em catarse, escrevendo o que sentiram e vibrando juntas no mais lindo amor, falando de transformação e cura.
Para quem não assistiu, teremos mais uma apresentação amanhã, dia 27/8 às 21h no Teatro Casa de Pedra em Canela. Vá sentir o que estamos sentindo, sem pré conceitos. Só vai de coração aberto!
Eu estou profundamente feliz e emocionada com o resultado que minha equipe de produção, elenco, apoiadores e técnicos (amigos de longa data) conseguimos! Todos os fragmentos da minha verdade e a verdade de tantas outras estão ali... nesse trabalho.
Dói mexer na ferida, mas é libertador quando nos curamos de nós mesmos! 
Cheguei em casa e chorei profundamente, quase desidratei num misto de alegria, amor e alívio... nasceu meu novo filho e o processo foi, é e será transformador.
Só sei fazer arte, e pretendo fazê-la com muita seriedade, pesquisa, ousadia e coragem sendo coerente com o que falo. Esse é o meu protesto, por liberdade e reflexão!





sábado, 22 de julho de 2017

A despedida da "etérea" Clarice Ziegelmann



O ano era 1996 e eu subia ao palco ao lado da minha então professora e diretora Clarice Ziegelmann que eu já conhecia  desde 1995. Era uma responsabilidade imensa atuar ao lado dela, eu uma "fedelha" do teatro, que mal começava a escrever e atuar há dois anos... o texto era meu, "O Etéreo", éramos mãe e filha, mortas, ligadas pelo nosso cordão umbilical, numa espécie de "limbo", acertando as contas... (sim, eu já era dramática naquela época e não sei porque cargas d´agua adorava falar de morte, meu primeiro monólogo foi "O Monólogo de Um Velório").
Ontem, 21 de julho, perto do meio dia quando recebi a notícia que me deu um soco no estômago, de um infarto fulminante justamente nela, começou a vir uma história na minha cabeça...na minha e de muitos da cidade de Canela e Rio Grande, acredito...
Para quem não conhece, ou só ouviu falar, Clarice Ziegelmann era atriz, diretora, musicista, ativista cultural (trabalhou em vários órgãos culturais em Canela e região), criadora e diretora da Cia Palco Meu em Canela, da qual eu e muitos outros atores passaram... mulher, mãe, avó, batalhadora incansável, gênio difícil às vezes, mas nunca intransigente, sempre de unhas azuis compridas (amava azul), cartomante de primeira (já fui várias vezes ver tarot com ela), adorava um café assim como eu, e não tem como falar em teatro em Canela sem falar nela, na Clarice, na vó da Valetina (que foi minha aluna esse ano), na mãe da Ingrid que eu brincava de barbie quando ia nas jantas na casa da Clarice e ela era pequena...
Clarice mexeu com a classe artística, sobretudo ontem, quando nos deixou rapidamente, sem nem sequer ter tempo de respirar. Meia noite estávamos lá, atores de todas as idades, diretores, amigos, o olhar de espanto, trocas de abraços, poucas palavras e muitas reflexões...
Como nessas horas tiramos tempo e nos encontramos? Como nessas horas deixamos picuinhas de lado e simplesmente nos apoiamos...assim devia ser sempre... mas sabemos que não é... a vida é corrida e somos produto dela, querendo ou não...
Entre choro e abraços, vinham boas lembranças, boas histórias, as últimas mensagens trocadas. Ela ia apresentar seus textos numa leitura dramatizada semana que vem e estava empolgadíssima, havíamos falado e ela disse: "te espero lá, não aceito recusas..."
Não escrevo esse texto somente porque ela "voltou para a casa", sempre mantivemos contato, e o projeto 3x4 Teatro em Canela nos reaproximou... no início do ano quando a neta fez o intensivo infantil ela, daquele "jeitão" dela, me disse: "só deixei ela fazer porque era contigo, gosto muito do teu trabalho..." Quem conheceu a Clarice sabia que ela não era mulher de recados, era clara, precisa, honesta e verdadeira, falando o que tinha de falar, doesse a quem doesse ... Já havia me visitado para conhecer Helena, sempre que podia ia assistir minhas peças, eu sempre convidava ela porque sabia que se não gostasse ou gostasse, as críticas eram honestas... Clarice não era "puxa-saca" de ninguém (isso herdei dela)...
Simplificando, decidi escrever para homenageá-la do meu jeito.  A classe teatral está de luto em Canela e sentiu muito essa perda... muito mesmo... é um pedacinho de nós que se vai, os ensinamentos que ficam... Em nome de todos os artistas canelenses que por ti passaram, seja em escolas, na Cia Palco Meu, oficinas, GRATIDÃO!!! Honraste a palavra TEATRO e soube nos colocar no caminho do amor a Arte com maestria. Aprendemos muito contigo. Te respeitamos! Te honramos! Seguiremos nossos caminhos, mas não esqueceremos que em algum momento fizeste parte das nossas vidas, da nossas histórias nesses palcos de rua, de festivais, de escolas, de eventos... 
E como em 1996, cortamos nosso "cordão umbilical" agora "profe", você passou para outro estágio rapidamente, e tenho certeza que conscientemente, pois sempre foste muito espiritualizada... Descanse! Apesar que se bem te conheço, já deve estar procurando "palcos aí em cima" para agitar algo, não és do tipo que fica parada... vais gostar do céu, ele é azul, tua cor favorita!
Quanto a tua filha e tua neta, segue tranquila, tem muita gente aqui para apoiá-las, ajudá-las, além da família, a tua família teatral, que ontem se fez presente, não vai te decepcionar...
Seguimos! Firmes e fortes, com coragem para cumprir nosso destino! 
Tuas últimas palavras pra mim esses dias foram: "Lisi, ando com muita dor na coluna e não consigo assistir tuas coisas, mas parabéns pelas tuas conquistas e tua arte concreta!!". Sabes que tem dedo nisso tudo né??? Na verdade eu, e muitos outros é que te agradecemos, por tudo... Valeu Clarice!!!





