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domingo, 17 de abril de 2022

Somos seres em Travessia


Neste feriado de Páscoa, eu fiz algo que há anos não faço: não trabalhei. Saí de Canela e fui a Rio Grande. Viagem planejada, mas o foco não era eu, fui apenas como acompanhante, minha ideia era apenas descansar um pouco a cabeça e curtir "minha pessoa". Foram praticamente 5h30 de ida e volta, bem tranquilas. Tudo correu bem , sem nenhum imprevisto ou stress. Mas na verdade eu tive uma aula. Uma aula de vida e um tapa de luva do universo bem na minha cara, literalmente. Explico. (a quem tem interesse).

Fui conhecer pessoas que nunca vi, em lugares que nunca pisei para relembrar histórias do passado de dois grandes amigos que não se viam há mais ou menos 40 anos e serviram juntos no exército. Foi interessante presenciar esse encontro e ouvir algumas histórias. Mas eu sou a pessoa que presta atenção no entorno, nos detalhes, no que não é dito, mas sentido. No olhar, nos gestos, nos tons. Teve situações que aconteceram, que talvez se fossem com outras pessoas eu me irritaria muito, como esperar, dar mil voltas... mas surpreendentemente eu me vi calma. Tranquila. 

O dia mais importante pra mim desse passeio foi no sábado, onde passei praticamente todo ele no Clube de Regatas de Rio Grande, sentada, ouvindo e observando as pessoas. Sim. Ouvindo mil histórias e o entorno. Eu tenho reclamado muito ultimamente de uma série de coisas da minha vida. E tive a certeza depois de ouvir tanta história  triste e dolorida que estou muito, mas muito bem e tenho uma vida muito especial. Talvez muitas pessoas queriam estar no meu lugar.

Tenho 45 anos, corro feito uma louca e isso por vezes cansa e estressa, porém meu corre é por coisas que amo, que gosto, minha Arte, ando cansada mas não estou com aparência acabada, sofrida e envelhecida (acho que não pelo menos). A vida tem sido generosa comigo!  Vivo um relacionamento que vai fazer 3 anos, que não é perfeito mas que dentro das nossas escolhas, formas de pensar e nos entendermos, funciona muito bem. A gente se entende só de se olhar, se respeita, se ouve, fala o que gosta e o que não gosta e antes de qualquer coisa somos muito amigos, de muitos anos, quando nem pensávamos em ter algo. Eu quase coloquei isso fora esses dias por cansaço, energias pesadas e outra coisas... Lá, vendo o que vi, como as pessoas falavam, o que contavam do seu passado, tudo que tinham perdido, as frustrações, eu pensava: "meu deus, eu tenho uma vida muito boa.". Pela primeira vez em anos, não tive vontade de falar nada, só ouvi e pensei. Senti que aquelas pessoas queriam ser ouvidas, precisavam de atenção. E eu dei, toda a que pude. Elogiei as comidas, dei meu tempo, meus ouvidos. Antes de sair de casa na sexta de madrugada rezei e pedi ao Universo que tudo corresse bem, que eu conseguisse descansar, que minhas filhas ficassem bem, que eu tivesse minhas respostas ao meus dramas internos. Eu tive! E muitas!

Tem várias coisas que preciso mudar é verdade, mas tenho bem mais coisas para celebrar. Nunca abri mão da minha Arte por nada nem ninguém, nunca deixei de fazer as coisas que gosto para satisfazer os outros, ceder é uma coisa, mas abrir mão de sonhos pelo outro, para mim é inadmissível. Não julgo, mas eu  acredito que jamais faria isso. Conversei com pessoas que perderam o brilho no olhar. Elas riem, são amáveis, mas se você ouvir vai sentir que apenas "levam a vida", presas a um passado que se foi, escorregou pelas mãos pelas decisões que tiveram. Lembrando que cada escolha tem uma renúncia e óbvio, uma consequência. 
Uma das frases mais duras que ouvi foi: "Eu não tenho mais escolha, sei tudo que vem pela frente, então estou só vivendo dia após dia, agora é tarde demais..." Isso foi um soco no estômago pra mim! Como assim? Sim, é assim! Alguns apenas contam os dias, vivem uma rotina sacrificante e dolorosa para sobreviver. Sobreviver, mais que tudo, as guerras internas. Aquelas feridas da alma.

Achei Rio Grande interessante pelos prédios históricos, mas ao mesmo tempo triste e sem cor. Vi tanto potencial em prédios, na história da cidade mas ouvindo os moradores, as reclamações é de que nunca tem nada, fora a violência absurda, pois a cada dia uma morte por questões de tráfico e drogas. Todos vivem um tanto "acuados e com medo". Isso é muito ruim! Moro numa cidade pequena, quando voltei o fluxo de trânsito an Serra Gaúcha estava um caos. Minha pequena cidade do interior tem programação direto, eventos. Aqui pode-se viver de Arte. Visitei o Teatro em Rio Grande, fechado. Prédio histórico. Nenhuma programação de Páscoa. Soube que foi reformado há 8 anos mas que não teve manutenção. Nenhum cartaz. Nada. Parecia abandonado. Teatros geralmente são abandonados pelos governantes. É de praxe! Tirei foto, toquei no prédio e pensei em quantos artistas passaram por ali e quantos gostariam de passar mas não poderão. E eu reclamo de um monte de coisa em Canela. Dos espaços culturais (que estão precários), das "panelas culturais" e por aí vai a novela. Também dá para elogiar de vez em quando.

A última vez que tive na psicóloga, reclamando (para variar) ela me disse: mas que tipo de relacionamento tu queres, afinal? Respondi que tinha exatamente o relacionamento que queria. Decidi aproveitar mais! Viver o presente. Sem muitos planos futuros. Vou dar minha presença. Meu tempo. Qualidade de tempo. É isso! Cheguei a pouco em casa, pequenas coisas já me estressaram. Coisinhas domésticas. Parei. Sentei. Decidi escrever. As coisas que me estressam são ajustáveis, possíveis de melhoras. De trocas, de ajustes. Eu tenho o poder de escolha! Eu posso mudar tudo se quiser, não é tarde demais para mim, não é!

Acredito que vou tomar várias decisões esta semana, sobre pequenas coisas. Tenho seguido o que acredito. Sou honesta comigo! Faço o que gosto, quero ser útil, não apenas fazer por fazer. Não sou assim. Me demiti de um contrato esses dias por isso. Ótima grana, poucas horas, liberdade de horários, mas não estava sendo útil. Seria cômodo ficar, grana fixa. Mas eu estaria sendo desonesta comigo e com a empresa que me acolheu. Falei a verdade e pedi para sair. Saí pela porta da frente, de cabeça erguida e coração leve. 

