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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Bloco dos Artistas, Canela e Identidade!



Uma das grandes paixões dos brasileiros é sem dúvida o Carnaval, uma festa folclórica linda com suas particularidades regionais. Sim, ele tem duas faces, há a bebida alcoólica que se torna farta, há os que abusam das brincadeiras, há o aumento de acidentes e há aquela frase que perpetua que por aqui, no Brasil, "o ano só começa depois do Carnaval" e tudo, inclusive respostas importantes de trabalho, só chegam depois dele. Mas eu não vim falar desse lado "escuro", vim falar, ou melhor, escrever sobre o contágio da alegria, da diversão, da musicalidade e influências de raças que se evidenciam nessa época, seja num samba enredo, seja numa fantasia, numa alegoria. A criatividade, o luxo, a beleza, a identidade e o renovar de energias positivas, mesmo para aqueles que não gostam do "ziriguidum" e preferem fugir para a praia ou simplesmente hibernar em casa.
Canela já teve um dos melhores Carnavais da Serra Gaúcha, com as saudosas noites de carnaval no Esporte Clube Serrano e com os desfiles na rua de blocos como Charanga do Boléia, Só Falta Você, Saímo sem Quere, Los Fantasmas e tantos outros que não lembro o nome, porque eu era adolescente amava assistir os desfiles e tinha uma turma maravilhosa de festa. O carnaval era bem organizado por aqui, mas não lembro e não sei porquê, terminou. Em fevereiro muitos começaram a procurar festas fora da cidade ou da Serra, porque não tinham mais opções e as ruas, antes embaladas pela folia ficaram desertas.
Em final de dezembro de 2017 fui chamada junto com outros artistas pelo Tiago Melo a frente do Departamento de Cultura da cidade que explicou qual era a ideia do carnaval em 2018 e que gostaria muito de formar um bloco dos artistas inspirado no Bloco da Laje de Porto Alegre. O carnaval seria curto, na praça, aberto a todos com a Liga dos Blocos (união do que sobrou dos blocos que comentei antes), o Bloco dos Artistas e programação paralela  em alguns lugares da cidade. E começaram os trabalhos. Pedro Campos tomou a frente chamando onze músicos para compor a Banda do Dionísio que embalaria o nosso bloco com samba de raiz, maracatu, axé, Adoniran Barbosa e aquelas músicas que todos conhecem, cantam e não conseguem ficar parados. Grupo do whattsapp formado adicionando interessados, camisetas do bloco estruturada partindo do Bonecão Tiberius do Grupo Olho Mágico que virou mascote e se fez poesia no estandarte da maravilhosa Potira Moura (responsável pelos figurinos e adereços). Ensaios no Ponto de Cultura Kombinação com 1 litro de leite como ingresso doado ao HCC, esquenta no Aroma Literário com chuva e queda de luz que se ajustou no último minuto. 
Falando em chuva, ela veio junto com a cerração porque por aqui, isso é paisagem cativa, e no primeiro dia oficial da apresentação do bloco, artistas sambando na chuva e lavando a alma. Raças, cores e amores, grupos, cias, amigos e apreciadores da Arte. Só alegria! Só diversão e que energia! Vídeos compartilhados, sucesso! Muitos procuravam para adquirir camiseta ou saber mais informações. Brilhante ideia do Tiago, de unificar isso e retomar o carnaval dessa forma. Ouvi diversas vezes: "Carnaval assim, com esse clima e essa energia boa, só em Canela!"
Evoé Baco ou Dionísio! Evoé bloco dos artistas e Canela! (Para quem não sabe "evoé" era o grito proferido pelas sacerdotisas que cultuavam Baco. Grito de alegria, de exaltação e entusiamo.)
Bacanal (do latim Bacchanalia) eram, na Roma Antiga os rituais religiosos em homenagem a Baco (ou Dionísio), deus do vinho, por ocasião das vindimas, em que havia um cerimonial sério e contrito, de início, seguido por uma comemoração pública e festiva. Dionísio era um deus bastardo para os pagãos. Perambulava por muito tempo pela Ásia menor até que, conta a lenda, pelas mãos do sacerdote Melampo, introduziu-se as terras gregas. Tornou-se um sucesso. Conforme as parreiras se espalhavam pelas ilhas da Grécia e pela região da Arcádia, mais gente o celebrava. Em todas as festas do campo ele se fazia cada vez mais presente. Representado pela figura humana só que de chifres, barbas e pés de bode, com um olhar embriagado. Nos festejos dionisíacos uma teatralização coletiva de inversão de tudo serviam como um acerto de contas do povo com seus governantes. Ainda que metafórico, neles o miserável vestia-se de rei, o ricaço de pobretão, o libertino de líder religioso e a rameira como a mais pura donzela. E até hoje essa inversão permanece não acham? Incomoda? Sim, há os que gostam de Carnaval e os que detestam pelos mesmos motivos.
Vestidos de túnicas roxas e com coroa de hera nas cabeças, a banda do Dionísio embalou a festa. No início uma saudação ao Deus da festa, abrindo os trabalhos, pedindo permissão para entoar os "hinos" de que movimentariam todos. Foi lindo de ver a Praça João Corrêa cheia de crianças, jovens, adultos e os artistas de camisetas roxas (roxo, verde e amarelo são oficialmente as cores do Bloco) dançando e se divertindo.
Vida longa ao novo formato do Carnaval em Canela, simples, sem frescura, com cerração, mas com toda a identidade cultural que só quem vive ou passa por Canela sente. Por aqui a Arte está no DNA da comunidade desde os primórdios e não há quem possa nos tirar isso.
Aproveito aqui para agradecer a todos os artistas, músicos, alunos, simpatizantes da Arte que embarcaram na ideia e foram para a folia com a gente! Sim, o momento do pais é delicado, difícil e triste. Muitos dizem: "ah se o povo se unisse assim para protestar!". Nosso bloco também foi nosso protesto, por liberdade! Liberdade de escolher, de sentir, de se vestir como quiser, de ser quem se é, liberdade de ir e vir e de quebra, uma grande festa teatral.
Estava lá eu, de preto (óbvio), sem muita purpurina (dóe o olho), com minha camiseta roxa do bloco, filmando cada momento lindo. Sou do tempo dos saudosos carnavais em Canela. Fazia muitos carnavais que hibernava e sumia, fugindo do barulho. Neste fiz questão de estar em todos os ensaios e apresentações. Compartilhando a festa, esse era meu papel! Orgulhosa de ser canelense e fazer parte disso tudo!
Ficam aqui meus registros!!!
Evoé!
Seguimos!!

Mestre sala e porta bandeira mirins (Pedro Parmegiane e Pietra Zanatta)


Liga carnavalesca e nosso mascote Tibérius


Banda do Dionísio e bloco dos artistas abaixo de chuva


Mestre sala e porta bandeira adulta Evelise Fagundes e sua alegria contagiante

Eu louca e feliz











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