quarta-feira, 5 de julho de 2017

Sobre alunos, golfinhos e o teatro...



Caminhando nas ruas desconhecidas de Lima no Peru em 2010, entrei em um sebo e queria muito comprar livros de autores peruanos, me deparo com "El Delfín - la Historia de un soñador"  de Sergio Bambarén, que conta a história de um golfinho, Daniel. Um golfinho que tinha muito amor pelo mar e acabava esquecendo sua rotina de pescador imposta por seus companheiros. Sozinho, escutava apenas uma misteriosa voz que o fazia seguir seus ideais na busca do que o levaria ao outro lado do mar, enfrentando as ondas perigosas e o desconhecido. 
A história do golfinho revela que todo ser que busca seu próprio caminho e bem espiritual, tem um caminho a percorrer sozinho, deixando o medo e esquecendo das críticas daqueles que não acreditam mais em sonhos... Eu sonhei muito, sonho todos os dias, enfrentei muita crítica, deixei pessoas e amigos que hoje nem são tão amigo assim, para seguir meu sonho, um lugar onde o teatro pudesse ser uma ferramenta de construção num ser humano melhor.
Na noite do dia 2 de julho, fizemos a primeira mostra do Estúdio de Pesquisa, onde quase 50 alunos entre 5 e 60 anos em apenas quatro meses de aulas, mostraram sua Arte, mostraram como a Arte os encontrou, e segundos antes de abrir as portas para a plateia que lotou o teatro Casa de Pedra em Canela, não pude deixar de mencionar a história do golfinho, extremamente emocionada, olhei aquelas pessoas todas de mãos dadas, e comentei que muitas vezes quando pensei em "abandonar o barco", haviam eles, meus "golfinhos sonhadores" que me lembravam que não podia desistir, que havia muito mar para navegar...
E seguimos sonhando, assim como Daniel, que muitas vezes pensou em desistir cansado de atravessar o mar sozinho, acabava por recordar quem era e o sonho que tinha...
Os alunos brilharam na noite de domingo, iniciantes, outros mais experientes, clowns, crianças, trabalhos solo, Nelson Rodrigues... foram duas horas e meia de teatro (sim, 2h30min). Cansativo para uns e um deleite para amantes de teatro. Temos muitos ajustes, muito trabalho pela frente, mas a certeza de que estamos no caminho certo! 
Generosidade, energia, cumplicidade, amor ao que se faz! Foi lindo de ver! Agradecimentos especiais aos professores do estúdio: Ligia Fagundes, Rodrigo Bach, Sérgio Azevedo, Emiliano Marzano, Guga Freitas, Marcelo Wasem. Ao apoio do Giovane Nunes (meu queridinho impecável), ao Dudu e Polenta da àrea eventos (sempre presentes nas horas doidas), aos amigos do estúdio.
Encerro meu texto com a parte final do livro do golfinho quando ele segue escutando sua consciência que lhe diz:

"Chega um momento na vida que não há mais o que fazer, a não ser seguir seu próprio caminho..."