Coração leve... puxa que coisa mais boa não sentir o aperto que senti no outro fim de semana, sufoco, cabeça a mil. Insônia... como é ruim quando a gente não está bem. Tive que atender uma empresa fora e fazer um esforço tremendo para manter o foco e realizar o trabalho com excelência. Cada vez que perdia o foco meu olho enchia de água, tinha que respirar, tomar um café e voltar. Decidi escrever várias vezes a mesma frase no meu caderno de anotações: mantenha o foco, essas pessoas merecem o teu melhor!  Consegui! Mas não foi nada fácil. Saí com a sensação de ter feito um trabalho mediano. Odeio quando me sinto assim. Mas tudo se resolveu, penso. Meu desabafo foi tremendo. Também foi difícil para o outro lado ouvir aquela "bomba" que soltei. E quem joga bomba, recebe explosão. Recebi cada palavra, tentando interpretar da melhor forma. Ouvir é diferente de escutar. Mas você precisa saber interpretar, senão de nada adianta o diálogo. A interpretação é que dá o tom de tudo. Percebo que tenho feito interpretações bem errôneas, talvez esse texto possa ser uma interpretação errada do que vi e senti, e do seu jeito, as pessoas que conheci, são felizes assim, é o jeito delas! E está tudo bem! Se entendem, se apoiam em suas nuances de solidão e alegrias. 

Talvez minha escrita tenha o ego fluído, porque tenho usado aqui para falar de mim, de coisas bem pessoais. Mas acredito que me lê quem se importa ou se interessa. E sempre digo que escrever é terapêutico. Cura. Escrevo aqui porque sei que as pessoas tem preguiça de ler, então poucas chegam aqui. Até o fim. Bem poucas. E  tudo bem. Tudo certo. Você pode sair e não voltar. Quanto ao Universo, sou muito grata por tudo que ele tem me dado de lição, dos aprendizados. Ele me atende, mas me dá sempre o que preciso e não o que quero. Nem sempre o que eu quero é o que eu preciso. Agradeço ter conhecido as pessoas que conheci, simples, amáveis e hospitaleiras. Apesar de tudo nos trataram de uma forma amável, e não mediram esforços para nos atender. Penso que tornamos o fim de semana delas, especial. Não vão nos esquecer. 

Quanto ao meu queridinho, desejo sempre o melhor e ele sabe. Sei que sou difícil de aturar, ele já conhece todas as minhas caras, até minha escrita. Sabe direitinho quando não estou bem ou puta da cara. Conversa. Conversamos. Sempre conversamos e isso tem nos salvado de várias situações desnecessárias. Sou intensa e quero tudo para ontem. Tenho trabalhado nisso. Ele é calmo e tem o tempo certo e organizado para cada coisa. Tenho aprendido muito com ele. Espero que ele também tenha aprendido coisas úteis comigo. Somos completamente diferentes de tempos, ritmos, vontades, não temos a Arte em comum, amigos em comum pouquíssimos e por aí vai. Mas a gente se gosta para caramba e isso basta! 

Enquanto eu passeava rolava Gatzz, Estátuas Humanas (primeira vez em 10 anos que não fiquei na apresentação) mas deixei tudo organizado para sair tranquila. E falando de Páscoa e estátuas humanas, o texto deste ano, que escrevi encerra exatamente com a frase : somos seres de passagem e estamos em constante travessia. Espero que a minha, a tua travessia, a do mundo seja a mais evolutiva possível, que a gente aprenda sem sofrer tanto, tudo o que precisa para sairmos daqui melhor do que entramos. 

Feliz Páscoa a todos! (independente de crença...)
Sem ovos. Sem coelho.
De reflexão e escolhas saudáveis...

Lisi Berti


Somos seres em travessia...






sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Foto de Paula Vinhas



Todo ano a cada intensivo e imersão, eu espero um pouco, passar alguns dias de reflexões e sensações e escrevo. Ainda acho que escrever é a melhor forma que consigo me expressar, dentre tantas outras. Pois bem. Fevereiro de 2022. A Nova Terra recebe dez participantes para mais um intensivo Você e sua Verdade (este ano mudei de Ator e sua Verdade para este nome). 

De todos os exercícios feitos em 12 anos, somente um foi repetido, a escolha da música que neste momento "representasse" a pessoa, sua história, sua "verdade". Comecei jogando uma caixa vazia no centro do círculo, convidando a todos a "pensar fora da caixa"e que naqueles 3 dias íamos literalmente, esvaziar a caixa, reorganizar a caixa e colocar novas formas e ideias para irem para o mundo.

Copeau (um dos teóricos que alicerçou o trabalho este ano) diz que "aqueles que se afastam do teatro e o desprezam, a pretexto de que ele é uma arte convencional, não entendem absolutamente nada dele. Pensam em artifícios baixos, em truques grosseiros que nada tem a ver com o teatro vivo." O que eu proponho no intensivo é mergulhar nas próprias dores, identificá-las e aproveita'-las conscientemente num processo criativo. Um mergulho em si em primeiro lugar, usando o teatro como a ferramenta de comando. 

Pois bem, destes 10 participantes, metade eu conhecia, muitos ex alunos, outros nunca tinha visto, e essa mescla foi extremamente interessante. Muitos não eram atores, outros aspirantes, outros nunca haviam pisado num palco. Mas eles tinham algo em comum: DOR!
Quando falo em DOR leitores, falo desde pequenas dores as mais pulsantes, necessariamente não em tragédias, até porque não sou terapeuta, psicóloga ou psiquiatra e não tenho ferramenta para lidar com isso a fundo. Respeito demais cada participante e sempre falo, faça o que sentir, mas somente se QUISER, ninguém é obrigado a nada neste curso. 

Eu proponho um "apresentar"  e não um "representar". Independente da área de trabalho, como posso trabalhar minha verdade e transmutar minhas dores para auxiliar no meu dia a dia dentro do meu processo criativo, seja ele, qual for.  O ator improvisador se deixa surpreender – momento de atenção e silêncio - e, de seu estado de “não saber previamente”, mobiliza-se em direção à expressão dramática sem subjugar-se à justificação discursiva. Há um relato de Copeau, em 1931, no qual, ao selecionar a turma de jovens aspirantes para a sua companhia, fala da intuição ativa que busca, no lugar de um saber fazer ou as aparências do talento, uma “escuta ao fundo natural de cada um, a qualidade de um sorriso, um gesto surpreendido fora da cena, uma palavra talvez ditada pelo coração” (COPEAU, 2002, p. 99). A surpresa é o desafio do ator improvisador: capturar as variáveis do instante, a luz, a sonoridade, os fluxos de um movimento, os conflitos oferecidos pela ação, a engenhosidade, a imaginação em pleno exercício, a economia e precisão do gesto até chegar, posteriormente, à palavra justa.

Sair da zona de conforto. Permitir-se. Não julgar, não racionalizar. Não tentar explicar. Ser, apenas ser. Sempre comento no curso que as emoções irão fluir e peço que não se abracem ou interfiram no processo do outro com "palavras de consolo" ou "achismos". Haverão momentos para isso, mas no âmago dos exercícios, o importante é OUVIR e SENTIR. Bem difícil no mundo do "click" e da urgência em achar explicação para o que não necessita ser explicado. Voltemos aos dez participantes.

