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sábado, 3 de dezembro de 2016

Era uma vez um coração de menina em corpo de mulher


Geralmente quando durmo coloco as duas mãos sobre meu coração. Sinto! Escuto e até converso com ele. Penso em quanto desgaste já teve ao longo desses 40 anos, em todas as guerras que travei em nome dele, todos os trabalhos que fiz onde ele sempre falou mais alto, todos as perdas e dores que tive por preenchê-lo sempre acreditando que seria possível! Eu sempre acredito! 
Aproximando-se do Natal, me vem a imagem dele como um "chester" (debochada sim!), todo remendado, mas cheio, cheio de coisas boas! Cada costura uma história, cada fio transpassado um caminho que cruzei, um homem que amei, um texto que criei, um personagem que atuei, as filhas lindas e iluminadas que me presentei! Meu coração é jovem, cheio de vida e de muitas histórias para contar. (Graças a Deus!).  Minha filha diz que eu pareço uma adolescente às vezes, quando me empolgo com as coisas ou com as pessoas. Uma intensidade absurda! Mas as pessoas não entendem e nem gostam disso. (Sinceramente, problema delas, cansei de tentar explicar...)
Eu sempre verbalizo o que sinto, para quem acho que valha a pena! Procuro me fazer entender da forma mais clara possível, quando gosto e desgosto.  Não sou água morna! Não sou o que querem que eu seja, sou eu, sempre eu, autenticamente e loucamente eu! Acho que a vida é uma pluma para perdermos tempo com esperas prolongadas, com gente enrolada, gente que não trabalha seus traumas e dores, gente abusada, gente que brinca com sentimentos alheios achando que isso nunca vai voltar, gente que ama de forma egoísta, ou seja, tudo tem que ser como e quando ela quer...o outro?O outro que espere ou se dane! Ceder faz parte mas precisa haver equilíbrio...com o passar do tempo, analisando minhas relações sociais, familiares, profissionais e amorosas, percebi que durante muito tempo eu sempre cedi, sempre dei meu melhor mesmo quando o outro não tinha nada a me dar. Eu tinha (e tenho) tanto amor dentro de mim, que eu compartilhava em dose dupla, no início isso bastava, meu coração alertava e lá na frente ficamos eu e ele, batendo sofrido. Chorávamos sozinhos num travesseiro qualquer e eu questionava: O que eu fiz de errado? Por quê? De novo isso se repetindo?
Anos de histórias e muitas lágrimas depois, começo a entender a linguagem do meu coração, continuo amando muito , mas não deixo mais abusarem do meu amor. Me conectei comigo, e descobri que meu primeiro amor serei sempre eu, depois minhas filhas, meu teatro, minha vidinha louca e corrida que tanto amo... Aprendi a dizer não! E que delícia dizer "não" sem culpa! Aprendi que não posso esperar das pessoas o que não podem me dar, então sutilmente me afasto, deixo elas no tempo delas, com suas convicções e confusões, não compartilho mais amor com quem não se deixa amar. Não perco mais meu tempo!
E assim são os amores, os trabalhos e os amigos...só estão realmente perto de mim os que assim como eu, amam de verdade sem esperar nada em troca. Não abro mais as portas da alma para todos, verbalizo muito, mas minha essência é preservada. Aprendi a me proteger, a me cuidar melhor, a evitar noites sofridas por gente desnecessária. Respiro fundo, ainda estou longe de onde quero chegar mas já me movimentei muito de onde estava.
Quero presença, colo, carinho, palavras legais, (flores, não!). Quero gente que assim como eu se esforça para caramba para que as coisas aconteçam sem pensar só em dinheiro. Me emociono com coisas tão bobas às vezes, fico feliz com reconhecimentos simples, não quero capa de jornal, não quero cargo político, não quero fama! Quero alma, quero sentido para minha vida e minhas escolhas, sejam elas quais forem.
Não tenho medo de ser feliz, nem de me expor, mas já não o faço pra chamar atenção. Só para quem vale a pena. Me recolho quando ignorada, fico quieta quando criticada (se tiver argumento), repenso, recomeço quantas vezes forem necessárias, luto, esbravejo, passo horas em claro se digo que vou entregar tal material em tal hora, palavra para mim é lei!  E se der minha palavra, pode ter certeza que vou cumprir.
Portanto, se você não pode me dar sua verdade, ou se finge que é de verdade, nem se aproxime muito, porque eu não posso te ajudar e não quero ser cruel com meu coração. Se fizer isso de novo, ele me coloca de castigo. Estamos muito bem eu e ele, há muito tempo, temos nos recuperado bravamente de tudo que passamos juntos, e olha que não foi pouca coisa. Um dia te conto dando risadas e tomando um bom café, porque tudo acaba em Arte! Tudo vira palco! Tudo vira história para contar...
E se minhas histórias e minha forma de ser puder auxiliar pessoas que assim como eu, sentem as batidas do seu coração nesse mundo doente e ingrato, BINGO! Te quero comigo! Bem do meu lado! 
Porque escrevi isso? Achei um rascunho de um texto de 2014 que não acabei, a chuva de hoje me inspirou nesse texto simples, que não é desabafo nem recadinho para ninguém, até porque estou sozinha, tranquila e feliz (pasmem!!).
Mais café, beijos na boca e coração por favor...o resto a gente esquece um pouquinho!
O mundo tá chato, com muita gente chata falando de coisas chatas...falta autoconfiança! Falta coragem de assumir a delicia de ser o que se é!


3 comentários:

Unknown disse...

Que delícia de texto!
Nesta noite gostosa, em que a chuva nos deixa ainda mais românticas, você escrever, e nós do outro lado mergulharmos com nosso coração no teu, é uma viagem no mínimo para dentro da arte.
Amo teu trabalho,do tipo: Tiete de carteirinha, hehehehehe.

Tia Beth disse...

Só a maturidade faz com que a gente consiga ver as coisas dessa forma.....e faz um bem danado perceber isso..........nos deixa leves e aprendemos a escutar nosso coração!!!! Amei o texto!!

Felipe Oliveira disse...

Senti meu coração bater mais forte,aprendi muitas coisas em poucas palavras.
Espelho és!