Estou seguindo o meu através do Estúdio, meu propósito de vida! Me encontrei!

Sergio Azevedo Fotos

domingo, 26 de março de 2017

As feridas que o teatro cura...

Sérgio Azevedo Fotos
Este fim de semana me reuni com as pessoas que fizeram o intensivo de verão em janeiro " O Ator e Sua Verdade", eram 17 pessoas, faltaram 7 e isso me incomodou um pouco no início, porque acho que precisamos ser comprometidos com nossa arte sim ou sim, e não só da boca para a fora, mas enfim, a proposta era nos reunirmos, após o grupo ser dividido e cada um ler uma obra de Peter Brook ("A Porta Aberta" e "Espaço Vazio"), a ideia era um seminário de discussões, depois vídeos e a prática dos exercícios. 
Voltamos a nos encontrar no mágico Solar Azul do Galo Cantante, da artista plástica Kira Luá, e em pouco tempo muito se viu, sentiu e se debateu. O teatro é uma dessas ferramentas de auto conhecimento completamente desacreditada, falo isso porque, a princípio ninguém leva muito a sério... as pessoas o costumam procurar para passatempo, para "perder a vergonha", para desestressar ou simplesmente " ocupar seu tempo vazio." Falo da minha realidade Serra Gaúcha, claro, e sempre há excessões. Mas são bem pouco que são coerentes com o que dizem... todos "amam" o teatro, mas o trocam por alguma festa, ou janta de amigos num piscar de olhos e se facilitar, te deixam na mão por bobagens... Mas não vou entrar nessa questão, porque tenho aprendido duramente que cada um dá o que tem, então não posso cobrar de quem não tem maturidade ainda, para me dar comprometimento. 
Voltamos ao encontro! Nesse encontro, rápido mas preciso pude novamente constatar o quanto o teatro cura (e não acho que ele seja terapêutico), ele cura porque trabalha emoção e é Arte! Mas para curar é preciso querer ser curado e mergulhar fundo nessa emoção, nas suas impossibilidades, nos seus medos, nas suas dúvidas, e isso dói. Partimos de Peter Brook mas improvisamos não Shakespeare em nosso "tapete", improvisamos sobre nós mesmos e toda nossa gama de problemas...
Mergulhamos e voltamos (porque mais importante que mergulhar é saber voltar e colocar a cabeça fora do mar de emoções internas). Rimos, choramos, estudamos, discutimos, debatemos e constatamos tanta coisa... foi intenso!
Cenas fortes, monólogos, personagens, criador e criatura...músicos, atores, cantores, amantes do teatro... Foi quem realmente "precisava" ir. 


Intensivo 2017

"Há espaço para a discussão, para a pesquisa, para o estudo da história e de documentos, assim como há espaço para berrar, uivar e rolar pelo chão. Há, também, espaço para o relaxamento, para a informalidade, para a camaradagem, mas também há o tempo do silêncio e da disciplina e da concentração intensa." Peter Brook 

E a pergunta que sempre faço: porque você faz teatro? O que te moveu até aqui? (em uma palavra)

Facilitadora: Lisiane Berti

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Sobre "afastamentos" que se tornam agradecimentos