Cada um chegou com o "pé atrás", armados, tensos, cheios de expectativas. Uns reclamando do ponto de encontro, outros chegando em cima da hora, chuva (eu adoro), energias distintas. Idades distintas, experiências distintas. Começa os trabalhos. Analiso, sinto, sigo o fluxo. Me deixo levar pela minha intuição para conduzir o grupo. E que grupo! Vozes potentes (inclusive para canto), corpos disponíveis e improvisaDORES, textos rimados, falas cantadas, raiva, grito, movimento e claro, ela se fazendo presente, nossa DOR de cada dia. Houve quem quis desistir e não desistiu, houve quem quis driblar a dor, não conseguiu, houve quem fingiu que já a dominava e foi desmascarado. Vejam, não quero provar nada a ninguém, não sou dessas. Só quero mostrar possibilidade de um caminho, em momento algum digo que este é o único caminho ou o certo, mas na estrada da vida há muitos atalhos, caminhos, rotas para o mesmo destino e nem por isso você deixa de chegar. Cada um tem seu tempo. 

Vi cenas que me emocionaram profundamente. Ouvi discursos desfeitos em lágrimas onde  a palavra não cabia ou  já não dava conta. Reconheci pessoas que convivia, nesse reconhecer me vi um pouco em cada uma e ao mesmo tempo em nenhum deles. Trabalhar a escuta, auscultar todos os sinais que organizam a vida: momento de trabalhar as habilidades, seguindo a relação disposta por Copeau, e que se evidencia pela busca das mais variadas linguagens que possibilita a criação em cena. Segundo o mestre francês, o desenvolvimento das habilidades corporais deveria ser acompanhado por um crescimento interior do ator e essa atitude tinha como substrato um conceito atribuído ao filósofo Henry Bergson, o “impulso vital”, no qual o intuitivo precederia o racional, nutrido pelos exercícios com máscaras, pela música e pela dança. Nossa caixa foi a máscara, nossa música foi nossa verdade, nossa dança foi um "baile pessoal com a dor".

Também chamei uma fotógrafa mulher, a Paula Vinhas este ano, pois queria um olhar feminino sobre o meu trabalho. Sempre foi o Sérgio Azevedo meu fotógrafo oficial, adoro o trabalho dele, mas quis experenciar esta nova ideia. A Paula me trouxe uma outra perspectiva do meu trabalho. Segue um pouco do olhar dela, creio que as imagens falem por si.
































sábado, 1 de janeiro de 2022

O "peso" da virada


O ano de 2021 acabou. 2022 começou. Errado! O ano continua, mudam os números mas tem cenários que não mudam. Acho que de todas essa foi a "virada"mais pesada dos últimos anos. Falando em energia. Em zero expectativa. Escolhi não trabalhar, passei muitas viradas trabalhando, desta vez me dei ao "luxo"de parar. Estaca zero. Não teve comilança. O pouco feito e comprado nem foi comido. Não teve aquelas bebedeiras. Nem teve brinde pois me perdi no horário do relógio e quando vi já tinha passado da meia noite.

Tudo estranho.Tudo simples. Zero rede social. Não respondi as mensagens de ninguém. Fiz questão de nem mexer muito no celular. Estava com quem queria estar, no lugar que deu para estar : minha casa. Mas era no Salto que gostaria mesmo de ter virado meu ano. Enfim, não temos o que queremos mas o que precisamos. Isso é muito certo! Eu não fiz nenhum tipo de lista com metas (eu sempre fazia). Minha meta é viver e não mais SOBREVIVER, isto tem me cansado demais. Acabei o ano com saúde e com minha família bem (cada um num canto, mas todos bem).

Acordei com um vazio absurdo, como se algo tivesse sido arrancado. Eu sempre tento entender, mas não tem muito o que entender. Sentir, sentir e sentir. E por sentir demais, meu corpo também sentiu. Sinto que é hora de deixar várias coisas. Sinto que não estou no lugar certo, sinto que preciso parar de correr. Mas não vou falar dos meus "sentir", acho que fiz isso o ano todo. Começo esse ano com muito trabalho, graças a deus. Não posso me queixar nesse quesito em 2021. Trabalhei muito e com muita gente bacana.

Esse texto vai ser curto, porque também preciso parar de focar na escrita do "eu"e perceber o entorno. Eu desejo sinceramente que tenhamos um ano mais leve, politicamente, economicamente, sanitariamente, educacionalmente, etc. Nós, brasileiros, temos passado por muitas coisas e a gente tem perdido aquele brilho e garra absurda. Que a gente se encontre, aprenda a votar melhor, pare de comparar, trabalhe as próprias nhacas e por aí vai... estou tão "vazia" que nem sai nada de escrita. Acho que vou encerrar por aqui. 

Feliz 2022 para quem "virou". Acho que ainda estou embalada pelo 2021 que foi um atropelo. Me sinto atropelada pela vida. Cambaleante e seguindo. O pouco que dormi essa noite sonhei que limpava e corria para levar mãe e filhas para lugares. Me cobravam. E assim é a vida real. Cobranças. Prazos. Correria sempre. Eu sempre preciso dar um jeito, mas quando eu preciso tenho que dar jeito sozinha. Não quero mais ser assim. To perdendo muitas coisas, talvez esteja ganhando outras. Saberei. 2021 me testou em muitos aspectos. Chega de testes ok. Viva la vida! Por mais VIVER e menos SOBREVIVER. Mereço mais! Merecemos mais! Não acham?


terça-feira, 9 de novembro de 2021

Ventos Internos


Novembro de 2021. O ano acabando e nem conseguimos apreciar os dias. Tudo rápido. Tudo descontrolado. Tudo fora do lugar. Dentro e fora.  Um sufoco. Viver tem sido literalmente um sufoco. Estamos ainda juntando os cacos rasos do "pós pandemia". Não nos reconstruímos coisa nenhuma, não nos reinventamos, apenas sobrevivemos como pudemos. Foi cansativo. Tem sido cansativo. Um deserto de possibilidades. Pessoas quebradas geram outras pessoas quebradas. Pessoas transtornadas transtornam outras pessoas e assim sucessivamente. E no meio disso a gente se depara com os nossos aneurismas emocionais. Tudo aquilo que vinhamos jogando embaixo do tapete, sufocando, camuflando. 

Ventos internos sopram. Uivam com força dentro de mim e não adianta mais fechar portas e janelas. As frestas estão enormes. O vento transpassa. Cansa esse exercício de tentar abraçar o vento. Abrir-se para ser levada no centro do furacão é necessário mas dói essa movimentação. Ser o que se é, falar de verdade o que sente pode afugentar as pessoas que não escutam seus próprios sons, suas próprias tempestades. Não adianta fugir da chuva quando você não tem onde se abrigar. Olhar-se. Desvelar-se. Desnudar-se! Concentrar tudo em si, não nos outros como sempre fazemos. Esperar do outro pode ser fatal, porque jamais virá o que você quer. Virá o que você precisa, e geralmente você se decepciona porque alimentou expectativas.

