Anton Pavlovitch Tchekhov
"As Três Irmãs"
No importante grupo dos
escritores russos do século 19, Anton
Tchekhov ficou consagrado como o mais ousado transgressor da tradição
literária clássica e um importante precursor das formas e da linguagem
artística contemporânea. O escritor de múltiplas faces, Tchekhov, antes de tudo, é um reconhecido mestre de narrativas curtas.
Ao mesmo tempo, Tchekhov é um grande renovador da arte dramática, criador de um
novo paradigma estético do drama contemporâneo.
Anton Tchekhov nasceu na pequena cidade de Taganrog, situada no sul da Rússia. Passou
sua infância em um meio muito patriarcal. Seu pai era dono de uma pequena
mercearia. A numerosa família (os Tchekhov tiveram seis filhos) vivia apertada.
Em 1876, o pai arruinou-se. Obrigados a vender a casa, os Tchekhov mudaram-se
para Moscou. Mas Anton, sozinho,
ficou mais três anos em Taganrog para terminar seus estudos no Liceu. Sem o
controle paterno, ele se sentiu mais livre para se dedicar ao que gostava desde
a infância – ao teatro e à literatura. Tchekhov
começou a escrever cedo. Quando foi a Moscou, aos 19 anos, para fazer o vestibular
de medicina na Universidade, em sua pasta já havia muitos contos humorísticos e
um texto dramático. Médico dedicado e magnânimo, Tchekov produziu
simultaneamente uma vasta obra literária e dramática. Dizia: "A medicina é a minha legítima esposa; a literatura é
apenas minha amante."
Em 1888, Tchekhov
recebe o prêmio Púchkin, maior láurea literária concedida pela Academia de
Ciências da Rússia. Seu talento amadurecido se concentra cada vez mais em
recriação de sutilezas da interioridade “fluida e contraditória” do ser humano,
como ocorre, por exemplo, em contos: O monge negro, Enfermaria
nº 6, Estudante e Os homens. Ao ler e analisar
essas obras primas de Tchekhov, Virginia Woolf deixa destacado que o escritor
russo “é o analítico mais sutil das relações humanas. Quando lemos estas Histórias
sobre quase-nada, o nosso horizonte estende-se e ganhamos um espantoso
sentido de liberdade”.
Inovador no mundo das
letras, Tchekhov era ainda mais radical na inovação da arte dramática, naquela
verdadeira virada para o novo drama que se manifestou, pela primeira vez, na
genial tessitura teatral da peça A gaivota. Ainda que a primeira
montagem desse drama, em 1896, tivesse sido um grande fracasso, dois anos mais
tarde, a encenação de A gaivota, realizada por K.Stanislávski
obteve um sucesso inacreditável que marcou o nascimento do novo sistema
dramático já aberto para o século 20. Desde então, Tchekhov escreve suas
peças especialmente para o Teatro de Arte de Moscou: em 1899, estreia Tio
Vânia; em 1901, As três irmãs; e em 1904, o último drama, O
jardim das cerejeiras.
Anton Tchekhov quebra
todas as regras que existiam antes no ofício dramático. Em comparação às peças
dos antecessores, que possuíam uma trama dramática espetacular, parece que nada
acontece no teatro de Tchekhov, pois suas peças sempre têm um final aberto. Se
o teatro clássico falou dos dramas que acontecem na vida, Tchekhov foi o
primeiro a mostrar no palco o drama da própria vida – da vida “regular, plana,
comum, tal como ela é na realidade”.
Nas peças de
Tchekhov, sempre existe algo mais importante de que o plano dos acontecimentos,
algo que estabelece a ligação entre o cotidiano da vida humana e a eternidade.
Essa ligação é estabelecida através do principal motivo do teatro tchekhoviano:
o tempo. O dramaturgo irrompe no tempo teatral para abrir a ação dramática à
eternidade da vida. Como são importantes, por exemplo, as estações do ano (o
tempo cíclico da natureza) para o desenvolvimento da ação de As três
irmãs. O primeiro ato começa na primavera. É o despertar da natureza e o
despertar das esperanças das três irmãs Prósorov – Irina, Olga e Macha – depois
de um ano de luto pela morte do pai. O último, o quarto ato, passa-se no
outono: “A neve pode cair a qualquer momento… Os pássaros já começam a emigrar…”,
diz Macha, como se esses pássaros de arribação levassem consigo todos os sonhos
e a esperança de felizes mudanças na vida das três irmãs.
Tchekhov morreu em 1904, em
Badenweiler, na Alemanha, para onde havia ido para tratar-se da tuberculose que
já alcançava um estado terminal. Assim Olga relata os últimos momentos de vida
dele:
Anton sentou-se extraordinariamente ereto e disse em voz alta
e clara (embora ele não soubesse quase nada de alemão): Ich
sterbe ("Estou
morrendo"). O médico acalmou-o, pegou uma seringa, deu-lhe uma injeção de cânfora, e pediu champanhe. Anton pegou
um copo cheio, examinou-o, sorriu para mim e disse: 'Fazia um bom tempo que não
bebia um copo de champanhe.' Ele bebeu, e inclinou-se suavemente para esquerda,
e eu só tive tempo de correr em sua direção e de colocá-lo na cama e chamá-lo,
mas ele tinha parado de respirar e estava dormindo tranquilamente como uma
criança…
Fonte:
Elena Vássina. Um
clássico contemporâneo da literatura russa. In: http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/anton-pavlovitch-tchekhov/
Ficha técnica
As Três Irmãs, peça em 4 atos, de Anton Tchekhov,
adaptada para Leitura Dramatizada.
Leitura pelos alunos do Curso “Grandes Autores de Teatro”
Módulo II, direção de Lisiane Berti.
Com:
Andrei Prozoróv - Giovane Nunes
Natália Ivanóva - Ana Rocha
Olga - Rosane Costa Warken
Macha - Silvana Heloisa Grade
Irina - Tania Limberger
Fiódor - Erick Bolt
Nikolai Tuzenbakh - Eduardo B Rohden
Ivan Romanovitch - Ronaldo Almeida
Natália Ivanóva - Ana Rocha
Olga - Rosane Costa Warken
Macha - Silvana Heloisa Grade
Irina - Tania Limberger
Fiódor - Erick Bolt
Nikolai Tuzenbakh - Eduardo B Rohden
Ivan Romanovitch - Ronaldo Almeida
Lisiane Berti – narradora
Próxima leitura: Édipo Rei de Sófocles no Aroma
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