Tem gente que entra e sai da nossa vida em um piscar de olhos...amigos de infância que ficam e se vão, colegas de aula, vizinhos, primos, colegas de trabalho, namorados, amigos, amigos só de festa, até gente da família. E vejam só, não estou falando de morte. Nem de separação de casais...estou falando de afastamentos... 
Eles ocorrem durante toda a nossa vida, às vezes sofremos muito por não entendê-los, relutamos, tentamos buscar explicações do porquê isso ocorreu...
Durante muito tempo da minha vida eu sofri por "afastamentos", eu não entendia porque "do nada" algumas pessoas simplesmente sumiam, não me cumprimentavam, paravam de me ligar, perdíamos contato. Caminhando pela rua via "fulano de tal" que já tinha sido meu "melhor amigo" e que mal de dera oi, como total estranho. Outras vezes um "ex", que educadamente (se não tivesse com a atual, porque elas sempre tem ciúmes) dava um "oi" afônico e eu me perguntava "Credo, já beijei essa boca e ele me dá esse oi murcho, como assim?"
Um amigo querido sempre me diz que temos que virar a página e aceitar que dói menos. Essa semana entendi mais esses "afastamentos necessários". Me reuni com minhas colegas do Ensino Médio, minha turma de 20 anos atrás, a turma de festas e saideiras de muita história que guardei nas minhas agendas/diários... De repente estávamos ali, sentadas, rindo muito e é como se nunca tivéssemos nos separado. Então, nos afastamos fisicamente, mas o laço criado permaneceu... Podemos dizer que não houve afastamento real.
O que não admito, o que me irrita e me falta evolução suficiente para entender (que meus guias espirituais me perdoem) é como que alguém, amigo, parceiro, companheiro, que te conhece, que partilhou das tuas dores e amores, que te ouviu que te confessou a alma, de um dia para o outro começa a sumir do mapa, te deleta como se você fosse uma "goiaba bichada". Aí você fica naquela dúvida, falo ou não falo, procuro ou não? (eu sempre falo e procuro porque gosto do olho no olho)mas não insisto muito não. Muito sábios os que dizem que teu pior inimigo é teu ex amigo, porque conhece teus "detalhes mais sórdidos".
Hoje, com 40 anos na cara e muitos tapas, aprendi que os afastamentos são necessários, é a velha seleção natural. Quem tem que chegar chega, quem tem que sair SAI!. Simples assim e está tudo certo, meu povo! As galinhas mais fracas do galinheiro morrem porque não conseguem chegar perto da água...
Segundo Darwin, "por exemplo, em um ambiente específico, apenas as espécies que possuem as condições ideais de sobrevivência conseguirão se reproduzir e transmitir para os seus descendentes as mesmas características genéticas e fenotípicas que garantam a perpetuação da espécie naquela região. No entanto, as espécies que não possuem os fenótipos adequados para sobreviver neste ambiente, não conseguirão se reproduzir e morrerão, sendo lentamente extintas."
Não entendeu? Vou explicar: a seleção natural está presente sobre todas as populações de seres vivos, seja em ambientes estáveis ou constantes, atuando como um “estabilizador”, eliminando as espécies mais “fracas” e garantindo a sobrevivência dos organismos mais fortes e aptos em sobreviver.
Os fortes sobrevivem queridinhos, e ouso dizer que não basta ser forte, é preciso ser inteligente!!! Quase estratégico! Então como estamos nessa cadeia evolutiva, vai estar com você quem é como você! Por mais que você tente ser generoso e levar no colo os "fraquinhos" eles em algum momento começam a pesar, e você para poder continuar a sua caminhada, vai ter (querendo ou não, sofrendo ou não) de deixá-los! Cada ser tem seu caminho, sua evolução, sua função! A vida te dá o que você PRECISA e não o que você quer...então presta atenção no que anda pedindo e no que anda fazendo, para depois não reclamar...
Alguém virou a cara para você? Alguém que era muito conhecido hoje é estranho? Alguém que frequentava tua casa e da tua família "sumiu do mapa"? Aquele parceiro de festa não quer mais fazer a TUA festa? Afastamento necessário meu bem! Relaxa, agradece e segue! A vida só nos ensina, o problema é quem nem sempre conseguimos enxergar além da tela do nosso celular. Agradece e sorri! Você é forte! Você é grande! Mas não seja pretensioso!
Apenas cuide melhor de você e não se preocupe tanto com o afastamento alheio... o que é seu de verdade não se afasta, só aparece quando é necessário!  É como coisas importantes que perdemos dentro de casa... na hora certa, geralmente quando desistimos de procurar, BUM! Aparece e a gente diz: "olha o que eu achei?" ou "olha onde estava..." e para nossa surpresa, bem debaixo do nosso nariz... e simplesmente não vimos...
Dizem que o amor é assim!!! (momento deboche) Podia ser né! Imagina encontrar alguém próximo e se dar conta que era tudo que você queria e estava ali, bem pertinho...
"Afastar-se é deixar-se evoluir"...tudo tem seu prazo de validade meus queridos, e não podemos lutar contra isso, a não ser que você curta "carniça". Há quem nasça para urubu e pense que é cisne....(momento deboche dois).






terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Sobre a coragem de seguir o sonho!!