Rasgar-se. Falar o que vai na alma, é bem mais complicado que só abrir a boca e buscar palavras certas que encaixam. Falar o que se sente de verdade, falar o que não gosta, falar os medos, as dores, os anseios e receber silêncios, é frustrante. Mas aí vem a grande revelação: o problema não é o outro, é tudo aquilo que você jogou sobre o outro para não precisar lidar sozinha com seus fracassos. FRACASSADA! FRACASSAMOS! De várias formas: como gente, como pais, como filhos, como empregados, empregadores, como amantes, como amigos, como humanidade. Sim, engula isso, você vai fracassar em algum momento em algum aspecto da sua vida. Alguns fracassam mais, outros menos, mas TODOS fracassam! Lide com isso! A grande lição a ser aprendida é como você lida com seus fracassos, com suas dores. É daí que vem sua maior fortaleza, se ainda tiver tempo para entender isso.

Será que somos apenas uma forma no espelho? Curvas, cabelos, rugas, barriga, uma aparência refletida. Lembrando que o espelho foi criado por nós mesmos, seres humanos. Criamos algo que muitos tem pavor, ou dificuldade de relacionar-se. Quando foi que demos ao espelho todo este poder? Será que ele nos vê com tanta profundidade assim? Reflete mesmo o que somos? Ou o que não somos? Ou como nos veem? E será que nos vemos de verdade? O espelho é um instante. Somos instantes mas estamos mais instantâneos. Queremos tudo com a urgência de ontem. Perdemos tudo pela pressa. Maldita pressa. Apressados comem cru e consequentemente mais (meu caso). Tenho pressa violenta  de tudo e isso tem consumido minha cabeça, minhas ideias, meus dias, meu sono. Estou com saudade de sentir calma, paz interna. Lucidez! Nem lembro mais como é isso. Me sinto sempre no abismo, atrás uma constante pressão e vou colocando o pé na frente para evitar a queda que virá. Inevitavelmente.

Mas eis que dentro de mim também tenho a rosa dos ventos, todos os pontos colaterais. Só preciso seguir uma direção e no fundo sei bem que sou eu o leme da minha própria história. Não adianta querer perder o rumo. Navegar em si é preciso! Há ventos internos esperando novas rotas. Eu, com minhas ideias quase explodo. Tento expressá-las quando confio, mas percebo que é difícil o entendimento. E já não quero mais me fazer entender. Respiro. Organizo os pensamentos. Observo em volta. Saio. Me sufoco com pensamentos maléficos sobre si mesma. Preciso me apropriar de todo o meu poder pessoal. Preciso me apropriar do meu valor. Do valor das minhas ideias, da planície certeira da minha intuição. Tenho sido honesta comigo. E você? Tem sido consigo? De verdade?

Canso. Até escrever esta semana ficou difícil. Geralmente não é. Mas escrever o que para quem? Qual valor da minha escrita? Até onde ela vai, e se vai, porque vai? Entendem? O que estou fazendo? Indo! Ultimamente só vou. Mas vou onde me querem. Onde me aceitam. Onde posso fazer diferente. Até quando? Espero que breve! Que passe todo esse gosto amargo na minha boca. Que passa logo essa sensação de inutilidade absurda das minhas horas. Que passe logo a dor de cabeça que nunca pára junto com os pensamentos atordoados. Que passe logo a palpitação no peito quando penso determinadas coisas. Estou há alguns dias mexendo num lodo interno compreendem? E eu fiz de propósito. Quanto mais dói, mais mexo, mais cutuco a ferida. Que abra e sangre! Que verta o sangue coagulado, que limpe para receber a transfusão necessária do que vem por aí.

E sim, vem muitas coisas boas e grandes por aí. Por isso a limpeza interna. Não sei se sentem como sinto, Não estou em crise, ou pensando em fazer bobagem, estou escrevendo apenas sobre algumas sensações. Escrever me alivia. Me coloca num estado sempre melhor de quando comecei a primeira palavra. Talvez você que me lê, caminhe, ou escute música, ou faça algum esporte e sinta esse alívio. Importante é descobrir em tempo. Estou me abraçando, me redescobrindo e me preparando para o novo ciclo dos 45. A maioria adora fazer aniversário. Eu já gostei mais, hoje trabalho a minha mente para "é só uma data qualquer", um número. Fim. Somos números já pensaram? Número do cpf, da certidão, da placa do carro, do óbito, da casa, da conta bancária, da casa, dos vacinados, do populacional do planeta. Apenas um número entre tantos outros números. Algoritmos na internet.

Cansei! Aqui também somos números de caracteres e creio ter extrapolado os meus. Foi um bom momento com essas ideias e constatações, quero registrar para quem sabe usar numa peça ou texto dramático. A ideia do blog é isso, escrever para se reler, reaproveitar ou apagar. Nada mais. Simples assim. Me despeço caríssimos, espero que vocês tenham tido um bom dia, eles estão raros ultimamente, e geralmente são bons quando despretensiosamente nos acometem. Minha dica: não crie expectativas sobre nada ou ninguém. (quase impossível mas dá para controlar) Vai evitar muitas dores de cabeça.

No mais, tome um café, mande mensagem a alguém importante para você. Verbalize. Não deixe passar. Não espere nada. Dê o seu melhor, e seja sempre, impreterivelmente honesto com você. 

Até loguinho!

Sigo.

Lisi Berti (estou bem gente, só escrevi o que me veio nas estranhas)


domingo, 26 de setembro de 2021

Sou um coração batendo no mundo

 

Vocês que me leem devem pensar: "Lá vem ela...". Calma pessoal, tentei três vezes escrever aqui na semana que passou, deletei uns textos, salvei rascunhos, mudei tudo e recomeço. As sombras não estão me dando trégua ultimamente, então preciso vencer umas batalhas diárias que começam pelos meus pensamentos e se alastram pelo corpo e memória. Pareço que nasço a cada dia de um parto difícil. Mas ainda assim, nasço! Com um coração que insisti em bater forte. Um coração que já passou por algumas "paradas secas e bruscas"mas é insistente. Não me ensinaram a amar. Fui aprendendo no dia a dia da vida. Amar pessoas, trabalhos, coisas, filhos, família, amigos, amores. São formas distintas de uma única ramificação. O mundo tem me ensurdecido tanto que tenho buscado ouvir só o que vale a pena, exercitado um "falar" também para quem realmente me escuta.

