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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Os Labirintos da Vida


O labirinto do qual Teseu escapou, graças ao fio de Ariadne, fora construído por Dédalo, um artífice habilidoso. Era um edifício com inúmeros corredores tortuosos que davam uns para os outros e que pareciam não ter começo nem fim, como o Rio Meandro, que volta sobre si mesmo e ora segue para adiante, ora para trás, em seu curso para o mar.  Dédalo construiu o labirinto para Minos, mas, depois, caiu no desagrado do rei e foi aprisionado em uma torre. Pôs-se a fabricar asas para si mesmo e para seu jovem filho, Ícaro. Quando as asas ficaram prontas, pediu a ele que não voasse alto demais por causa do sol e nem baixo demais por causa da umidade. Os dois alçaram voo. Exultante com o voo, o menino abandona seu pai e tentou alcançar o céu. O ardente sol amoleceu a cera das asas, acabando por mergulhar nas águas azuis do mar que, daquele dia em diante, recebeu seu nome.
Partindo do mito, vamos a nossa vã realidade. Os piores abismos são os criados por nós, quando alimentamos ilusões, quando forjamos nossa intuição com inverdades construíndo castelos de areia, sonhos de mentiras...e acabamos presos. Presos em nós mesmos, e não existe pior prisão que essa, porque somos prisioneiros de nossas facetas, somos habilidosos em nos auto destruir. Aguçamos nossa mente a tal ponto que ela nos leva ao nosso extremo. Dédalo perdeu o filho e depois tentou matar o sobrinho porque era mais habilidoso que ele, e sua vaidade o envenenou.
Quando nos esquecemos da nossa essência para dar voz as nossas sombras, aquelas das quais fugimos o tempo todo, somos aniquilados pelo dedo do destino que é sempre implacável, ele nos prende por um tempo e nos sentimos ameaçados, fracos, inertes. Mas só porque não andamos, não significa que não estejamos em movimento. Só porque não vemos a lua não significa que ela não esteja no céu, só porque choveu não significa que não haja sol, sempre há! Mas nem sempre queremos ver além do óbvio!
Ver o que ninguém vê, ofício de poucos...sentir o que muitos desconhecem, entregar-se ao acaso seguindo o coração. Ter coragem de dizer sim quando todos acreditam que o melhor é não ir... Não voar alto demais por causa do sol e baixo demais por causa da umidade, mas sempre "voar"...seja para onde for, seja para cair tantas vezes forem necessárias...eu sempre escolherei voar, e por mais que caia no mar umas cem vezes e outras tantas por terra, nada nem ninguém vai impedir meu voo, porque eu sei exatamente onde quero chegar e com quero chegar...
É provável que caia em muitos labirintos criados por mim, mas com o passar dos anos a gente também vai ficando mais habilidoso na arte de escapar de si mesmo, porque quando queremos, somos nossos piores torturadores.
Agora voo com calma, já tive pressa, já tive impaciência, junto as penas, colo com cera, aprendi que perto do sol derretem, vou mais devagar, traço rotas de fuga, ando com pequenos "kits sobrevivência", caso me prenda em labirintos, agora quando caio neles, faço desenhos nas paredes, assim já sei por onde andei, não perco tempo repetindo passado, não me lanço no futuro...meu voo é plano, é contemplativo, é planejado!  Desafio o mar e as tempestades e se quiserem interromper meu voo e se lançar no meu caminho, terão que ter no mínimo a mesma força que eu, não luto mais com inimigos fracos e pequenos, que venham os grandes e poderosos, os respeito, mas já aviso, não desisto fácil, afinal sei o trabalho que dá juntar pena por pena para reconstruir minhas asas...poderíamos parar de perder tempo com lutas desgastantes e unicamente seguir, o céu é grande e há espaço para todos que sabem onde querem chegar...EU SEI!

Dédalo e Ícaro



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