Quem em sã consciência, abriria um Estúdio de Pesquisa Teatral no atual momento conturbado que o país passa, onde ninguém sabe o dia de amanhã, investindo em pessoas e teatro, e sem praticamente muito dinheiro no bolso? "Euzinha aqui, pessoal!". A louca, a diferentona, "aquela do teatro"...sim, sim, sim...muitos adjetivos para uma única aposta: seguir meu sonho!!
Mas que sonho é esse que não podia esperar mais um pouco? Amigos, ele espera já fazem uns 10 anos, estava engavetado nos meus planos secretos, houve momentos que quase desisti dele, ou deixei ele de lado em função de outras prioridades. Mas quando você tem um propósito, quando você escuta seu coração e o alinha com sua alma, aí minha gente, a responsabilidade é diferente!
Faz um tempo escolhi não fazer teatro por fazer, ou para agradar, ou para ganhar dinheiro (cá para nós, nessa profissão não se ganha "rios de dinheiro", pelo menos não todo o tempo), sentia através das minhas aulas que precisava utilizar o teatro como uma ferramento de acesso para trabalhar "AS" pessoas e não apenas "COM" pessoas... Que tipo se ser humano queremos e podemos ser de verdade?
Onde exorcizar medos, angústias, trabalhar emoções  sem ser no divã do analista e psiquiatra? Obviamente que no palco, transmutando tudo isso em criatividade!
Primeiro é preciso dizer que no Estúdio de Pesquisa Teatral não temos como objetivo único formar artistas, mas antes, desenvolver pesquisas em Arte. O que queremos é nos envolver em processos de criação capazes de nos desafiar e alterar nossas possibilidades no mundo, “formando pessoas melhores” fortalecendo nossa identidade e resgatando nossa autoestima.
Cada ano, cada professor/pesquisador terá a liberdade de iniciar, continuar ou encerrar sua pesquisa na sua área de atuação, com o público alvo que lhe convém, dentro de um embasamento teórico, que será publicado na revista do estúdio anual, afinal toda pesquisa precisa chegar a um resultado (seja positivo ou negativo) pois a criação artística é a construção de um discurso que se constitui de ideias, materiais, linguagens e argumentos poéticos e a necessidade de expressá-las de algum modo. Cabe a quem cria descobrir, mesmo em meio a uma cidade caótica ou pequena, como Canela, uma potência que deflagre um processo de criação.
Queremos seres criadores e não apenas, consumidores.  Enfim, um espaço de diálogo, encontro e transformação!!

E como diria Beckett ...

“Você não pode se esconder; seu crescimento como artista não está separado de seu crescimento como ser humano: é tudo visível.”

Visita nossa página no face:
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quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O primeiro rivotril a gente nunca esquece...