Escrevo depois de desmoronar na noite passada em um pranto, leve até, baixo, mas na frente de outra pessoa. Cada lágrima um borrão. Mas eu segurei onde pude. Achei ironicamente que conseguiria mas me dei conta que eram lágrimas de dias, meses, talvez até de outras vidas. Tem passado tanta coisa no íntimo particular. Tantas provações. E provocações. Nascimento e morte. Tentei achar palavras e expressar tudo que pensei/senti mas acredito que não tenha sido tão clara. Acho importante tentar. Há pessoas que valem nosso esforço. Nosso melhor. O que irão fazer com isso é da conta delas. A nossa é buscar a maior autenticidade e verdade possível.

Tenho hoje e vivo exatamente o que meu coração pediu. E tudo é fantástico e me apavora. Até as palavras certas na verbalização me escapam, pois quero usar sempre as palavras certas para não ser interpretada erroneamente. Quero ter o cuidado de não cometer erros passados, quero ter a leveza de viver algo que agrega e não me aprisiona. Usei o verbo "querer", perceberam? Me vem a frase que só "querer" não é poder. Existe uma malignidade nisso, percebem? Quase uma profecia. Exorciso meus demônios do passado quase sempre. Corro riscos. Corro risco de parecer idiota. E sou! Corro risco de parecer infantil. E sou! Corro risco de parecer apaixonada demais. E sou! Corro risco ao escrever, ao falar, ao sentir. E sempre escrevo, falo e sinto. Eu gosto de correr riscos. Sempre gostei. Não tenho medo do inseguro, não tenho medo de parecer fraca, nunca tive medo de errar. Estou vivendo algo que jamais imaginei que pudesse viver. Chega a ser desconfortável às vezes, porque estou numa área que não domino. (Outro verbo "dominar").

Não sei o que passa comigo. Mas tenho recebido tanto que às vezes me assombra a dúvida. É isso mesmo, Senhor? Procuro ser sempre franca e meu jogo é limpo. Sou honesta comigo e com o outro. Abro o jogo. Sai aquela verborragia fatal nas horas incandescentes, inapropriadas até. Elas saem. Tento frear. Não sou boa fingidora quando o assunto é coração. Meu coração sempre bateu forte pelo mundo. Mas poucos se deram ao trabalho de ouvir. Alguns apenas usaram, despedaçaram. Zombaram do som que ele tinha. Recuso-me a silenciar meu coração. Me aprofundo nele todo dia. Escuto ele mais que nunca. Ele sempre me prepara. E desta vez me preparou de uma forma evolutiva. Cada dia um pequeno desafio para que trabalhe algo em mim. O outro é meu espelho. Fico em constante vigília porque tenho medo que se quebre tudo de novo. Inevitável!

Estou perto de completar 45 anos.Não brigo com o espelho. Gosto da mulher que vejo, gosto do coração que levo. Extremamente generoso. Grandioso. Verdadeiro. Sinto como adolescente. Tudo é novidade. Tenho pressa. Tenho desejos. Tenho vontades. Algumas esperam, outras não devem esperar. Abdiquei de tolices, ciúmes, discussões. Vivo um outro tempo, um momento quase mágico onde tudo funciona. Inacreditavelmente tudo entre nós funciona. Até quando discordamos. Melhor ainda quando discordamos. Eu nunca tive alguém que me deixasse a vontade, livre, deixando eu ser quem sou. Sem teatro, se é que me entendem. Eis aí meu problema, sou a rainha dos medos e isso me atordoa. Sigo a voz do coração. Ele me emociona. Ele me encanta com sua inocência madura. Precisava sentir isso. Como sinto. E vejam, não estou falando de paixonites, de apenas estar com alguém. Estou falando de se REencontrar em outro alguém. Sinto como se havia uma parte de mim solta, vagando pelo mundo que agora se encaixou num outro contexto, mas sem mudar a essência. Isso é tão incrível!

Eu conheço ele todo sem conviver com ele. Talvez meu escrever não faça sentido algum para vocês que me leem, mas não é para fazer sentido. Se leram até aqui é porque de alguma forma me compreendem. Ou passaram ou querem passar por isso. E digo, vale cada minuto das merdas inteiras do passado. Vale a constância. Vale cada lágrima escorrida e banida de dentro. A comunicação é tão forte que às vezes nem precisa comunicar. É difícil falar do que não se pode ser dito. Tornamo-nos UNOS. Separados. Como traduzir o que sinto? Como fazer entender que por vezes meu coração salta pela boca? Talvez seja um estado agudo e louco de felicidade. Danem-se! Não me importa o que dizem. Estamos numa comunhão perfeita. Tão perfeita que às vezes, por medo, quase coloco tudo a perder. Peço desculpas pela intensidade dos meus abraços, da minha escrita, das minhas palavras, do meu choro, das minhas mordidas, dos meus desejos. Eu sempre fui assim, só que secretamente. Contigo não preciso esconder-me.

Mas para que escrever tudo isso aqui? Talvez você nem leia. Outros que nem te conhecem ou nos conhecem de verdade lerão. Na verdade tenho muito amor aqui dentro e às vezes não sei como usar. Como tantas outras pessoas que não foram "ensinadas a amar". Tenho tanto amor que me inquieta. Me dá soluços. Amem antes que seja tarde demais. Continuo correndo perigos. Tudo bem. E o que me espera, como você e outras pessoas é que não sabemos o que nos espera na verdade. Lancemo-nos nisso. Sem piedade. Sem culpa. Apenas sei que tenho vivido os melhores dias da minha vida, apesar da loucura da própria vida. Para ti sempre haverá espaço, tempo, pausa, resposta, respeito, silêncio, voltas e recomeços. Tu me ensinaste de verdade que se pode amar, sendo livre. Sendo leve. Sendo eu. Tu tens me ensinado que a família é o bem mais valioso e mesmo não sendo perfeita, é minha família. Honro! Te honro! As mãos mais calorosas e amorosas da minha vida. O homem mais imperfeito e perfeito para mim. 

Todas as noites, antes de dormir, agradeço. Geralmente vem uma frase tua. A coragem de continuar sendo eu, contigo. Se soubesses quanta coragem para abrir meu coração de novo foi preciso. Mas sei que sabes. Te admiro por me suportar tanto tempo. Não sou fácil, mas também não é difícil me entender. Basta querer. E sei, lá do fundo que me queres!
Sou um coração batendo no mundo...mais feliz depois da tua existência nele.
Segredo nosso! A e B. Aqui palavras soltas. Entre nós sempre as palavras com gestos simples e significativos. 
Termino aqui esse "desabafo transfigurado de realidade". Precisava escrever para a catarse. Assim me regenero do ontem. 
Mas por favor, o que é que significa tudo isso que estou escrevendo aqui?
Sou menina dentro do corpo mulher/mãe.
Basta que meu coração bata no peito. 
Isso me basta!
Estou feliz! O que estraga minha felicidade é meu medo. Mas vou melhorar isso. Prometo!

Lisiane Berti



domingo, 22 de agosto de 2021

Quando a gente se encontra nos "cafundó" da vida...

