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quinta-feira, 14 de junho de 2018

O retorno ao Peru e o reencontro comigo mesma!


Sergio Azevedo Fotos
Estamos aqui arrumando malas e a duas semanas de voltar ao Peru e participar desta vez do I Festival Internacional de Teatro de Chiclayo "Mujeres Dramáticas". Expectativas, ajustes, produção e a certeza de que o Universo te coloca no lugar certo na hora certa. Voltar ao Peru é muito mais que participar do festival e rever amigos, é também lidar com meus fantasmas do passado, resgatar um pedaço da minha alegria que deixei lá da última vez que fui. É juntar a última pecinha dos cacos que se que quebraram para finalizar mais um ciclo na minha vida, de grande crescimento e voltar inteira. Estou pronta! Pronta para me encontrar comigo de novo, pronta para mexer nas minhas dores mais profundas e transmutá-las assim como Mariana Alcoforado. Somos um Equador de escritos... e quanta coisa escrevi nesses últimos quatro anos... Volto para lá na mesma época, novamente em julho e durante a Copa do Mundo. Volto para lá mais uma vez com um trabalho meu, mas pela primeira vez em cena, fui sempre como diretora. Volto falando de amor. No mesmo lugar onde encontrei tanto amor, que hoje vejo nos olhos da minha Helena. Volto pelas ruas onde caminhei e chorei muito, não pelo 7x1 do Brasil, mas por tudo que eu sentia e não entendia que viria. A minha intuição já me preparava para tanta coisa e ao mesmo tempo me acarinhava dizendo que eu estava protegida. Está aí, uma coisa que não tenho dúvida alguma, sou muito protegida e querida pela espiritualidade e meus guias, eles sempre estão comigo, eu sei que não estou só, mesmo nos momentos de maiores solidões...
Me sinto como se tivesse literalmente sido "treinada" para esse retorno, e todas as amarras que ainda me prendem precisam ser soltas... eu preciso me libertar do restinho da raiva, do rancor, do desamor não do outro mas meu, eu me abandonei nesses últimos quatro anos e joguei na comida toda a minha raiva. Como se isso pudesse me curar, quando na verdade só disfarçou minha dor. Quero entrar na mesma igreja amarela em Trujillo, sentar no mesmo lugar e agradecer. Agradecer por tudo que me aconteceu desde a última vez que estive ali. Eu sou uma nova pessoa, uma nova mulher e descobri em mim potenciais e força que não fazia ideia que tinha. Eu honestamente pensei que não iria dar conta do recado. Mas está tudo certo, como deve estar. Toda vez que olho para minha filha, não consigo sentir raiva, não consigo reclamar, ela é tudo de melhor e maior que podia me acontecer. Ela escolheu a mim e ao pai para trazê-la a este mundo,e isso já é muito grandioso. Já entendi que a relação dela com o pai é um problema deles, regate deles e que não devo ficar no caminho, muito pelo contrário, abrir portas para facilitar essa comunicação, mas é só! Nada mais!
Há quem fale as bobagens de "não vai voltar grávida de novo", e preciso rir. Rir porque essas pessoas não sabem de nada da história, não sabem nem metade do que aconteceu, me desconhecem inteiramente, e desconhecem o fato de fiquei um ano tentando engravidar e não conseguia e aí finalmente quando não estava mais com este foco, aconteceu! Helena "amigos", não veio por acaso. Foi muito, muito planejada, esperada e amada! O que não foi planejado, amado e esperado foi tudo que veio depois, mas aí é outra história para outra hora...
Não me arrependo de nada. De ter amado, de ter vivido tudo o que vivi, da entrega, das esperanças, dos sonhos... como boa escorpiana sou intensa e amo muito, demais. Sofro na mesma proporção também.


E como escrevi lá em cima, o Universo te coloca no lugar certo na hora certa. Não estava nos meus planos ir ao Peru tão cedo, não fazia sentido para mim voltar lá. Pelo menos não agora. Um amigo colombiano me indicou para a organizadora do I FITCH e primeiramente como era um festival de mulheres dramáticas, sugeri "Cabeças Autônomas", mas era inviável levar dez mulheres ao Peru. Então decidi mandar material do "Cartas de Além Mar" e uma semana depois, ainda em dezembro soube que iria. Começava os dinossauros na barriga fantasiados de borboletas. Era preciso voltar e eu voltaria. A história de amor da freira portuguesa pelo soldado francês, as cartas trocadas, o desejo sentido. Lá estou eu, frente a frente com Mariana. Ator e sua verdade na veia. Visceral. Um amigo escreveu um trocadilho no face "Lisiane Alcoforado ou Mariana Berti"? Não importa! Vivemos nosso amor, nossa loucura, nossas certezas, aprimoramos nossa força, seguimos... seguimos de cabeça erguida!! E isso é o que verdadeiramente importa.
Vou num momento muito feliz. Vou leve (fisicamente ainda falta um pouquinho hehehehe), vou de coração aberto, vou despojada de medos, pronta para encontrar, falar, olhar no olho e sentir... Sentir é a palavra. O Peru em si é puro sentir...
Hora de fechamentos. De virar a página e começar uma nova história, onde eu sou a protagonista da minha vida, onde EU virei em primeiro lugar. Eu sempre me coloquei em segundo plano para agradar muita gente. Hoje eu ME agrado, estou definitivamente despreocupada com o que os outros pensam e dizem, isso é problema deles. Não meu!
Mariana e eu temos o exercício da dor como aliada nas nossas emoções desenfreadas. A escrita eternizou o amor barroco da freira assim como a escrita foi minha aliada para entender tudo que acontecia e registrar minhas agonias contemporâneas.
Que venha o festival de "Mujeres Dramáticas" (muito propício para mim e Mariana), que venha essa apresentação que será importantíssima para a transgressão de ambas, que venham os encontros e reencontros. Que venha o que tiver de vir. Me projeto, me recupero e me regenero. Vou em paz e na paz! Sei dos percalços mas sei que nenhum caminho corajoso é simples.

Finalmente, encerro com o escritor francês Henry Bordeaux: "Todas as Cartas de paixão deveriam ser chamadas de Portuguesas..."





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