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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Qualidade de Afeto

Foto Marcelo Alves

A gente passa um tempão da vida da gente, tentando ser o que não somos, fazendo o que não queremos e nos contentando com relacionamentos medíocres para encher as redes sociais de fotinhos "somos felizes, morram de inveja", fingimos orgasmos, dizemos "sim" quando na verdade o "não" quase explode na nossa garganta, comemoramos Natal e Ano Novo porque todos comemoram, o ciclo de vida mais hipócrita da face da Terra. Ah quem goste, eu não julgo ninguém se realmente, eu disse realmente, são felizes assim...
Eu sempre fui mais ousada, desde a infância! Eu era a menina que brincava e queria ser feiticeira, escrevia textos na escola e passava para os colegas analisarem (não professores) pois me importava com a plateia de verdade. Comecei cedo a fazer teatro (não para pintar o cabelo de rosa ou para extravasar minha opção sexual), porque amava a Arte mesmo! Quebrei muitos padrões, não casei na Igreja como meu pai queria e sempre escutei dele ("tu nunca vai realizar meu sonho de entrar na Igreja de braço dado contigo") casar assim, só no teatro! Não cursei administração, me separei três vezes quando o amor chegou ao fim, mesmo com filhas pequenas que estão super bem criadas e felizes, porque a mãe sempre foi verdadeira, faz o que fala, não finge... aí entra a qualidade do afeto.
O melhor de mim, guardo pra mim hoje! Meu melhor, minhas loucuras, minhas melhores ideias, minhas músicas repetidas que adoro dançar, estão todas na minha cabeça, cheia de grandes ideias...
Lembro cada um dos meus fracassos, talvez o melhor deles, uma crítica teatral escrita para um espetáculo meu em 2010 falando muito mal de mim e do meu trabalho. Na época chorei, mas lembro de ter sido elegante e escrito ao crítico agradecendo. Sempre fui humilde, nesse sentido. Continuo com o trabalho até hoje, mudei, testei, modifiquei e sempre que releio o que ele escreveu, dou risada e digo "putz, ele tinha razão em um monte de coisas".  Nós escolhemos quem nos destroe, nós escolhemos o que fazer com tudo de ruim que nos acontece. É aí que entra a qualidade do nosso afeto, que deve ser puro e transcendente com nós mesmos.
A condição humana, tão discutida por grandes autores teatrais, só aflorou mais e piorou. Se Beckett estivesse vivo hoje, morreria mesmo esperando "Godot", Shakespeare estaria em depressão, Tenessee estaria internado há tempos e por aí vai...nossa condição só piora porque a cada dia estamos preocupados em provar tanta coisa idiota aos outros e nos distanciamos de nós mesmos...
Até quando conseguimos mentir para nós mesmos? Até vir o infarto, a depressão, o suicídio? A tarja preta, o isolamento? Pecamos por arrogância, por um amontoado de medos idiotas, por desacatarnos a nossa integridade e nossa autoestima! Que vergonha de nós mesmos, eim?! Onde foi que nos perdemos? Onde foi que deixamos a rede social pontuar nossas vidas e esquecemos de simplesmente viver a vida (sou usuária das redes, estou aprendendo a usá-las somente para trabalho)...
Eu comecei há muito tempo a me despir das minhas angústias, dos meus medos, tenho coragem de dizer que amo, que quero beijar, que não gosto, que não senti nada, e não tem problema em falar a verdade quando usamos o "tom certo" sem querer agredir ninguém...
Sou mais eu, sou minha totalidade, aprendi a me tratar melhor, a ser mais querida primeiro comigo... Sou como sou, convivo comigo, me conheço melhor do que ninguém, então ninguém além de mim, sabe da minha história, dos meus tropeços, dos meus recomeços, das minhas vitórias... E todo amor que houver nessa vida, será pra mim com muita qualidade de afeto porque eu mereço, você merece, nós merecemos ser felizes, mas temos que ousar a fazer isso primeiro sozinhos!
Não tenha medo de ser quem é! Você não tem que agradar ninguém baby, não seja escravo da opinião alheia...
Eu parei com a mania de me apaixonar por quem não gosta de mim, decidi me apaixonar pela vida, pelo meu trabalho cada vez mais, pelas minhas filhas, pela minha casa, pelos meus amigos...e quem tem tanto amor para doar, não pode perder tempo esperando migalhas...


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