Vista da janela do quarto da Pousada Cafundó



Sábado. Cerração. Frio. Chuva. Dia não muito atraente para pegar a estrada e finalmente conhecer a Pousada Cafundó em Cambará do Sul. Duas vezes eu tinha feito reserva e cancelado por motivos de trabalhos. Saímos pela manhã. No meio do caminho, depois de uma pausa no Café Tainhas (para um café preto sem açúcar), o tempo foi abrindo, como se estivéssemos saído do filme "As Brumas de Avalon"e entrando em uma "matrix", com sol e tempo aberto. Chegamos! Cheguei! Finalmente, após uma pequena espera para check in.
Escadaria. Vista de tirar o fôlego. Silêncio. Vento. Pássaros. Ovelha recém nascida gritando ao longe. Coaxar dos sapos. Mas não estou aqui para falar dessa visita tão esperada, estou aqui para falar dos "sinais" que a vida me deu, sobretudo nesse fim de semana. 
Vamos começar pelo nome do local:

Cafundó -  baixada estreita entre encostas ou lombas altas e íngremes. Local de difícil acesso, esp. quando situado entre montanhas ou quando longínquo e pouco habitado (tb. us. no pl.).

Se me dissessem há uns anos atrás que eu iria para lugares assim, literalmente me esconder, eu riria e diria jamais! Meus pais moraram longe na minha infância nos "cafundó do Judas" perto da Usina da Toca e eu sempre fui incompatível com natureza. Era, pelo menos! Sentada no banco de madeira da pousada, olhando exatamente a imagem acima, vendo as árvores balançar me dei conta  que ultimamente, ando trabalhando em lugares que jamais imaginei ou dizia que não trabalharia, ando cada vez mais me esquivando de gente (logo eu que sempre trabalhei com várias pessoas). Comecei um livro que já era para ter sido terminado há pelo menos dois anos. Parei, me perguntei o que de útil esse livro vai servir? Escrever só por escrever? Não, precisa realmente fazer a diferença. A pesquisa de 10 anos pareceu não ter sentido na pandemia. Mudei tudo, comecei do zero, reescrevendo página a página. A primeira coisa que ouvi na chegada do recepcionista da pousada após dizer que finalmente ia conhecer o lugar que duas vezes cancelei, ele ri e responde: "Que bom que não desistiu, veio na hora certa e tenho certeza que vai voltar". Sim, vou escrever na hora certa e com certeza vai ser mais significativo. Universo me manda recado um.

Seguimos com os relatos e meu super "tetiateti" com o Senhor Universo. Noite cai. Frio. Vento. Muitos papos. Papos sérios, risadas. Música boa.  Desligo o celular. Chega de receber mensagem de trabalho. Hora de desligar mesmo. Noite em que sonhei muito e apaguei. Sonhei com pessoas que trabalho há anos, que me levavam em reuniões (das quais eu tive de deixar pessoas esperando) e na hora de entrar para a reunião me deixam do lado de fora. Acordo com a sensação de que novamente estou dando atenção demais a quem se preocupa comigo só quando precisa. Não podemos cometer esse erro Lisiane Berti, de carregar os sonhos dos outros nas costas, você já fez isso uma vez. Acorde. Acordei e tive a certeza de que meus últimos "nãos" para o trabalho foram corretíssimos. Ok Universo, mensagem dois recebida com sucesso. 

Voltamos. Antes um abraço apertado. Daqueles que a gente não quer que acabe porque tem medo de voltar para a dura realidade. Daqueles que te sente pequena (e olha que ocupo espaço). Afeto. Abrigo. Eu nunca fui muito de abraçar, até uns anos atrás minha filha me cobrava muito isso. Hoje é uma das coisas que mais faço. ABRAÇADORA! Cortamos caminho. Fotografei dois túmulos, paisagens, casas que foram importantes na vida da pessoa que estava comigo. A vida. Os sonhos. As pessoas. Mudam todo o tempo. O que fica? O que você carrega no seu corpo: memória, história, conhecimento e vivência. O resto é pura bobagem. Sentimos a nostalgia ali. Eu escrevo, meu queridinho relembra a vida, a infância, os tempos ligados a natureza. Respeito. Respeito absoluto pela história dele. Pelas vivências dele. Viver o hoje! Universo me faz entrar na estrada de chão batido feito de simplicidade e pó, para não esquecer exatamente disso: tudo acaba em pó. Aproveite seu dia. Não corra tanto. Dê valor a quem quer estar com você.

Almoço. Visitamos um amigo. Acho que foram 30 minutos para colocar a vida em dia. O amigo em questão fala sobre estar a 50 anos no mesmo trabalho, sobre estar sozinho e bem, sobre ter vivido o que precisava, sobre não ter problemas, sobre ter a melhor vista da cidade e curtir a solitude. Sobre SER e não sobre TER. Outro café. Outro recado: a vida é para os corajosos. A vida é para quem não tem vergonha de dizer "não deu certo", "eu tentei mas não consegui". Fracassos são eminentes. Vem e vão. Fracassei em muitas coisas na minha vida. Em empregos, amigos, amores, faculdades, escolhas que achei que eram as melhores e não foram. Fracassei bravamente. É provável que ainda fracasse mais e melhor. Mas todos os fracassos me trouxeram a esse entendimento de vida. De um pouco de maturidade depois de muito bater a cabeça. Tá bom Universo, seguirei tentando. Fracasso aqui, sucesso ali. Tudo efêmero!


Pés no chão, olhos no mundo, no meu mundo

Voltamos. Voltei. Mil reflexões. Pensamentos. Divagações. Em casa recebo um abraço da Helena e um "como foi mãe, se divertiu?" da  Ísis. Espero que minhas filhas tenham os aprendizados delas e se tornem boas pessoas, por hora já são. Cada uma tem um lindo caminho pela frente , mas sei que não serão belos e fáceis todos os dias. Meu queridinho vai para a casa com seu fiel cachorro. Vou para a minha. Imagino do lado de lá o que se passa, o que ele pensa e sente. Tenho meu entendimento, ele o dele. Talvez para ele tenha sido apenas um lugar para passar o fim de semana. Sem stress como ele diria. Para mim foi um misto de muita coisa. Tem muitas outras coisas que poderia discorrer aqui, mas prefiro apenas guardar na memória, bem escondido, para ninguém ver e saber mesmo, porque não interessa. 