Saio cedo para uma hora marcada pela manhã, feliz cantando e dirigindo ao som da minha música preferida "Sittin'on The Dock of the Bay" (Otis Redding) que até Helena já quer cantar nos seus quase dois anos de vida; chego 15 minutos antes do previsto no local, achando que estava arrasando e quando aperto o interfone descubro que minha hora era a tarde. "Putz". Vou para o café ao lado e no caminho converso online com um amigo que decide me encontrar no café. Papo vem, papo vai, falamos de Arte, cordel, utopias, projetos... (tão bom falar com gente inteligente e que não usa o pronome pessoal "EU" em todas as suas frases). Ele sai, chega outra amiga, cantora! Falamos sobre as escolhas, intuições, dificuldades de falar o que fica engasgado. Ao lado um casal querido, amigo, vou até eles, abraço e cumprimento. Volto para casa quase meio dia. O planejado não aconteceu, mas o universo conspirou para outra coisa... Chego em casa e me deparo com a cartela de rivotril que ganhei (não vem ao acaso dizer de quem) pois comentava da minha absurda ansiedade...
Nunca fui fã destes remédios...e sim, tomei um numa noite, e não aconteceu nada. Acho que todo o café do meu corpo foi mais forte (graças a Deus!). Pensei se queria vegetar ou reagir? Se queria ficar inerte diariamente aceitando tudo " de boa" ou viver minha vida "mode on louca". Um ansiolítico, ficamos melhor para os outros e cada vez pior com nós mesmos..."JAMÉ"!!!
Botei a cartela fora! Toda ela e dei risada! Acham que me pegam né? Não! Acham que me rendo por tão pouco? Nunca! Acham mesmo que quero levar uma vida de "abostada" com olho parado, numa calma fingida apática ao meu entorno? Não sou dessas baby...não sou dessas... Eu me recupero e me regenero, como boa escorpiana que sou!
Rivotril é prescrito por psiquiatras a pacientes em crise de ansiedade – nos casos em que o sofrimento tenha causa bem definida. Mas tem sido usado pelos brasileiros como elixir contra as pressões banais do dia a dia: insônia, prazos, conflitos em relacionamentos. Um arqui-inimigo dos dilemas do mundo moderno.No Brasil, o Rivotril tem ainda outra vantagem importante. Repare: somos os maiores consumidores mundiais do remédio, mas estamos apenas na 51ª colocação na lista global de consumo de benzodiazepínicos. Ou seja: o mundo consome muitos benzo, nós consumimos muito Rivotril. Por quê? Por causa do preço. Uma caixa de Rivotril com 30 comprimidos (considerando a versão de 0,5 miligrama) custa em torno de R$ 8. O principal concorrente, o Frontal, da Pfizer, custa cerca de R$ 29. (Fonte Superinteressante).
Eu não quero comprar saúde em caixinhas, por isso trabalho com Arte e não, não sou contra pessoas que realmente precisam sob prescrição médica tomar esses remédios. Estou falando dos preguiçosos de plantão que apelam, por preguiça e cuidarem de si mesmos (tenho ótimos exemplos familiares.) É mais fácil se render a tarja preta do que se olhar no espelho, falar do que sente, mexer na "caixa preta", organizar emoções, abraçar, acolher, chorar, sorrir, sair de si mesmo mas também mergulhar num autoconhecimento profundo. O teatro me ensinou desde cedo a enfrentar isso, e muito do que sou devo a ele que salvou de grandes emboscadas, ou me tirou de situações difíceis...
Vivemos no mundo do caos, e o pior caos é o interno, com vestimos nossa "cara pastel" e saímos enganando o mundo, fingindo que somos super resolvidos, batendo metas, trabalhando no fim de semana para dar conta do que dissemos que podíamos fazer, abrimos mão da família e amigos e nos boicotamos...
Haja rivotril, prozac e a "puta que pariu" (hoje to rebelde!) para dar conta... até ritalina para criança, para segurar a onda anda rolando... Mas o que é isso? 
Não tem jeito, uma hora a maldita cabeça há que pousar em um travesseiro qualquer. E o cérebro imparável vai cobrar respostas. Mas se sequer temos perguntas bem resolvidas como elaborar saídas. Vemo-nos perdidos e não há nesse mundo um gps bom o suficiente para nos guiar na estrada rumo à morte. Sim, a morte está logo ali à espreita. Inexorável. O beco parece sem saída. E padecemos de pé. Padecemos quando despertamos. Estamos com tudo. Temos tudo. Acessamos tudo. No entanto, estamos completamente vazios no fim.
Insisto na Arte! A ARTE TRANSFORMA PESSOAS!!! Todos os dias! Sugiro uma aula de teatro bem dada, quero ver se o rivotril causa a mesma sensação... duvido! 
E acabo meu texto com uma breve frase de Guimarães Rosa que falava com meu amigo no café da manhã:

"Deus nos dá pessoas e coisas, 
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas 
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...
Essa... a alegria que ele quer"

Sinto muito vida, mas eu vou seguindo meu caminho, do meu jeitinho, às vezes devagarinho, às vezes atropelando o mundo, o importante é que estou sempre em movimento!!