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quinta-feira, 9 de junho de 2016

Sobre dias cinzas e o ensinamento que eles me trazem

Depois de dias ininterruptos totalmente cinzas, preparo meu chá (estou dando um tempo do café) e com os dedos gelados de frio, penso, respiro e começo a escrever. Esta semana mal tive tempo para respirar...
Dias cinzas são dias de mistura de preto e branco, dias em que não sabemos muito bem se vamos ou ficamos, dias que por si só não nos inspiram muito. Em um dia assim, saí correndo de carro para chegar no velório de uma das pessoas mais especiais para mim, minha tia, minha madrinha, minha amiga, minha conselheira...mal sabia eu que ao chegar teria de voltar pois minha filha passava mal na escola. Haja folêgo!Entrei, abracei minha prima sem dizer uma palavra, cumprimentei tios, olhei minha tia naquele caixão e logo desviei, era inacreditável demais para mim. Voltei! Dirigia rápido, ouvia música em meio uma e outra algumas lágrimas insistiam em correr...não dava para chorar agora. Força! Pego minha filha menor, 39,5 de febre, do nada e é claro que ela sentiu...ela sempre sente. Os dias cinzas se arrastaram, vários acontecimentos ligados a doenças, perdas, decepções e tudo ou quase tudo de ruim que podia chegar, chegou!
Houveram pessoas que falaram comigo que nem lembro o que disseram, eu concordava com a cabeça, mas não ouvia. Só lembro de estar totalmente presente em algumas poucas aulas de teatro e artes que dei. O resto foi cancelado! Seria bom cancelar os dias cinzas também, mas eles não se deixam dominar assim, São eles que dominam, nosso ar melancolicamente.
Noites mal dormidas, cansaço, garganta fechada, frio, mal humor...o cenário de um desastre ambiental.
Mas descobri que lido melhor com a dor do que com o amor, com o tempo a gente vai criando uma certa paridade com a forma de lidar com catástrofes, então me abalo pouco, logo me recupero. Penso sempre "ah mas isso não vai ficar assim", uma espécie de auto vingança benéfica, luto contra mim. Penso em como vou estar amanhã e trabalho para isso tornar-se real. Não me maltrato mais, a maturidade me trouxe discernimento para entender que eu sou a única responsável por tudo que me acontece. De bom e ruim. Essa semana uma parte de mim queria um abraço forte e apertado e outra parte pedia para não ser abraçada para não desmoronar na frente de pessoas que não entenderiam ou não tem nada a ver com a história. Não gosto de receber abraços só por receber, sabe aqueles abraços padronizados dados só por dar, assim como os "meus pêsames", ou "meus sentimentos" de pessoas que você nem conhece e que te estendem a mão. Sim, eu sei, são rituais. Rituais de passagem. Rituais tolos criados por nós, seres humanos. Me escondi dentro de mim e da minha dor, até que estivesse bem para sair e retornar a vida normal. Os dias cinzas começam a dar trégua, a vida não espera meu bem, ou você vai ou você é atropelado por ela. Gente lenta não tem vez. 
Eu gosto de dias cinzas e da melancolia e tristeza que eles me trazem...fui obrigada essa semana a parar...parar e ficar em casa forçosamente. E me dei conta de que há muito tempo não tirava tempo pra mim. Sempre tenho tempo para os outros e me deixo de lado. "Eu", sempre posso esperar para amanhã...
Escrevo feliz agora...escrever sempre me faz bem...sei que um ciclo bem complicado terminou essa semana e que era preciso. Era assim mesmo que devia ser. Está tudo certo. Foi doloroso, solitário...mas foi honesto!  
O cinza é neutro, é o meio termo do branco e preto e nem sempre conseguimos ser só "brancos" ou só "pretos", precisamos misturar nossas emoções e ficarmos cinzas e viver o luto interno e externo, também faz parte de nós...
O sol brilha lá fora. Quebrei o padrão, ensaiei e decidi tirar um tempo para mim... escrever foi uma das coisas...
Não vou mais perder tempo com coisas, seres e pessoas que não me acrescentam, se puder escolher, escolho autenticidade. Uma das características que sei, minha madrinha, se orgulhava de mim...

Saudades...

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