Escrevo na primeira pessoa, no meu blog, coisas bem pontuais e pessoais. Espero que desse lado aí, de alguma forma, você também pare um pouco para prestar atenção aos "recados do universo", eles são corriqueiros quando você realmente escuta, ouve, sente. Há quem ache isso uma grande bobagem e está tudo bem. Respeito. Cada um com seus argumentos. Está tudo certo. Cada um sabe dos seus "cafundós", dos seus lugares perdidos no meio do nada. E justamente nesses lugares íngremes, perdidos, seja no campo ou na memória é que você vai encontrar as respostas que precisa, com quem precisa e do que não faz mais sentido na sua vida. Aproveite para esconder-se e achar-se. Aproveite os raros momentos de "difícil acesso" a você mesmo. A vida nos atropela o tempo todo! Eu me deixei atropelar durante muito tempo, por bobagens, mesquinharias, por pessoas, coisas, medos bobos. Ainda deixo às vezes, mas agora com menos frequência. 

A vida da rede social tem me deixado cansada. Muitas das pessoas que admirava e gostava postam  X e fazem Y. Quanto mais vejo os bastidores mais me decepciono. Não sou santa, também erro, faço idiotice, me arrependo. Apago. Deleto. Mas tenho tentado realmente ser "útil" em todos os sentidos. Tempo é preciosidade. Tempo é vida. Tempo nunca deixou de parar. E nestes tempos pandêmicos, avassaladores, cansativos, difíceis, procuro do meu jeito, entrar em contato "cá com meus cafundós, remendando emoções", falando o que sinto sem esperar nada. Detalhe, falando a quem ouve de verdade, sem gastar energia com quem não quer mudar.
Sigo. Seguimos! 
O medo me faz duvidar às vezes de muita coisa, as cicatrizes dos tombos passados me lembram que preciso ser mais cuidadosa comigo. Não posso mais me dar ao luxo de brincar com minhas emoções. Na dúvida, saio de fininho, sem chamar atenção e vou para casa. A liberdade de poder ir e vir. Fechar portas. Entregar a chave na recepção e agradecer por tudo. Até a próxima, talvez. Ou não!
Não sabemos! Ninguém sabe muito na verdade.

Lisiane Berti



domingo, 11 de julho de 2021

Fundação Cultural de Canela encerra atividades

 


Sérgio Azevedo Fotos


Li com muita tristeza e na corrida na sexta (09/07), a matéria do Jornal Nova Época de Canela, com uma foto da atual presidente Glenda Viezze, falando que depois de 30 anos a Fundação Cultural de Canela irá fechar. Passou "batido" no primeiro momento, mas depois com calma fui me inteirar e a primeira coisa que fiz, foi falar com a a própria Dona Glenda, a quem respeito e estimo muito e não é de hoje, para entender e depois me posicionar aqui, no meu blog, porque sei que quem vai ler, será por curiosidade ou porque realmente se preocupa com a cultura da nossa cidade.

Deste tempo todo de Fundação eu acompanhei quase desde o início quando sua sede era ali, no prédio onde hoje é a Estação Campos Canella, embaixo da então Biblioteca Pública. Hoje ela tem uma sede própria com o Espaço Nydia Guimarães, aos fundos da Churrascaria Espelho Gaúcho, a casa colorida da esquina.  A Fundação foi criada lá atrás por uma necessidade, de dentro da prefeitura e porque as verbas naquela época, precisavam de uma entidade para poder utilizá-las. Hoje tudo mudou, agora precisa ser a própria prefeitura a adminstrá-las com editais e licitações.  Durante anos a Fundação teve como "carro chefe" o Festival de Teatro de Canela, o Festival Internacional de Bonecos de Canela ( se mantém capenga mas ainda existe graças aos esforços da entidade e a boa vontade do atual prefeito), entre tantos outros eventos e inclusive editais nacionais ganhos. 

Eu, que não sou hipócrita, questionei algumas vezes o papel da Fundação. Houveram épocas que eu achei ela muito "fechada" e não entendia porque sempre os mesmos, estavam a frente, num conselho fechado, trocando apenas as cadeiras da diretoria. Isso algumas vezes me incomodou profundamente. Mas, como disse, não sou hipócrita e em 2016 assumi o Departamento de Artes Cênicas da Fundação Cultural e de quebra coordenei em 2016 e 2017 o Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Canela. Ali, vi de perto o bastidor da coisa toda. Ali vi como funciona a máquina pública, os editais, as negociações e a dificuldade que já naquela época a Fundação enfrentava. Se não fosse esse mesmo conselho fechado, que não recebe salário algum para trabalhar (a direção não pode), talvez ela tivesse sido extinta bem antes. 

Presenciei de perto, ao lado da Dona Glenda (falo dela porque foi ao lado dela que mais trabalhei) e da Zita que faz (loucamente e brilhantemente a parte burocrática e prestação de contas) que vi muita coisa, passagens aéreas sendo pagas pelos bolsos da própria para que os artistas pudessem chegar ao festival e sem uma certeza se receberia de volta ou quando receberia, vaquinhas para pagar luz e água, projetos, batidas nas portas do empresariado local e comunidade que por sinal sempre abraçaram como puderam a causa entre tantas outras coisas. Vejam bem, não escrevo aqui para defender ninguém, escrevo pela indignação que me causa mais uma vez nossa cidade perder algo de tamanha importância, porque sim, independente de partidos , e mais ainda por ver posicionamentos e "lamentações" de  alguns artistas locais que sempre falaram mal da entidade ou ficam até hoje em cima do muro, sabe aqueles "neutros"que precisam garantir um "cachezinho" básico no natal ou páscoa, mesmo que mísero, e garantem assim a sua "sobrevivência" temporária ficando de "bem"com todos, porque assim, conforme quem entra, ou o partido "x" eu garanto de novo meus "cachezinhos" e posto na rede social como sou produtivo. Pró ativo até! Bonito, não?

Não perco meu tempo respondendo ou criando polêmica em rede social com gente que nem sabe da história cultural da cidade mas adora bisbilhotar e falar mal. Informem-se antes e façam o favor para si, de estudarem ou no mínimo pesquisarem para depois tecer comentários. Tudo que está acontecendo conosco, agravado ainda pela pandemia, é resultado daquilo que plantamos, ou deixamos de plantar, ou ainda largamos nas mãos de quem não entende "patavinas" de cultura e está no poder. Sempre foi mais ou menos assim. Minha escrita é um grande puxão de orelha a alguns  "colegas artistas" (sim eu posso fazer isso, porque não comecei ontem e sempre trabalhei pela cultura local, bandeira essa que sempre levantei nos eventos, entidades, escolas e lugares por onde passei). Por onde andam vocês? O que fizeram além de apresentar projetinhos focados no próprio umbigo? Fazer postagem em rede social não é posicionar-se queridos, quando fundação precisou do apoio, por onde vocês estavam? Em 2016 uma das primeiras coisas que fiz no Departamento de Artes Cênicas foi convocar todos os que trabalhavam com teatro e Arte na cidade (inclusive os que se odiavam) para uma reunião, para que a gente pudesse pensar e trabalhar juntos, em prol de todos nós e pela comunidade. Para minha supresa, a grande maioria foi, mesmo com olhares atravessados, conseguimos fazer algumas coisas juntos, como o Dia da Arte Livre, o Projeto 3x4 em Canela (focado em buscar a identidade local e propor uma programação mensal em diversos teatros, quando os tínhamos, na cidade). Ainda como coordenadora do Bonecos , apoiada pela Dona Glenda, propomos oficinas de teatro gratuita com os bonequeiros internacionais (afinal eles vinha, ganhavam cachê em euros, comiam do bom e melhor, apresentavam e o que deixavam a cidade e aos jovens bonequeiros?). Também foi com a Dona Glenda que aprendi a ir bater de porta em porta com elegância, usar do currículo artístico e envolvimento comunitário com respaldo para pedir apoio e ser sempre bem recebida, e foi justamente num desses festivais que sugeri homenageá-la com a banda marcial da Escola Neusa Mari Pacheco na abertura de um Bonecos com a música favorita dela. Ela merecia e merece muito. (foto desta postagem)

