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quinta-feira, 12 de março de 2015

Quando é preciso parar...

Começo meu texto com uma breve citação de "Uma Estadia do Inferno" de Arthur Rimbaud, o único livro que o jovem publicou em vida, custeado por ele e pela mãe que vendeu pouquíssimos exemplares:

"Antigamente, se bem me lembro, a minha vida era um festim, onde se abriam todos os corações, corriam todos os vinhos. Uma noite, sentei a Beleza no meu colo - e a achei amarga. E a xinguei. Me armei contra a justiça. Fugi. Ó bruxas, ó miséria, ó ódio, meu tesouro foi confiado a vocês!(...) E a primavera me trouxe o medonho riso do idiota.
E ultimamente, estando quase ao ponto de dar minha última nota falsa!, pensei procurar a chave do antigo festim, onde reencontrarei talvez o apetite." 

Rimbaud realmente vivenciou o inferno, assim como outros poetas, diz a verdade, não são metáforas. O jovem poeta de uma grande obra literária escrita antes dos 20 anos de idade, assim como nosso poeta brasileiro Álvares de Azevedo. Uma força absurda da verdade que ele profere...

Quem nunca esteve preso em seus infernos pessoais? Decepções, desilusões, injustiças, dores, amores, absurdos sentimentos contraditórios, tempos que vem e vão...essas "descidas necessárias" ao inferno pessoal são grandes lições que com o tempo e a idade aprendemos a entender. Aprendemos que não vamos "partir ao meio" , que sobrevivemos, que resistimos, que é possível sim, seguir apesar das amarras... Para que carregar decepções, desafetos e desgostos por longos tempos se podemos descer ao nosso inferno e exorcisá-los?

Que mentiras devo falar? Que corações devo quebrar porque quebraram o meu? A quem vou arrendar-me para conseguir favores lucrativos? A quem vou atacar com minhas duras palavras? Sentamos e sufocamos?
É preciso parar...parar de ressecar a alma com atitudes tão impulsivas e baixas como essas... parar de ouvir os outros, parar de fazer o que é bom para os outros, parar de enganar-se, parar de odiar-se, parar de maltratar-se, parar de comprar guerras e levantar bandeiras que não são suas, parar de pisar na lama e fingir que está em jardim florido... parar...pára! Silêncio!

O meu inferno é cheio de espelhos, noite de inverno com vento forte (porque odeio ventos), uma única lâmpada pendurada, mal vejo meu rosto, há várias imagens minhas refletidas e elas me desejam secamente "boa sorte". Bilhões de trovoadas, sapos aparecem para meu maior pavor e não consigo lembrar...de nada...esse é meu maior pavor, meu inferno pessoal.

Não quero mais ter os olhos fechados, não quero mais ouvir todas as bobagens que ando ouvindo, não quero mais ler sobre a deficiência de caráter da atual natureza humana, sou bicho forte! Posso ser salva! Não quero ficar no meio desse povo  onde a loucura circula disfarçada de gente "cult", gente "descolada", gente "moderna"...em pensar que já admirei um pouco essa gente na minha vã ignorância das dores do mundo....

Minha felicidade vem em primeiro lugar pela verdade do meu trabalho, da energia que sempre coloco nele, desprezo pessoas que usam o trabalho como desculpa...não procuro consolo, nem devoção, nem fãs, nem admiradores...só faço meu trabalho! E sigo, caíndo e subindo do meu inferno com muita honra! Minha carga é pesada suficiente, não me dá tempo de bisbilhotar a carga alheia, não floresce em mim sentimentos de inveja, raiva ou egoísmo, aprendi a deixá-los presos nas bocas dos sapos do meu inferno... A vida tá virando farsa, mas e eu começo a ter "brancos", porque não consigo mais interpretar tais personagens...

Não quero estar nos círculos das "modas", não quero fazer o que todo mundo faz, não quero arte por pechincha, não quero atuar somente para dizer que subi ao palco, não quero dar aula para ser mais "uma professora", não quero me envolver para dizer "não estou sozinha", não quero ter um milhão de amigos, só os verdadeiros, não quero parecer feliz e por dentro estar decapitada, não quero raso, vivo de profundo!

Chega! Não vou me acostumar e como é ruim o som dessa palavra "acostumar"... não vou jamais me adaptar a isso. Não quero felicidade costumeira, quero felicidade na íntegra e simples, do jeito que ela sabe que gosto...bem simples na verdade...
Todo humano tem fraquezas, mas só o ser humano de verdade as admite e segue...
Eu só preciso parar de acreditar demais nas pessoas...




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