Meu "bravo" e obrigado de verdade a todos os conselheiros da Fundação, amigos, pessoas envolvidas que doaram tempo, ideias, projetos e horas de trabalho. Não foi em vão. Nunca é! Mas pra mim, atualmente, a Fundação e muito da cultura canelense se resume na pessoa "Dona Glenda", ela sim, lutou muito por muita coisa que a comunidade artística nem faz ideia, muito antes da criação da Fundação e justamente por todas as vezes que a entrevistei, convivi e trabalhei com ela, decidi hoje (domingo) ligar e saber como ela estava com tudo isso. Emocionada ela me respondeu, elegante, mas num tom de voz triste, de quem entregou os pontos mas acredita ainda na luta, nas novas gerações de artistas (eu não sei se acredito mais). Ela ressalta: "A Fundação não estava mais conseguindo cumprir com seu objetivo, todos os conselheiros foram unânimes, era hora de encerrar os trabalhos." A primeira mulher a entrar para o Rotary em 1998, uma das pessoas que viu de perto o nascimento do Festival de Teatro de Canela na Escola Cenecista, quando era diretora para evitar a evasão escolar dos alunos, o teatro foi uma estratégia que deu certo. A mesma mulher que acompanhou a compra e a polêmica do canhão seguidor em Canela, que encomendou um bolo de 50 metros e colocou na rua para comemorar os 50 anos da cidade.  Canela deve muito a Glendas, Sheilas, Nildinhas, Marinas, Romas, Catarinas e tantas outras mulheres que lutaram pela cultura. Canela vem perdendo sua identidade cultural e não é de hoje, e  não adianta apostar apenas em turismo, rótulas, asfalto, progresso. Nosso diferencial sempre foi o embrião comunitário. O pilar Arte/ Comunidade/Escola sempre geraram e gestaram nossos eventos (Sonho de Natal, Feira do Livro, Festa Colonial, Festival de Teatro, ...)

Mais uma página virada. Mais um história encerrada. Não é daqueles finais que a gente esperava, mas enquanto Canela se perde nos contextos identitários, Gramado alavanca (eu eu torço muito por isso mesmo porque trabalhei 10 anos concursada lá pela cultura também). Gramado soube se posicionar e correr atrás. Lá tem alguém certo, para o cargo certo que faz! Todos estão juntos focados em apoiarem-se, sobretudo nas políticas públicas. Canela me parece estagnou, patina nas mesmas demandas de 10, 15 anos atrás e se contenta, não encontro outra palavra, com o que tem. Como disse antes, se tiver meu "cachezinho" de Natal, tá bom. Se garantir "o meu", tá bom! E assim vamos afundando. Talvez quem me lê, diga ou pense : "mas quem ela pensa que é para dizer isso ou falar dos artistas?". Bom, eu não estou falando dos artistas e sim, de "alguns artistas" que se vendem mal, que puxam tapete, que fazem políticas errôneas, que fraudam projetos, inventam currículos, alteram dados para conseguirem seus projetos aprovados. Por causa destes mesmos, pagamos um preço alto para tentar ser justo e corretos e não ouvir sempre : "ah, mas vocês fazem qualquer coisa, são tudo igual"...

Os problemas estão aí. O cenário novo, pós pandêmico, sem o teatro (espaço físico) em Canela (outra luta perdida e talvez não muito questionada),  editais, licitações (nem todos são ruins quando feitos de forma eficiente), um descrédito cultural total com perdas como Festivais, Feira do Livro e agora o fechamento da Fundação. E virão outras perdas, outros eventos encerrados, não se enganem. Mas para que isso realmente não caia nos esquecimento, é importante lembramos que partidos vem e vão, entidades vem e vão, progressos vem e se desfazem, mas nós, nós comunidade, nós pessoas artistas, nós identidade, nós memória, nós ficaremos! Precisamos cuidar para não nos enclausurarmos em nossos nichos, em nossos teatros individualistas e acabar nos tornando prisioneiros da exploração comercial.  A simplicidade e o equilíbrio entre turismo e cultura são a maior força (ao meu ver ) da nossa cidade. Desde os primórdios quando João Corrêa viu aqui a  "ilha perdida no meio dos trópicos" e trouxe o trem, ou ainda lá atrás quando os imigrantes alemães como os Wasem foram se instalar lá no Caracol e viram um "mato de possibilidades", a Terra que sempre acolheu, que sempre preservou seu passado, origens, raízes. Isso é Canela! E sim, meus caros, devemos cada célula nossa a essa gente! Eles trabalharam muito e escolheram Canela para fazer história. Creio que é nossa obrigação preservar e lutar por estas mesmas memórias.

Acredito veemente nisso! Escrevo aqui, no meu blog, porque é onde me expresso com liberdade e respeito, mesmo sendo meu. Já fiz muito pela cultura local, talvez ainda faça mais, mas só luto e me expresso pelo que acredito. Não compro brigas que não são minhas. A maturidade vai nos ensinando a não ser tão trouxas. Nunca me filiei a partido político nenhum, realmente não encontrei uma sigla que me represente ou represente meus ideais. Mas foi no teatro, desde a adolescência e em Canela, que encontrei aquela chama, aquele pertencimento, aquele orgulho de bater no peito e dizer "sou canelense e participei dos anos áureos do Festival de Teatro de Canela".  Quem sabe precisamos (assim como sugere Dona Glenda ao conversar comigo) criar um núcleo de cultura teatral local, não uma Fundação, mas um núcleo ativo, sem levar em conta títulos ou partidos, mas a história e memória da cidade. Artistas comprometidos com seu tempo e sua Arte, uma renovação da cena cultural muito mais ousada, mais radical e eficaz. Falo de renovação e não de renascimento, pois o que já foi (falam sempre em voltar com o Festival de Teatro de Canela) não voltará mais, não nos moldes que foram extintos. Deixem os mortos descansarem e prestem atenção aos vivos (diz sempre minha vó).

O que temos de cultura viva e atuante em Canela em pleno 2021? Me ajudem , porque já não sei muito. Ausentes nunca tem razão! 

Lisiane Berti